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A palavra ”açúcar” vem do árabe ”as-sukkar”. Por que?

Por que a palavra ”açúcar” vem do árabe ”as-sukkar”?
Por Victor Peixoto/História Islâmica
 
A substância que popularmente conhecemos como “açúcar’’ começou a ser produzida para o consumo humano nas regiões quente-úmidas da Índia por volta do primeiro século a.C. Lá também foram iniciadas as primeiras formas do refinamento do caldo da cana para fabricação do pó de açúcar ou ‘’śarkarā’’ em sânscrito, que era então consumido para propósitos medicinais.
 
Os gregos e romanos antigos também sabiam da existência do açúcar, e podemos vê-lo sendo descrito pelo grego Dioscorides como uma rara especiaria do oriente, que podia ser utilizada para remédios. Porém, no Ocidente, sua produção era inexistente, e o acesso ao açúcar inimaginável, visto que, tal como todas as especiarias do Oriente, era caríssimo, e naquela parte do mundo, o maior adoçante continuou a ser o mel até o século XVI.
Até que a partir do advento islâmico nos primeiros contatos com a Índia no século VIII, os mercadores árabes começaram a importar não só o subproduto do vegetal, como também as rudimentares técnicas de refinamento, melhorando-as imensamente, com moinhos e refinarias mais produtivas e de melhor qualidade com as tecnologias desenvolvidas pelos polímatas islâmicos da época.
A planta da cana-de-açúcar, que é nativa de um clima tropical, requer muita água e calor para crescer O cultivo da planta se espalhou por todo o mundo islâmico medieval via os novos métodos de irrigação artificial. A cana-de-açúcar foi cultivada extensivamente no sul da Europa medieval durante o período de domínio muçulmana na Sicília, começando por volta do século IX. Além da Sicília, Al-Andalus (no que atualmente é o sul da Espanha) foi um importante centro de produção de açúcar, começando no século X.
Lá, os diversos povos islamizados árabes, berberes, persas, andaluzes e egípcios começaram a criar novos usos para o açúcar, passando dos medicinais para o consumo humano através de doces, chás, sucos e outros alimentos que poderiam ter a substancia adicionada, produzindo um sabor mais potente que o mel, e tornando-se uma febre no Oriente islâmico.
Séculos mais tarde, após invasão do Levante pelos Cruzados em 1099, estes trouxeram consigo para a Europa o “sal doce dos árabes’’, e foi a partir daí que o sakkar do sânscrito passou do árabe as-sukkar para os idiomas europeus como açúcar (português), sugar (inglês), azúcar (espanhol), zucker (alemão), sucre (francês) etc.. todos termos derivados do árabe.
No início do século XII, Veneza adquiriu algumas aldeias perto de Tiro e estabeleceu propriedades para produzir açúcar para exportação para a Europa, onde suplementou o mel como o único outro adoçante disponível. O cronista da cruzada Guilherme de Tiro, escrevendo no final do século XII, descreveu o açúcar como “um produto muito precioso, muito necessário para o uso e a saúde da humanidade”.
Foi a partir deste período que as primeiras moendas de açúcar começaram a se popularizar gradativamente em território controlado por europeus, fazendo uso das tecnologias de produção de refinamento dos muçulmanos. O primeiro registro de açúcar em inglês é do final do século XIII.

“Muitos feudos no Outremer levantavam dinheiro da indústria ou do comércio ao invés da agricultura, como na Europa Ocidental. Entre os mais ricos estavam feudos-monetários que incluíam engenhos de processamento de açúcar. Esta tecnologia foi copiada dos povos islâmicos no Oriente Médio mas, diferente dos seus vizinhos muçulmanos, a elite latina do Outremer frequentemente usava trabalho escravo para mover a pesadas prensas de pedra. Entre esses escravos estavam incluídas mulheres muçulmanas capturadas”. (NICOLLE, David. Knight of Outremer 1187 – 1344 AD. Sussex: Osprey Publishing, MAA 018, p. 58.)

O volume das importações aumentou nos últimos séculos medievais, conforme indicado pelas crescentes referências ao consumo de açúcar nos escritos ocidentais do final da Idade Média. Mas a cana-de-açúcar continuou sendo uma importação cara única da Ásia islâmica.
Seu preço por libra na Inglaterra dos séculos XIV e XV era quase tão alto quanto as especiarias importadas da distante Ásia tropical, como noz-moscada, gengibre, cravo e pimenta, que precisavam ser transportadas através do Oceano Índico naquela época.
A partir de meados do século XV, o açúcar começou a ser plantado nas novas posseções espanholas nas Canárias, e também começou a ser utilizada a mão de obra escrava africana para sua custosa produção, tanto nos territórios insulares como na própria Castela.
Com a descoberta das Américas em 1492, e a percepção de que o vegetal conseguiria ser plantado facilmente no solo tropical do Caribe e América do Sul, a febre do açúcar transformou-se na base econômica social do Novo Mundo por séculos, e foi o principal propulsor do tráfico negreiro transatlântico, que traria a mão de obra para a produção do açúcar, que em parte também eram muçulmana.

Capa: USP

Bibliografia:

-Sato, Tsugitaka (2014). Sugar in the Social Life of Medieval Islam. BRILL. p. 01.
-Galloway, J. H. (2005-11-10). The Sugar Cane Industry: An Historical Geography from Its Origins to 1914. Cambridge University Press.
Carmen Trillo San José and Gari Amtmann, ‘Un castillo junto al río Laroles: ¿Šant Afliy?’, AyTM, 8 (2001), 305-23 (p. 309).
Salobreña: Rutas y senderos / Countryside Paths and Walks, ed. by Juan Manuel Pérez, trans. by Deborah Green (Salobreña: Ayuntamiento de Salobreña, 2009), pp. 9-10.
Ponting, Clive (2000). World History: A New Perspective. London: Chatto & Windus.
Barber, Malcolm (2004). The two cities: medieval Europe, 1050–1320 (2nd ed.). Routledge. p. 14.


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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