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Alessandra Munduruku vence o “Nobel Verde” do Meio Ambiente

 
Por Rafael Faustino/ Um Só Planeta
 
A líder brasileira Alessandra Korap Munduruku foi uma das vencedoras da edição de 2023 do Prêmio Goldman de Meio Ambiente, um dos mais conceituados internacionalmente para reconhecer ações de ativismo ambiental.
 
Alessandra foi reconhecida pela campanha que ela liderou junto ao povo Munduruku contra os planos da mineradora Anglo American de realizar pesquisas de mineração em Terras Indígenas no Mato Grosso e no Pará.
 
Em 2021, a mineradora desistiu dos 27 requerimentos que já tinha aprovado junto à Agência Nacional de Mineração, após diversas ações de protesto que também tiveram a participação da Apib (Articulação dos do Brasil), Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Brasileira) e Amazon Watch. Muitos dos requerimentos de mineração tinham como alvo a Terra Indígena Sawré Muybu, no Pará, onde Alessandra e outros indígenas Mundurukus vivem.
 
A Terra Indígena ainda não é oficialmente demarcada, o que a torna mais vulnerável aos interesses das mineradoras. Segundo a descrição do Prêmio Goldman, entre 2011 e 2020 esse território teve 97 requerimentos de mineração oficialmente feitos – o maior número entre todas as TIs brasileiras.
 
“Ser uma líder no mundo das pessoas brancas não é fácil, imagine então nas nossas sociedades patriarcais. Mas eu estava determinada a fazer algo para proteger nossas terras, rios e florestas dos invasores, e convenci os caciques de que as mulheres podem ser líderes nessa luta contínua”, disse Alessandra Munduruku ao The Guardian.  Ela também comemorou a premiação em suas .
 
Outros vencedores
 
O Prêmio Goldman de Meio Ambiente teve outros cinco vencedores e vencedoras em 2023. Além de Alessandra Munduruku, foram reconhecidos:
 
1. Chilekwa Mumba (Zâmbia)
 
O ativista organizou ação judicial para responsabilizar a Vedanta Resources, dona da mineradora, pelos danos ambientais causados por suas operações. Venceu na Justiça do Reino Unido, a primeira vez em que um tribunal inglês decidiu que uma empresa com sede no país poderia ser responsabilizada por danos ambientais causados por operações controladas por subsidiárias em outro país.
 
2. Zafer Kizilkaya (Turquia)
 
Em colaboração com cooperativas de pesca locais e autoridades turcas, ele expandiu a rede de áreas marinhas protegidas da Turquia, diminuindo os impactos da pesca em grande escala nas águas do país. O ecossistema marinho da Turquia foi severamente degradado pela pela pesca excessiva e ilegal, e o crescimento das áreas protegidas deve ajudar na recuperação da marinha turca.
 
3. Tero Mustonen (Finlândia)
 
Desde abril de 2018, ele liderou a restauração de 62 antigas áreas industriais de mineração de turfa que estavam degradadas na Finlândia. Foram 34,8 mil hectares de terras transformadas em habitats produtivos e biodiversos. Ricas em matéria orgânica e resultante da decomposição de materiais vegetais, as turfeiras são sumidouros de carbono altamente eficazes, e a Finlândia tem uma grande quantidade delas.
 
4. Delima Silalahi (Indonésia)
 
Diretora de uma ONG indigenista indonésia, Delima liderou uma campanha para garantir a administração legal de grandes extensões de tropical para seis comunidades indígenas na ilha de Sumatra. O território foi recuperado de uma empresa de celulose que o havia parcialmente convertido em uma monocultura de eucalipto. As comunidades indígenas envolvidas começaram a restaurar as florestas, que se tornaram importantes sumidouros de carbono e focos de biodiversidade. Diane Wilson (Estados Unidos): Em dezembro de 2019, Diane Wilson ganhou um caso histórico contra a Plastics, uma das maiores petroquímicas do mundo e responsabilizada pelo despejo ilegal de resíduos plásticos tóxicos no Golfo do Texas. A ação teve como resultado um acordo de US$ 50 milhões e o compromisso da Formosa Plastics de cessar com os despejos de resíduos plásticos, além de financiar a remediação dos pântanos, praias e cursos d’água locais afetados.
 
Rafael Faustino – Jornalista. Fonte: Um Só Planeta. Foto: Goldman Environmental Prize/Divulgação. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor.
 
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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