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Atare Xe Bajapoare: o primeiro dia de aula

Atare Xe Bajapoare: o primeiro dia de aula das crianças Avá-Canoeiro

Após 50 anos do contato forçado pela Funai, o povo Avá-Canoeiro adquire o direito de ter formação escolar em sua língua materna.

Por Eliane Franco Martins/Cimi Regional Goiás/Tocantins

O povo Ãwa, conhecido como Avá-Canoeiro no estado do Tocantins, permaneceu por muitos anos estudando em escolas indígenas dos Javaé e Karajá, povos que possuem uma língua distinta da sua.

Enquanto o povo Ãwa é pertencente à família linguística Tupi-Guarani, os povos Javaé e Karajá são do tronco linguístico Macro-jê.

O primeiro de aula dos Avá-Canoeiro após 50 anos de contato forçado. Foto: Kamutaja Ãwa

Contudo, essa diferença foi ignorada pelo Estado quando esses povos foram agrupados em uma mesma escola, em razão de um contato forçado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 1973, o que privou os Avá-Canoeiro de estudar em sua própria língua.

Mesmo assim, os Avá-Canoeiro mantiveram viva sua língua materna por meio do ensinamento dos mais velhos de seu povo.

Essa diferença foi ignorada pelo Estado quando esses povos foram agrupados em uma mesma escola

Crianças Avá-Canoeiro em seu primeiro dia de aula na aldeia Itaho, na ilha do Bananal. Foto: Kamutaja Ãwa

Ao longo de dois anos as lideranças do povo Ãwa lutaram para implementação de uma turma na aldeia Itahô na Ilha do Bananal, mas a dificuldade era grande, uma vez que as famílias Avá-Canoeiro não moravam em uma mesma aldeia.

Em 2021, as famílias decidiram criar uma aldeia, onde pudessem receber atendimento do Estado por meio de políticas públicas a fim de fortalecer o processo de demarcação da terra indígena Taego Ãwa.

Após várias denúncias das lideranças indígenas no Ministério Público Federal (MPF) e na Defensoria Pública do estado do Tocantins, a solicitação da comunidade foi atendida pela Secretaria de Educação do estado (Seduc-TO), que contratou quatro professores, uma merendeira e uma profissional para serviços gerais.

A escola, ainda sem sede própria, começa a funcionar de forma improvisada na Associação da comunidade, com apenas três turmas do 1º ao 5º ano, do 6º ao 9º e o ensino médio.

A escola, ainda sem sede própria, começa a funcionar de forma improvisada na Associação da comunidade.

Comunidade da TI Taego Ãwa recebe materiais escolares para iniciar as aulas em escola ainda improvisada. Foto: Kamutaja Ãwa

As três turmas ainda são uma extensão de outra escola do povo Karajá, mas trouxe alegria para as crianças e os adultos que estavam sem estudar a própria língua.

Com a criação das turmas, o povo Awã pôde levar a matriarca Kawkamy para ensinar alunos e alunas a língua materna, a cultura de seu povo, bem como seus mitos e histórias.

No entanto, a criação de uma escola própria, específica e diferenciada do povo Avá-Canoeiro segue sendo uma reivindicação da comunidade para o estado do Tocantins.

A reivindicação do povo busca garantir o direito constitucional – como consta no parágrafo segundo do artigo 210 da Constituição Federal de 1988 – de ter sua formação escolar ministrada em sua língua materna e por meio de processos próprios de aprendizagem.

O povo Awã pôde levar a matriarca Kawkamy para ensinar alunos e alunas a língua materna e a cultura de seu povo

A matriarca Kawkamy ensina às crianças de seu povo a língua materna, a cultura dos Ãwa, bem como seus mitos e histórias. Foto: Kamutaja Ãwa

A criação da escola indígena Tutawa – como assim pretendem nomeá-la para homenagear o guerreiro Tutawa, líder do povo Ãwa – é também uma forma do Estado brasileiro reparar historicamente esse povo pela violência e danos sofridos pelo contato forçado pelo Funai.

A forma compulsória como se deu esse contato causou graves violações aos direitos humanos do povo Avá-Canoeiro, retirado do seu território tradicional.

Apesar de invisibilizados, as famílias e lideranças jovens dos Avá-Canoeiro se fortalecem enquanto movimento indígena no estado do Tocantins e reconquistam seu protagonismo por meio da luta pela demarcação da Terra Indígena Taego Ãwa.

Namagaw!

Fonte: cimi


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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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