Alter do Chão: Imagens de rio marrom alertam para garimpo no Tapajós

Alter do Chão: Imagens de rio marrom alertam para garimpo no Tapajós

Imagens de rio em Alter do Chão alertam para atividade garimpeira no Tapajós

Em 2021, o InfoAmazonia localizou, por imagem de satélites, mais de uma dúzia de afluentes derramando sedimentos dos garimpos no Tapajós, conhecido por suas águas cristalinas…

Por Por Júlia Dolce/via InfoAmazônia

O rio Tapajós é um dos maiores rios de águas claras da Amazônia. Sua transparência dá um efeito verde-azulado que o colocou há décadas como principal destino turístico da Amazônia brasileira. Porém, no início deste ano, durante a alta temporada turística, um tom amarronzado tingiu o fluxo tapajônico. A diferença de cor tem chamado a atenção dos visitantes e moradores do município de Santarém (PA) e de Alter do Chão, vila conhecida como “caribe Amazônico” justamente pela tonalidade de suas águas.  https://www.youtube.com/embed/8LDH_jf49Bc?feature=oembedÀ esquerda, as águas com coloração amarronzadas do rio Tapajós se diferem da cor tradicional sem sedimentos do Lago Verde, no lado direito do vídeo.

A suspeita para a mudança de cor no Tapajós não é de origem natural. 

Ambientalistas denunciam que a nova coloração pode estar relacionada aos sedimentos de garimpos ilegais no médio Tapajós.https://www.youtube.com/embed/sj3RwEIGWMI?feature=oembed

Em abril de 2021, o InfoAmazonia realizou um levantamento inédito, em parceria com a Earthrise Media, e revelou que a mancha de dos garimpos de ouro na bacia do Tapajós já se estendia por 500 quilômetros rio abaixo, entre os municípios de Jacareacanga e Santarém. As imagens de satélite expõem que a atividade garimpeira no rio disparou 70% nos últimos cinco anos.

Organizações não governamentais estimavam cerca de 60 mil garimpeiros, mais de duas mil dragas ilegais e 850 garimpos legalizados ao longo do rio Tapajós e seus afluentes. As atividades de garimpo de barranco praticadas no Tapajós desmatam e esburacam a terra com bombas d’água, intensificando a erosão nas margens do rio. 

O InfoAmazonia localizou, por imagem de satélites, mais de uma dúzia de afluentes derramando sedimentos dos garimpos no Tapajós em 2020. Em 1984, eram apenas quatro.https://flo.uri.sh/visualisation/8445967/embed?auto=1Interactive content by Flourish

A bióloga Heloisa Meneses, da Federal do Oeste do Pará (UFOPA), avalia que embora não haja estudos mais aprofundados para comprovar a atual conexão entre a alteração da cor do rio e o garimpo, a hipótese, levantada por populações tradicionais que vivem nas margens do Tapajós, é válida. “Que a cor do rio vem mudando é fato, o que se precisa é comprovar a causa desta mudança. Na minha opinião, isso é consequência de um conjunto de fatores, no qual o garimpo e o têm um papel importante por serem dois potenciais poluidores ambiental”, avalia Meneses.

No entanto, a bióloga ressalta que uma série de fatores, além do garimpo, devem ser considerados,  “estamos passando por um momento de grandes alterações climáticas e isso tem consequências no meio ambiente. O crescente aumento de atividades antrópicas prejudica ainda mais a situação”.

Meneses explica que além de liberar resíduos na água, a atividade garimpeira promove a “movimentação do solo”. “Tudo isso altera a dinâmica dos rios, do ponto de vista químico-físico e biológico. A mudança na cor da água pode ser uma das consequências desta alteração”, afirma Meneses. DJI 0020 scaledJulia Dolce

A pesquisadora destaca que, além de causar uma alteração visível na cor do rio, a atividade garimpeira ilegal impacta a composição biótica da água, o funcionamento das cadeias alimentares e, consequentemente, os aquáticos. “Existem mudanças na composição da água que não são visíveis mas que sabemos que ocorrem, visto os altos níveis de mercúrio encontrados nas populações que se alimentam de no rio Tapajós”, conclui. 

O MERCÚRIO

Meneses é professora do Instituto de Coletivo da Ufopa e coordenou uma pesquisa que indicou altos níveis de mercúrio no sangue da população de Santarém, acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde. O resultado pode estar atrelado ao uso do mercúrio para aglutinação do ouro nos garimpos ilegais. O analisou amostras de sangue de cerca de 500 pessoas.

Além da mudança na coloração do Tapajós, Meneses afirma que outras mudanças vêm sendo observadas nos últimos anos, como o aumento da floração de algas, o aumento das chuvas e o consequente desequilíbrio entre a cheia e a , que são alterações que poderiam estar interligadas.MARCADO: Águas TurvasAlter do Chãogarimpo ilegalmineraçãoTapajós

 

Julia Dolce – Repórter e fotógrafa do InfoAmazonia em parceria com o Report for the World, que aproxima redações locais com jornalistas para reportar assuntos pouco cobertos em todo o . Atua na cobertura socioambiental… Mais por Julia Dolce

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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