Procura
Fechar esta caixa de pesquisa.
meio ambiente

Thomas Milz: Os riscos ao meio ambiente no governo eleito

Presidente eleito pode subordinar ações do Ministério do ao da Agricultura, o que prejudicaria ambos os setores, e usa “” para justificar possível saída do Acordo de Paris.

A natureza do Brasil é plena de superlativos: ela dispõe da maior floresta tropical, com uma excepcional e as maiores reservas de água doce do mundo. Além do mais, é gigantesco o potencial de energia eólica, solar e hidrelétrica, assim como de biomassa.

Esses tesouros naturais estarão agora ameaçados pelos mais altos escalões da ? Há anos o recém-eleito presidente Jair Bolsonaro vem criticando normas ambientais supostamente rigorosas demais, que atravancariam o setor agrícola. Agora eleito, ele promete dar fim à “indústria da multa”, que considera criminosa: “Vamos botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil. Vamos tirar o Estado do cangote de quem produz.”

O general Oswaldo Ferreira, que chegou a ser cotado para ministro da Infraestrutura, expressou nostalgia pelos tempos da : “Quando eu construí estrada [BR-163], não tinha nem Ministério Público nem Ibama […] Derrubei todas as árvores que tinha à frente sem ninguém encher o saco. Hoje, o cara, para derrubar uma árvore, vem um punhado de gente encher o saco”, disse ao Estado de S. Paulo.

Ministério na mira bolsonarista

Luiz Antônio Nabhan Garcia, presidente da União Democrática Ruralista (UDR) e colaborador próximo de Bolsonaro, exigiu a extinção do Ministério do Meio Ambiente e a subordinação da pasta ao da Agricultura: “Não podemos, um setor tão relevante para o Brasil, ser submetidos a perseguições ideológicas, a perseguições que levam a uma desestabilização do campo.”

Bolsonaro chegou a anunciar a fusão dos dois ministérios, mas voltou atrás porque a proposta não agradava nem o setor agropecuário nem os ambientalistas. Mas a subordinação das questões ambientais aos interesses do setor agropecuário parece certa no futuro governo.

“O que não pode mais acontecer é briga entre ministérios”, disse o presidente eleito. “E os problemas estão aí: a indústria das multas, e para você tirar uma licença ambiental não pode levar dez anos. Com essa forma xiita de tratar o meio ambiente, estou preocupado.”

eleito
No meio ambiente, Jair Bolsonaro segue passos de seu ídolo, Donald Trump

O ex-ministro do Meio Ambiente Rubens Ricupero se manifestou contra a fusão ministerial: “Qual seria a mensagem? ‘Nós queremos desmatar.’ Na maior parte dos casos, os problemas são a construção de hidrelétricas, construção de linhas de transmissão, alargamento de rodovias, abertura de ferrovias. Apenas 3% dos casos de licenciamento têm que ver com agricultura.”

Marcio Astrini, coordenador de políticas públicas do Greenpeace, declarou à DW que, por enquanto, é tudo especulação. “A única certeza que temos é que o Bolsonaro não quer um ministério forte, seja pela indicação de uma pessoa que não é da área, seja pela fusão do ministério. Mas parece que o objetivo dele, independentemente do caminho que for tomar, é enfraquecer o Meio Ambiente.”

Adriana Ramos, da ONG Instituto Socioambiental (ISA), vê a questão de modo semelhante: “Há uma visão de que o meio ambiente é um problema, de que cumprir as regras ambientais é um impeditivo ao desenvolvimento, e não só na área de agricultura, mas também em outras.”

Na onda das notícias falsas

No entanto, agricultura e meio ambiente poderiam se beneficiar mutuamente, afirma Astrini. “Tem mais espaço para a agricultura sem precisar desmatar. Com a quantidade de área já desmatada que não é utilizada, o Brasil pode dobrar a área plantada, sem precisar desmatar mais nada.”

Mesmo entre os agricultores e pecuaristas há preocupação com a imagem do Brasil no exterior. “Para exportar uma série de produtos agrícolas, o Brasil precisa atender aos mercados internacionais que exigem a garantia de que aquele produto não está envolvido em desmatamento. Mais desmatamento afeta nossa economia, além de afetar nosso meio ambiente”, diz o representante do Greenpeace.

Bolsonaro coloca igualmente em cogitação a saída do país do Acordo do de Paris, por trás do qual ele vê a intenção de roubar dos brasileiros a soberania sobre a Região Amazônica.

“Eu sei que o [corredor] Triplo A está em jogo. Uma grande faixa que pega dos Andes, passa pela e vai até o Atlântico, de 136 milhões de hectares, estaria não mais sob nossa jurisdição, mas sob a jurisdição de outro país. Nós poderíamos abrir mão da nossa Amazônia?” Só se essa cláusula for eliminada, diz Bolsonaro, o Brasil permanecerá no tratado do clima.

Ambientalistas se espantam por Bolsonaro engolir fake news como essas – esse corredor não está previsto no Acordo de Paris. “Só ele pode explicar de onde tirou essa ideia”, comenta Astrini. “Esse assunto nunca existiu. Me parece um desconhecimento, me parece mais preconceito e desinformação.”

Na realidade, o país ganha com as conferências do clima, afirma. “O Brasil pode pressionar os países envolvidos a trazer soluções. Se o Brasil sair, não faz mais essa pressão e não acessa mais os fundos que resultam dessas negociações. E dá as costas para o planeta.”

Nos rastros de Trump

Ricupero considera os planos de saída uma “estupidez homérica”. Pois, com a atual crise econômica, o país já quase cumpriu as reduções de emissões carbônicas acordadas para 2025. Astrini supõe que Bolsonaro esteja seguindo o exemplo de seu ídolo declarado, Donald Trump, que já anunciou a saída do Acordo de Paris. Mas “está copiando a política errada” e “não há mérito algum em copiar os erros dos outros”.

Bolsonaro prometeu, ainda, uma abertura das reservas naturais e em favor da agricultura e da mineração. “Isso dá incentivo para o desmatamento crescer no “, alerta Astrini.

Ramos, da ISA, prevê uma ampla frente de resistência, desde associações indígenas e ambientalistas até o Supremo Tribunal Federal, contra tais planos, os quais “vão afetar o chamado usufruto exclusivo dos territórios indígenas pelos indígenas, conforme previsto na “.

No geral, os planos do presidente eleito parecem pouco amadurecidos para a ambientalista, para quem trata-se de “anúncios feitos muitas vezes intempestivamente, não tem nada de concreto, no papel”.

Astrini espera que Bolsonaro não concretize suas promessas, que na verdade são ameaças: “Para o bem do meio ambiente, para o bem da Amazônia, da economia do país, dos povos que dependem da floresta para viver, como os povos indígenas, espero que ele não cumpra o que prometeu.”

ANOTE AÍ

Fonte: Deutsche Welle

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

posts relacionados

REVISTA