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Afinal, o que é Ecofeminismo?

Afinal, o que é Ecofeminismo?

Por Vanessa Lemgruber

Pachamama, Gaia, Mãe Terra, Onilé. Com certeza você já ouviu esses nomes longo da sua vida.

O ecofeminismo também estuda essas associações do feminino com a natureza, mas problematiza além, abordando aspectos práticos no cotidiano e em políticas públicas.

A primeira a utilizar esse termo foi pela filósofa francesa Françoise d’Eaubonne em 1974. Conforme ela afirmava em seus livros, todo movimento de mulheres desaguaria na defesa ambiental, e que todo movimento ambientalista se associaria na defesa dos direitos das mulheres. Em claro português: essas perspectivas precisam se juntar.

Mas por que ela dizia isso? Ou melhor, por que várias mulheres ecofeministas mantém essa afirmação?

Assim como uma mesma moeda tem duas faces, nossa resposta a essa questão também. Por um lado, as mulheres foram socialmente ensinadas a realizar os serviços não remunerados de cuidado, tais como a manutenção do âmbito doméstico e da Terra enquanto casa comum, no manejo das águas e na busca por alimentos de qualidade. E, de outro lado, na ocorrência de desastres ambiental, são elas quem sofrerão mais severamente as consequências das enchentes, das mudanças climáticas, do uso inadequado de pesticidas.

Conforme relatório da Organização das Nações Unidas de 2014, quase 80% da produção de alimentos orgânicos de países subdesenvolvidos são produzidos por mulheres na agricultura. Porém, nem 13% delas são proprietárias da terra. Ou seja, apesar de exercerem o ofício, os referenciais masculinos que obtém o lucro, enquanto o nome
delas permanece invisível.

A pesquisa feita pela Fundação Heinrich Böll e divulgada por meio da publicação do Atlas do Plástico em 2020 igualmente demonstra situação desfavorável às mulheres, cujo contato com tais substâncias é mais grave, tanto por questões biológicas quando de socialização cultural.

Quanto ao aspecto biológico, o corpo feminino é mais sensível a toxinas químicas advindas do contato com o plástico durante a gravidez, porque contém naturalmente mais gordura do que o masculino e acumula substâncias solúveis em óleo como os plastificantes utilizados no PVC.

Microplásticos já foram encontrados dentro da placenta humana e o contato pode desregular o sistema endócrino e gerar complicações. Quanto à socialização cultural, mulheres são ensinadas a manter uma rotina de beleza que as coloca diretamente em contato com toxinas.

Para citar um exemplo mencionado pela Fundação Heinrich Böll, os absorventes plásticos descartáveis, facilmente substituíveis por versões não só mais ecológicas para o planeta, mas também para o próprio corpo.

Ruins para o planeta, pois, durante a média de anos de menstruação, são produzidos cerca de 150kg de lixo que acaba em sistemas de esgoto, fontes de água e aterros sanitários. Ruins para o corpo, pois podem causar
alergias, irritações e intoxicações.

Bem. Agora que entendemos o porquê da aproximação necessária dos movimentos ambientais e feministas, o que exatamente propõe o ecofeminismo?

O pensamento ecofeminista propõe que as causas dos maus-tratos às mulheres e ao meio ambiente surgem do mesmo lugar, qual seja, a cultura patriarcal assentada em valores universalistas de dominação, exploração, guerra e conquista. Ora, a imagem deturpada de um homem viril nos leva a imaginar uma pessoa que domina e impõe.

Em outras palavras, a visão ecofeminista de mundo propõe a interconectividade, abordando a subjugação das mulheres sob a mesma égide da depredação ambiental, no reconhecimento de injustiças e de
tratamentos marginalizantes.

Ficou curiosa para saber mais? Reencontramo-nos em breve em mais um texto. Até!

Vanessa Lemgruber é mestra em direito e advogada. Autora do livro pioneiro no Brasil “Guia Ecofeminista – mulheres, direito, ecologia” (editora Ape’Ku/2020). Instagram @ecofeminismo.vanessalemgruber. A obra pode ser adquirida diretamente com a autora ou na Amazon https://amzn.to/3qiKAYm

Imagem interna: Modefica. Capa: Abraço Cultural. 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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