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A quem interessa a privatização do PARNA JERI?

A quem interessa a privatização (concessão por trinta anos) do Parque Nacional de Jericoacoara-PARNA JERI?

A vila de Jericoacoara, uma das praias mais visitadas do , situada no litoral oeste do do Ceará, conta hoje com uma população aproximada de 5.000 habitantes e mais de 300 pousadas para hospedagem de turistas e visitantes. Pertence ao município de Jijoca de Jericoacoara e para acessá-la, por , é preciso transitar pelo Parque Nacional de Jericoacoara-PARNA JERI, Unidade de criada em 2002 e administrada atualmente pelo Instituto -ICMBio…

Por Sérgio Remaclo Lima de Oliveira

Recentemente, ocorreram duas audiências públicas visando a concessão do Parque para a iniciativa privada por trinta anos: uma na localidade do Preá e outra na sede do município de Jijoca (Câmara Municipal), esta última, que contou com a participação de cerca de 40 pessoas, sob a alegação de que a internet em Jeri era muito instável. Cabe ressaltar que no apagar das luzes do governo golpista de Michel Temer, em 2018, foi realizada audiência pública com o mesmo objetivo no Polo de Atendimento à Criança e ao Adolescente, em Jericoacoara, com a presença de mais de trezentas pessoas que acabou resultando na suspensão do processo.

Por último, o atual processo de concessão foi aprovado pelo TCU-Tribunal de Contas da União, entrando na fase final que corresponde ao lançamento do edital de licitação. Segundo o Diário do Nordeste de 25/11/2022, o processo demandará da ordem de R$ 1,2 bilhões. Estes investimentos terão aporte do BNDES.
A propósito, é importante ressaltar que em 2021, o PARNA JERI foi a terceira Unidade de Conservação mais visitada no Brasil, com aproximadamente 1.700.000 visitantes, e que a concessão em questão prevê a cobrança de ingressos para acesso ao Parque e, consequentemente, à vila de Jericoacoara, de forma escalonada:

– R$ 50,00 no primeiro ano de concessão;
– R$ 70,00 no segundo ano;
– R$ 90,00 no terceiro ano;
– R$ 110,00 no quarto ano; e
– R$ 120,00 a partir do quinto ano.

Se levarmos em consideração, o total de turistas/visitantes em 2021, conforme acima mencionado, resultará numa bruta total no montante de 5,8 bilhões de reais.
Cabe salientar que a Vila de Jericoacoara é o principal destino turístico no para pessoas solteiras, segundo o jornal O , de 18/07/2018.

Daí, podemos depreender que tem muito “lobo sedento” nesta generosa “fatia do bolo”.

Para entendermos a importância estratégica de Jericoacoara para a indústria do turismo, em função da total falta de controle da “capacidade de carga” local, está sendo implantada, sem consulta prévia à comunidade, a expansão das redes de abastecimento de água e esgoto (sob responsabilidade da CAGECE-concessionária pública estadual) com a previsão, para a rede de esgoto, da instalação de um emissário submarino com cerca de 2 km de extensão, mar adentro. Além dos problemas acima, Jeri vem sendo frequentemente afetada por instabilidade no fornecimento de energia elétrica, de competência da ENEL (concessionária privada italiana).

Isto posto, concluímos que não é possível a continuidade desta ingerência em todas as esferas de poder (federal, estadual e municipal), visando exclusivamente o aspecto financeiro, em detrimentos de fatores sociais, políticos e culturais, o que acaba resultando numa prática turística extremamente predatória que afeta sobremaneira o convívio social, pois se baseia essencialmente em relações de consumo.

A nós não cabe tão somente o exercício da crítica a este processo de privatização do PARNA JERI. É preciso, necessário e URGENTE construir contrapontos a essa total falta de transparência e descaso com a comunidade local e também com o meio ambiente que compõe o Parque Nacional.

Para tanto, propomos, ao invés da concessão do Parque à iniciativa privada, a constituição de Parceria Público Privada-PPP com todos os entes e agentes envolvidos (poder público federal, municipal e estadual; associações de moradores, Conselho Comunitário de Jericoacoara; Conselho Empresarial de Jericoacoara; associações e cooperativas de transporte, entre outras) para efetivamente gerenciar o PARNA-JERI de forma responsável e, principalmente, sustentável.

Finalmente, em função da atual gestão federal estar em final de mandato e diante da possibilidade concreta da assunção a partir de primeiro de janeiro de 2023 de uma gestão socialmente, economicamente e ecologicamente mais responsável, solicitamos a imediata suspensão do processo de concessão à iniciativa privada do PARNA JERI.
Por uma mais humana, mais justa e sustentável.

Sérgio Remaclo Lima de Oliveira
Ativista ambiental e cultural residente na Vila de Jericoacoara.

https://xapuri.info/se-nao-e-amigo-de-cachorro-boa-pessoa-nao-e/

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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