BAHSERIKOWI´I, Primeiro Aniversário!
Já faz um ano, desde 6 de junho de 2017 que todo santo dia, de segunda a sexta-feira, das 9 às 15h, os kumu, ou benzedores, especialistas indígenas do Alto Rio Negro atendem a população manauara, indígena e não-indígena, no Barserikowi’i, o primeiro Centro de Medicina Indígena da Amazônia brasileira.
É lá no Barserikowi’i, em um ambiente decorado com artesanato indígena, em singelas salas de atendimento compostas apenas por uma mesa e dois pequenos bancos feitos de madeira e palha que os pajés de diversas etnias, que dominam o conhecimento do Bahsese (benzimento) e das plantas medicinais, oferecem tratamento diferenciado, dependendo sempre do tipo de enfermidade diagnosticada.
Segundo o antropólogo João Paulo Barreto, ele mesmo da etnia Tukano, idealizador do Barserikowi’i, “Bahsese é o modelo pelo qual o Kumu aciona os princípios curativos contidos nos vegetais, que é acionado dentro de um elemento, pode ser água, tabaco, cigarro, urtiga. Durante esse processo, o Kumu não está rezando, ele está evocando esses princípios para curar as doenças. Por isso, ele tem que dominar o conhecimento de animais e vegetais”.
Segundo Barreto, a partir das várias experiências de sua própria vida pessoal e acadêmica, para implantar um modelo de saúde diferente do modelo ocidental, “de hospital”, para valorizar um modelo pautado dentro das concepções, conhecimento e princípios indígenas, utilizados por sábios como o Kumu Manoel Lima, de 86 anos, pajé do povo Tuyuka, no Amazonas, especialista em dor de cabeça, dores musculares e tratamentos pós-parto e pós-cirúrgico.
Para garantir o atendimento a preços populares (R$ 10 a consulta), o Barserikowi’i, que é gerido pelos próprios indígenas e não conta com o apoio ou a interferência das secretarias de saúde nem do governo nem da prefeitura, oferece de tudo um pouco, de cursos, oficinas e palestras, as camisetas, artesanato e ervas medicinais. A última novidade, anunciada na página do Centro de Medicina Indígena no Facebook, é a venda de pimenta jiquitaia (R$ 10 a garrafa), produzida pelo povo indígena Desano na Aldeia do Balaio, no Alto Rio Negro.
Como resultado desse esforço coletivo, o Centro prospera, no prédio cedido pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), na rua Bernardo Ramos, 97, Centro Histórico de Manaus, como mais uma opção de tratamento de saúde, baseada, segundo Barreto, “em técnicas e tecnologias indígenas, usadas de geração em geração” por respeitados pajés de etnias milenares como os Apurinã, Baniwa, Saterê-Mawé e Tikuna.
O Centro atende em média 30 pessoas por dia, sendo a maioria delas mulheres e não-indígenas. Além de pessoas procurando o atendimento com o Bahsese, o Centro vem recebendo a visita de lideranças indígenas como Davi Yanomami, além de representantes de organizações do terceiro setor, indígenas e não-indígenas, estudantes e professores. Informações sobre visitas e tratamentos podem ser obtidas com João Paulo Barreto: (92) 99271-7500 e Ivan Barreto: (92) 98223-553.
Fontes: Amazônia Real/Página do Centro de Medicina Indígena no Facebook
Redação: Zezé Weiss Jornalista Socioambiental – @zezeweiss
Fotos: Página do Centro de Medicina Indígena no Facebook