A EDUCAÇÃO VOLTOU
Por Camilo Santana
Vivemos recentemente tempos muito sombrios, em que o Brasil foi violentamente negligenciado nas suas mais importantes áreas, e a educação, sem dúvida, foi uma das mais atingidas (…).
A educação foi tratada como subproduto, ainda mais na pandemia, quando mais precisou de apoio do governo federal e mais foi esquecida (…).
Mais de 650 mil crianças de até 5 anos de idade abandonaram a escola nos últimos três anos. No mesmo período, cresceu 66% o número de crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler nem escrever na idade certa. A última avaliação feita pelo Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) mostra que apenas uma a cada três crianças é alfabetizada na idade certa. Ou seja, a maioria é analfabeta dentro da própria escola, o que provoca graves repercussões na sequência da vida dessas crianças (…).
Vamos imediatamente garantir a qualidade da merenda escolar nas escolas públicas brasileiras. Essa é uma determinação do presidente Lula. E já pedi um levantamento de todas as obras que estão paralisadas, sejam creches, escolas, universidades, campi. Para garantir a retomada imediata dessas obras tão importantes para os jovens e as crianças desse país. Vamos resgatar também a credibilidade do Enem (…).
Encerro [este discurso de posse] com uma frase de Paulo Freire, que inspirou tantas e tantos educadores nesse país: “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam em comunhão”.
Muito obrigado, e vamos ao trabalho.
COMPROMISSOS DO MINISTRO CAMILO SANTANA COM A EDUCAÇÃO:
COMPROMISSOS DO MINISTRO CAMILO SANTANA COM A EDUCAÇÃO:
- Priorizar a alfabetização na idade certa.
- Garantir mais escolas em tempo integral.
- Recuperar a qualidade da merenda escolar.
- Retomar a construção das creches e escolas que estão paradas pela falta de repasses de recursos pelo governo federal.
- Recuperar a credibilidade do Enem.
- Retomar o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e o ProUni (Programa Universidade para Todos).
- Garantir mais autonomia para as Universidades.
- Investir mais recursos em Ciência e Tecnologia.
- Negociar mais recursos no orçamento nacional para a Educação.
Camilo Santana – Engenheiro agrônomo, professor, Ministro da Educação. Excertos do seu discurso na cerimônia de posse como Ministro de Estado, em 2 de janeiro de 2023, editado por limitações de espaço. Confira o texto na íntegra em: https://www.gov.br/
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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