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A cada 10 assassinatos no Brasil, 7 são de negros

A cada 10 assassinatos no Brasil, 7 são de negros

Por Letícia Bartholo –

A cada 10 assassinatos no , 7 são de negros.

Quando exposto a essa estatística, Fred, um estudante branco do Plano Piloto, rapidamente disse: isso acontece, porque eles são mais pobres. Portanto, tiveram menos oportunidades e estão mais expostos à . É uma questão de desigualdade socioeconômica, e não de desigualdade racial.

Ocorre o seguinte:
Brasil, 2015. João e são vizinhos. João é negro e Pedro, branco. Seus pais têm níveis socioeconômicos muito próximos, de maneira que os guris têm acesso aos mesmos bens e serviços. João e Pedro estudam na mesma classe e têm a mesma idade. João tem 23% de chances a mais de ser assassinado. Só por ser negro.*

Moral, os negros são mais pobres, porque são negros. Não tiveram acesso a oportunidades, porque são negros. Foram impedidos de se matricular em escolas, por serem negros. No sistema de ensino, sofrem preconceitos, por serem negros. Desviam deles nas ruas, por serem negros. Ganham menos, porque são negros. Passam por tudo isso e ainda têm que ouvir alguém dizer que as cotas raciais ofendem a e a meritocracia brasileira. Quando se exaltam contra o , diversas vezes são chamados radicais.

Deve ser muito difícil ser negro neste país. Eu não consigo nem imaginar. E eles ainda nos dão bom dia.

Hoje são 21 de março, dia de combate ao racismo. E eu só consigo sentir vergonha.

*Informações baseadas no Atlas da Violência, 2017 e em Cerqueira e Coelho (2017)

ANOTE AÍ:

Leticia Bartholo 1

Letícia Bartholo é socióloga.

A ilustração de capa é de Daniel Pxeira, também sociólogo.

Uma resposta

  1. Esta é a realidade do Brasil atualmente, onde quem tem mais e a melhor posicão social é quem dá as cartas.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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