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A voz – e a força – das mulheres indígenas no combate e prevenção de incêndios

A voz – e a força – das indígenas no combate e prevenção de incêndios

Encontro inédito reuniu cerca de 50 mulheres brigadistas de quatro povos indígenas para trocar experiências e discutir ações de manejo integrado do fogo.

Por Duda Menegassi/ O Eco

Mulheres indígenas que atuam em brigadas voluntárias de quatro povos diferentes da Legal uniram-se para trocar experiências no combate e prevenção de incêndios e compartilhar conhecimentos sobre o uso cultural e tradicional do fogo em suas terras. O evento ocorreu na Terra Indígena Krikati, no , entre os dias 7 e 9 de novembro e reuniu cerca de 50 mulheres brigadistas florestais dos povos indígenas: Apinajé, Gavião, Krikati e Xerente. A proposta do encontro, realizado pela primeira vez, foi fortalecer o papel das mulheres nas brigadas e compartilhar iniciativas de ambiental e manejo integrado do fogo.

O 1º Encontro de Mulheres Indígenas Brigadistas Florestais foi promovido pelos Grupos de Mulheres Indígenas Brigadistas Apinajé, Awkê/Xerente, Gavião e Krikati, Articulação das Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA), Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo/Ibama), Serviço Florestal dos (USFS), com apoio da Agência dos Estados Unidos para o Internacional (USAID) e parceria do Fundo Casa Socioambiental.

O evento reforçou a importância da união das mulheres das brigadas voluntárias, ainda que distantes geograficamente, de inspirar e fortalecer umas às outras. “Eu via as Xerente na internet contando sobre a brigada delas. Isso nos inspirou. Eu era coordenadora da AMIMA [Associação das Mulheres Indígenas do Maranhão] e abracei a causa. Esse encontro de mulheres é um avanço nesta luta para somar aos homens, trabalharmos de igual para igual. Estamos trabalhando cada vez mais para fortalecer a luta das mulheres indígenas”, relata a vice-coordenadora da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA), Maria Helena Gavião.

O encontro ajuda a reforçar o papel das mulheres na implementação do manejo integrado do fogo, como estratégia de prevenção aos incêndios. “Muitas mulheres tiveram que enfrentar os maridos, por eles não entenderem muitas vezes que é importante ir mostrar o e conversar com outras mulheres”, continua a vice-coordenadora da COAPIMA. 

De acordo com ela, a proposta é tornar o encontro anual e expandi-lo para agregar outros povos indígenas e grupos de mulheres comunitárias tradicionais, como quilombolas e extrativistas. Durante o evento, as brigadas de cada um dos quatro povos também planejaram as ações para 2024, que incluem propostas de capacitação, construção de viveiros e a criação de material didático na língua de cada .

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O 1º Encontro de Mulheres Indígenas Brigadistas Florestais foi realizado na Terra Indígena Krikati, no Maranhão e contou com a participação do Prevfogo/Ibama e da FUNAI. Foto: Pepyaka Krikati/COIAB/ COAPIMA

​​“As mulheres têm um trabalho de prevenção e de educação ambiental. Quando vamos às escolas falar para as sobre nossa rotina e como devemos cuidar do meio ambiente elas ficam motivadas. Ao contar as histórias, já ouvi de algumas que elas querem ser como nós quando crescerem. Isso é emocionante”, explica a brigadista indígena Ana Shelley Xerente, hoje contratada pelo Prevfogo/Ibama.

Segundo informações do Ibama, as brigadas do PrevFogo contam com 94 mulheres, sendo 32 indígenas – o equivalente a cerca de um terço da na organização. E um bom caminho para aumentar essa participação é justamente a partir das brigadas voluntárias.

“Eu quero lutar pelo meu povo, pelos povos indígenas do Brasil. Nós mulheres brigadistas voluntárias nos sentimos fortes, inspiradas, com um olhar amplo, para garantir o futuro das outras gerações também. É um orgulho para nós estarmos ocupando um lugar onde queremos estar”, destaca Rose Krikati, a mais jovem da brigada, com apenas 18 anos, que desde os 14 já se envolve nas discussões sobre prevenção e combate aos incêndios.

Duda MenegassiJornalista. Fonte: O Eco. Foto: Pepyaka Krikati/COIAB/ COAPIMA.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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