A ELIZABETH TEIXEIRA

 A ELIZABETH TEIXEIRA

 A ELIZABETH TEIXEIRA

Em 13 de fevereiro deste ano de 2025,

celebramos os 100 anos de vida de Elizabeth Teixeira,

a grande guerreira da luta pela Terra no Brasil,

Viva Elizabeth Teixeira!

Por Alder Júlio Calado

Nossas lutas por Reforma

Têm mais de quinhentos anos

Indígenas, Negros, Camponeses

Pelejaram contra insanos

Desde os anos de quarenta

Nossa Gente então enfrenta

Do sistema tristes planos

Num tempo de intensas lutas

Por reformas radicais

Nossas Ligas Camponesas

Nos orgulham muito mais

Esse Movimento forte

Do sistema quer a morte

Pois quer terra, pão e paz.

 

No ano de vinte e cinco

Nasce Elizabeth da Costa

Seu pai, um proprietário

Nesta filha não aposta

Pois queria um filho macho

E seu sonho foi abaixo

A menina, a resposta…

 

A menina foi crescendo

Intrigada com a fartura

Contrastando fortemente

De agregados vida dura

A menina, pensativa

Sua consciência ativa

De ver isto, não atura

 

Conhecendo os sentimentos

De sua filha generosa

Seu pai logo a proíbe

Visitar ou ter mais prosa

Junto com as moradoras

Fossem pretas, fossem louras

Ô que vida desditosa!

 

Quanto mais a proibia

Solidária mais ficava

De sua casa ia levando

Roupa, farinha, fava

Acudindo as criancinhas

Que lhe eram tão vizinhas

Seu pai nem adivinhava…

 

A criança revelou-se

Pelo estudo apaixonada

Pretendia ir muito além

De leitura e tabuada

Mas seu pai não lhe permite

E lhe impõe grande limite

Quer a filha controlada…

 

Na bodega, era mais útil

Despachando a freguesia…

Foi aí que se engraçou

De um moço que contraria

Os caprichos do seu pai.

Com João Pedro casar-se vai

Seu pai os perseguiria…

 

Diante das circunstâncias

Que enfrentam com seu tio

Vão morar longe, em Recife

Em lugar mais arredio

E trabalho duro assume

Da dureza tem costume

Vão chegar mais desafios

 

Da luta mais conscientes

Depois desses nove anos

Curtem o sonho de voltar

À terrinha, com mil planos

De criar um sindicato

Que cuidasse, de imediato

Dum sofrer tão desumano…

 

Quando a Liga foi criada

Como tinha boa escrita

Elizabeth ajudava

Por justiça também grita

Ao lado dos companheiros

Mas também dos seus herdeiros

Bem cuidava, embora aflita

 

Latifúndio a farejar

Quem ousasse dizer NÃO

Aos esquemas de chacina

De penúria, do cambão

Que João Pedro denuncia

E com a vida pagaria

Mulher, filhos sofrerão!

 

Ao martírio de João Pedro

Segue-se o de Elizabeth

Um rosário de problemas

A polícia pinta o sete

Seus filhos, traumatizados

Revolta por todo lado

“Segue a luta” – ela promete!

 

Em memória de João Pedro

E de outros já tombados

Se faziam todo mês

Atos públicos – muitos brados!

Elizabeth presente

Vem o Golpe, de repente

Camponeses são caçados…

 

Foi terrível a violência

Que do Golpe se arrecada: Elizabeth Teixeira

Prisões, mortes e torturas

Sua família destroçada Elizabeth Teixeira

Ela tem que se exilar

Ficar longe do seu lar

Quinze anos sem ver nada…

 

Seu exílio – São Rafael

Enfrentou com valentia

Lavadeira, professora

De tudo ela padecia

Mas, enfim, sobreviveu

Reencontra filhos seus

Só depois da Anistia.

ALDERAlder Júlio – Professor, Pesquisador, Educador Popular, Poeta e Militante das causas sociais. Edição: Maria Franco. Poema publicado nas redes sociais no ano de 2011.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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