“Armas matam. Mais armas matam mais.”

“Armas matam. Mais armas matam mais.” Uma doída lição da tragédia do Colégio Goyazes – 

Por Bia de Lima 

A tragédia que deixou duas mortas, uma paraplégica e três outras gravemente feridas em Goiânia, ao serem atingidas pelos tiros saídos de uma pistola .40 nos fundos de uma sala de aula, no Colégio Goyazes, na manhã do dia 20 de outubro, dilacerou o coração de cada membro da comunidade escolar goiana.

Dói muito a constatação de que, assim como aconteceu em uma creche em Janaúba, no norte de Minas Gerais, onde nove crianças e duas professoras morreram vítimas de queimaduras há poucas semanas, a escola, que deveria ser espaço seguro e templo sagrado da , encontra-se vulnerável também aqui em Goiás.

Dói, sobretudo, o sentimento de que, ao contrário da tragédia de Janaúba, onde um funcionário ateou fogo ao próprio corpo e à escola onde trabalhava, a do Colégio Goyazes talvez pudesse ter sido evitada, não fosse o adolescente que atirou nos colegas ter tido acesso, em casa, a uma arma de fogo mantida em cima de um guarda-roupas.

Difícil compreender, também, que no dia seguinte à tragédia, com as famílias e toda nossa enlutada, a federal Magda Mofatto, tenha dado entrevista ao jornal “O Popular” (21/10), defendendo a revogação do Estatuto do Desarmamento e a aprovação da Lei do Armamento Civil, que relaxa as restrições para o porte de armas no país.

Não obstante o momento inoportuno para as frases lapidares da parlamentar: “O revólver não causou a tragédia (…) O problema não é o revólver (…) As pessoas questionam isso porque não tem outro argumento para justificarem o fato de serem contra o armamento [da população]”, em menos de um mês outra tragédia se abateu sobre a comunidade escolar em nosso Estado: na manhã do dia 6 de novembro, um homem armado com um revólver entrou na Escola Estadual 13 de Maio, em Alexânia, e tirou a   da adolescente Rafaella Noviske (16), aluna do 9º ano.

MAIS ARMAS, MAIS MORTES

O assassinato de Rafaella engrossa as estatísticas que colocam Alexânia entre as cidades mais perigosas do Brasil, a cidade está em 80º lugar entre os municípios brasileiros com maiores taxas de homicídio por arma de fogo, segundo o Mapa da 2016.

Num país em que a cada hora morrem 7 pessoas por armas de fogo, os índices alarmantes de Alexânia, que registra uma média de 52,9 casos por grupo de cem mil habitantes, e onde quem mais morre são os mais jovens, contrariam o pensar da deputada e mostram a importância do Estatuto do Desarmamento para a proteção de vidas humanas no Brasil.

O Mapa da Violência 2016 mostra que, de 1980 até 2014, o Brasil perdeu 967.851 vidas humanas vítimas de disparo de arma de fogo, sendo que 830.420 (85,8%) delas por homicídios, sendo a juventude a principal vítima dessa violência, sobretudo na faixa dos 15 aos 29 anos de idade.

No conjunto da população, o número de mortes passou de 6.104, em 1980, para 42.291, em 2014: crescimento de 592,8%. Na faixa jovem, esse crescimento foi bem maior: pula de 3.159 mortes em 1980, para 25.255, em 2014: um crescimento de 699,5%.

Em 1983, 36,8% do total de homicídios foram cometidos por algum tipo de arma de fogo. Essa participação foi crescente até 2004, quando atinge a marca de 70,7%. A partir de então, a participação se estabiliza em torno de 71%.

O Mapa da Violência contabilizou também o chamado Índice de Vitimização Juvenil por Armas de Fogo, que mede a incidência e a prevalência do fenômeno no mundo jovem. Quanto maior o índice, ou mais distante de zero, maior a vitimização juvenil.

Em 2012, esse índice no Brasil chegou a 285. O que significa, pelos cálculos, que os jovens morrem por arma de fogo 285% mais vezes que o restante da população.

Para Julio Jacobo Waiselfisz, esses números só não são ainda maiores devido ao Estatuto do Desarmamento. Waiselfisz explica que o indicador de mortes evitadas é calculado pela comparação entre a tendência de crescimento de mortes violentas antes da Lei e os números reais de ocorrências após a implementação do Estatuto.

 

VIDAS POUPADAS

Graças à política nacional de controle de armas de fogo, no ano de 2014 foram poupadas 17.173 vidas que, somadas às taxas dos anos anteriores, totalizam 133.987 vidas poupadas em função do Estatuto do Desarmamento, afirma Waiselfisz.

Para a Bancada da Bala e sua representação em Goiás, não importam os vários estudos que mostram que armas de fogo, nas mãos da população, aumentam o risco de assassinatos como desfecho de conflitos ou disputas, assim como aumentam os casos de mortes acidentais pelo uso indevido dessas armas.

Para o Sintego, cabe, em primeiro lugar, respeitar a dor das famílias enlutadas e, em defesa da vida de seus estudantes, educadores, educadoras e demais profissionais da educação, fortalecer, cada vez mais, uma cultura de paz nas escolas goianas.

sintego cut

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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