"A poesia que trago é dura como o coco que eu quebro"

“A poesia que trago é dura como o coco que eu quebro”

Atualizada:
“A poesia que trago é dura como o coco que eu quebro”

Lília Diniz

 
De Pau D´Arco 
A poesia que trago
é dura como o coco que eu quebro
Dura
pelo que trago nas mãos
uma cuia de sonhos remendados
um cofo de esperança sangrando
um jacá de desejos peados
 
Prenhe vou resistindo
acreditando que atrás da cerca do latifúndio
as pindobas cantam
e as velhas palmeiras assoviam
uma canção de liberdade
Lília Diniz (Tuntum/MA). Poeta e atriz brasileira, formada em Artes Cênicas, pela Universidade de Brasília (UnB) e pós-graduada em Gestão Cultural. É a autora de Babaçu, Cedro e outras poéticas em TramasMiolo de pote da cacimba de beberSertanejaresAo que Vai ChegarMula sem Cabeça e Mundo de Mundim. Membro da Academia Imperatrizense de Letras e da Academia de Letras do Brasil Seccional – DF. Leia mais da/sobre a artista em: liliadiniz
 

Fonte: Facebook


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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