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Alguém disparou a bala que matou Kathlen Romeu

Alguém disparou a bala que matou Kathlen Romeu

Kathlen Romeu era jovem, negra e linda. Kathlen Romeu tinha 24 anos, era designer de interiores e estava grá, lindamente grávida de quatro meses. Kathlen e seu bebê foram matados neste 8 de junho de 2021, durante uma ação judicial em Lins de Vasconcelos, na zona norte do Rio de Janeiro.

Por

K Romeu

Disseram que Kathlen foi acertada por uma bala perdida, mas essa de bala perdida não existe. Alguém disparou a bala que matou Kathlen e seu bebê em gestação.  Por trás das balas assassinas que, todos os dias,  matam e homens negros, quase sempre jovens, tem sempre uma mão humana que aperta o gatilho da morte. 

Era de manhã e, para Kathlen, o dia tinha nascido feliz. “Bom dia, neném” foi o último post de Kathlen no Instagram. Era lá que Kathlen registrava para seus 19 mil seguidores/as e para o os sentimentos muitos no processo de espera de da sua “benção”, que já tinha nome: Maya ou Zayon.  Alguém apertou o gatilho que impediu a mãe dessa de trazê-la ao mundo.

Infeliz e lamentavelmente, o caso de Kathlen não é único. Segundo o Instituto Cruzado, 15 grávidas foram baleados na cidade do Rio de Janeiro nos últimos cinco anos. Para Kathlen e outras sete delas, os ferimentos foram fatais. 

Essa desumanização é ainda corriqueira no jornalismo e nas ações policiais. Nos últimos cinco anos, 15 grávidas foram baleadas no Grande Rio, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado. Além de Kathlen, outras sete não resistiram aos ferimentos e morreram. Houve ainda 10 bebês baleados quando ainda estavam na barriga das mães – só um deles sobreviveu. Também foram baleados 10 bebês ainda na barriga das mães. Só um deles sobreviveu. 

O mais triste, o que mais revolta é a impotência do nada poder fazer contra as ações policiais que matam inocentes  no Rio de Janeiro e no Brasil inteiro.  Nem mesmo a mais alta corte do judiciário pode.  Há um ano, o Supremo Tribunal Federal, por meio da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635, conhecida como ADPF das Favelas, restringiu operações policiais não urgentes durante a pandemia.

Embora os os tiroteios tenham caído 23% em relação ao período anterior à vigência da medida e o número de pessoas baleadas tenha reduzido quase 30%, a ADPF 635,  estabelecida após a morte do adolescente João Pedro, em casa, durante uma operação policial em São Gonçalo, no ano de 2020, não foi capaz de reduzir os tiroteios com vítimas.

No caso do tiroteio deste 8 de junho, a Polícia Militar emitiu nota informando que o confronto, com troca de tiros veio em resposta a ataque sofrido por policiais na localidade conhecida como Beco do 14. Sobre o assassinato de Kathlen, a PM informou que ela foi encontrada ferida, depois do tiroteio, que recebeu atendimento e foi encaminhada para tratamento médico. 

O fato é que A mãe de Maya ou Zayan chegou morta ao Hospital Municipal Salgado Filho, localizado no Méier, zona norte do Rio, segundo informação da própria Polícia Militar. 

Zezé Weiss – Jornalista. Fotos extraídas das redes sociais.

 
Katlhen e namorado

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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