A Justiça voltou
Meus companheiros e companheiras, nós que somos adeptos da religião do caminho, aprendemos que Jesus Cristo, ao fazer o sermão da Montanha, acentuou que são bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. E nas Sagradas Escrituras, antes de Jesus Cristo, no livro de Isaías, está escrito que a paz verdadeira é fruto da justiça.
Por Flávio Dino
Portanto, senhoras e senhores, ao ser investido na condição de Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública, num momento tão difícil da nossa Pátria, quero acentuar sobretudo que este será o Ministério da Paz, o Ministério da Pacificação nacional, da busca da paz verdadeira, que é fruto da Justiça para todos e para todas. Paz, contudo, com conteúdo, com prioridades, com eixos que são vitais para que nós possamos autenticamente falar nesta paz verdadeira.
- Combate às desigualdades.
- Proteção à Constituição.
- Defesa da democracia.
- Controle de armas.
- Combate aos crimes ambientais.
- Direitos digitais.
- Direito ao consumo.
- Cooperação federativa.
São algumas prioridades, meus colegas de governo, que fazem com que todas as senhoras, todos os senhores, a esta altura, pensem: “que bom que o presidente Lula não me nomeou para o Ministério da Justiça”. É tudo isso e mais alguma coisa. (…)
Uma palavra especial aos policiais do nosso país: Nós queremos que todos e todas se somem aos nossos esforços, não existe segurança pública com cidadania, não existe segurança pública compatível por direitos humanos, sem a participação das polícias e dos agentes públicos de modo geral, não pode existir antinomia entre a nossa visão política de estruturação da paz e a ação policial. Pelo contrário, nós queremos que todos e todas as policiais no nosso país considerem esse ministério como seu. Não importa o voto de ontem ou o voto de amanhã, o que importa é o cumprimento do dever funcional de acordo com os ditames da lei e da hierarquia e da disciplina.
Concluo com um elogio, agradecimento à minha equipe, todos que aqui estão, todas que aqui estão, muito obrigado por vocês terem aceitado essas missões. São múltiplas, são aparentemente impossíveis, mas que bom que assim são, porque é isso que dá sabor à vida.
Muito obrigado por vocês compartilharem este desafio nesta hora presente, nós vimos ontem como o mundo olha o Brasil, e o mundo, ao olhar a nossa Pátria, ao olhar o presidente Lula, olha também a construção das políticas públicas que aqui faremos. (…)
Não há lição ética mais importante para agentes políticos e servidores públicos e servidoras públicas. Nós não somos poder, nós somos serviço, o serviço da Pátria, serviço à população brasileira, sobretudo, aos que mais precisam.
Flávio Dino – Advogado, professor, ex-magistrado. Ministro da Justiça e Segurança Pública. Excertos do seu discurso na cerimônia de posse como Ministro de Estado, em 2 de janeiro de 2023, editado por limitações de espaço. Confira o texto na íntegra em: https://www.gov.br/
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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