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“Não me venham com crepúsculo Que chego armado de auroras”

Ao 24 de janeiro: Não me venham com crepúsculo Que chego armado de auroras

Por: Tierra

Onde eles dizem paz,
Eu digo justiça

Onde exibem convicções
Exijo prova.

Onde impõem silêncio
Entoo canções.

Quando lustra algemas
Invento caravanas.

Onde defendem mercado,
Afirmo pátria

Onde dizem casta
Respondo classe.

Onde erguem o tribunal
Convoco a Praça.

Onde dizem ordem
Eu digo liberdade.

Não me venham com crepúsculo
Que chego armado de auroras
Para reacender as cinzas
Do nosso gasto coração.

Lula 131 lula.com .br 1

Sobre o autor

Hamilton Pereira da  (Porto Nacional1948), conhecido pelo pseudônimo de Pedro Tierra, é um poeta e políticobrasileiro[1][2].

Morou em Anápolis, onde completou o segundo grau mas abandonou os estudos para se dedicar à luta contra a ditadura militar, militando na Aliança Libertadora Nacional (ALN). Em 1972, aos 24 anos, foi preso e torturado em quarteis do Exército em Goiás e Brasília, onde era mantido incomunicável. Foi transferido para o DOI-Codi de São Paulo, em seguida para o Presídio do Barro Branco, da Polícia Militar paulista, e finalmente para prisões civis.

No período em que esteve preso, não tinha permissão para usar caneta ou papel. Um dia, porém, durante um interrogatório, aproveitando um intervalo em que havia sido deixado sozinho na sala, pegou um lápis que estava na mesa do interrogador. Na cela, usou-o para escrever no lado interno de um maço de cigarros. Começou assim a compor seus primeiros versos. Conseguiu enviar os poemas para fora do presídio, para serem publicados clandestinamente na Itália, sob o título de Poemas do da noite e com o pseudônimo de Pedro Tierra[3]. A obra ganhou menção honrosa no Prêmio Casa de las Américas de 1978, mas só foi publicada no em 1979.

Deixou a prisão em 1977 e passou a atuar na organização de sindicatos de rurais. Ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e a Central Única dos Trabalhadores. De 1997 a 1998, foi secretário de do Distrito Federal. Coordenou a área de cultura na campanha vitoriosa de Luís Inácio Lula da Silva em 2002. Trabalhou no Ministério do Meio Ambiente durante o primeiro mandato de Lula. Em 2011, voltou a comandar a Secretaria de Cultura do Distrito Federal[4].

Recebeu em 2013 o título de Doutor honoris causa da Universidade Católica de Brasília[5]

Em 2014, recebeu um novo título de doutor honoris causa. Dessa vez da Federal do Tocantins, UFT.

Fonte: Wikipedia

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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