A herança maldita do bolsonarismo

A herança maldita do

Parte das novidades vai ser incorporada por quem vier, ainda que seja oposição

Por Christian Lynch/Portal Vermelho

Bolsonaro provavelmente sai da presidência ano que vem. Mas vai deixar uma herança maldita que vai durar muito .
Elenco aqui cinco pontos.
1. Criou, pela introdução de uma  autoritária, um novo nicho político ao dar um banho de loja no velho patrimonialismo centrônico, requentando o discurso integralista (Deus, e Família).
2. Criou um novo “modelo de negócios”, o cafetinismo democrático, que passa por explorar o ódio à por meio da mentira. Modelo que sustenta a política autoritária no congresso e nas redes, além da jovem pan, capaz de monetizar bastante.
3. Criou um método de aparelhamento administrativo, destrutivo das práticas republicanas, pela cooptação dos desclassificados e ressentidos na administração, e pela intimidação dos bons e capazes. Agora ele tem o seu “pessoal” junto aos militares, policiais federais, procuradores e juízes, prontos para vazar informações e sabotar investigações contra a sua quadrilha.
4. Criou agora com a ajuda de Lira o suborno coletivo de congressistas pelo orçamento secreto, que vai ficar com umas pinceladas de transparência.
5. Criou laços fortes com a Internacional Fascista de Trump, Orban, Erdogan e caterva, para fazer o intercâmbio da populista antidemocrática e financiamento auto-alimentado de negócios escusos
Tudo isso vai ficar. Parte das novidades vai ser incorporada por quem vier, ainda que seja oposição. E a quadrilha Bolsonaro ainda entregará o país em petição de miséria para dificultar o do sucessor e acusá-lo com sua bancada engordada de Weintraubs, Camargos e Frias.Ver também
Ficarão à espreita para voltar, como Trump e sua gangue. Para eles, a derrota ano que vem será uma batalha perdida, apenas. Porque como diz o Teitelbaum, para eles, a é pela eternidade.
As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião da

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desesperodebolsonaroebolsafamiliaFotomontagem feita com as fotos de: Marcos Corrêa/PR

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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