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40% de espécies de insetos podem ser extintas

Biodiversidade: 40% de espécies de insetos podem ser extintas

, monoculturas e mudanças no clima podem causar extinção de 40% de espécies de insetos

Os insetos representam cerca de 90% das espécies de animais em todo o , mas sua sobrevivência está em risco: 40% podem ser extintos nas próximas décadas, comprometendo diversos serviços ambientais como a polinização de espécies vegetais, o controle biológico de pragas agrícolas e a ciclagem de nutrientes, o que acabaria por ameaçar a alimentar da

Via Casa Ninja Amazônia

O Atlas dos Insetos, lançado pela Fundação Heinrich Böll, contextualiza as causas para o desaparecimento dos insetos e sugere alternativas para reverter a situação, a partir de práticas ecológicas que preservem a biodiversidade na agricultura e políticas públicas que promovam a proteção das espécies.

Fruto do de 34 autores, entre cientistas brasileiros e estrangeiros, o Atlas alerta para os agrotóxicos como uma das principais causas de mortalidade entre os insetos. Dependendo do tipo, esses produtos podem causar mortalidade não só nas espécies alvo de sua ação (as chamadas pragas agrícolas), mas também a espécies benéficas como as abelhas, que podem ter seu sentido de orientação comprometido ou mesmo tornarem-se mais susceptíveis ao ataque de patógenos.

Ou seja, apesar de vendido como solução, o agrotóxico afeta populações de polinizadores e pode trazer impactos na produção agrícola, já que 76% das plantas utilizadas para prover alimentos no país dependem da polinização feita por animais. Além disso, os chamados defensivos também podem reduzir a quantidade e variedade de insetos que se alimentam de pragas agrícolas e as controlam naturalmente, aumentando ainda mais a necessidade de aplicações de agrotóxicos, em um círculo vicioso.

Especialistas também alertam para as mudanças climáticas, que prejudicam insetos benéficos como os polinizadores, mas podem tornar abundantes espécies consideradas pragas, e diminuir a tolerância de plantas agrícolas aos seus ataques. No Brasil, estudos relatam que a longevidade e capacidade reprodutiva de um pulgão que ataca forrageiras, Sipha flava, foram significativamente maiores quando os insetos foram mantidos em nível de COalto e constante.

Já uma pesquisa da Universidade de Seattle (EUA) calculou que as safras de arroz, milho e trigo diminuirão entre 10 e 25% por grau de aquecimento global como resultado de mudanças nas populações de insetos. Outro estudo da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), citado no Atlas, demonstra que a produção de alimentos como melancias, abóboras, cacau e castanha-do-Pará pode sofrer um declínio de mais de 90% na ausência da polinização por animais.

“As pesquisas apontam que o modelo convencional de agricultura está fortemente relacionado à acentuada taxa de declínio dos insetos, que vêm perdendo seus habitats devido ao desmatamento, às crescentes monoculturas e ao uso excessivo de agrotóxicos. Contraditoriamente, esse modelo pode nos levar à insegurança alimentar, uma vez que os insetos, pelas funções que desempenham nos , são responsáveis por grande parte da polinização.”, afirma Joana Simoni, coordenadora da área de agricultura da Fundação Heinrich Böll e editora do Atlas.

Um caminho para a preservação dos insetos

Em oposição aos monocultivos e defensivos da agricultura tradicional, os autores do Atlas dos Insetos indicam a agroecologia como solução mais amigável para garantir a biodiversidade e a sobrevivência das espécies. O uso de agroecossistemas diversificados, por exemplo, aumenta o número de espécies e de interações nos cultivos, trazendo estabilidade às comunidades de insetos. No Brasil, há experiências bem-sucedidas em plantações de café intercaladas com árvores de ingá: além de produzir mais frutos, o café cultivado nestas condições é menos afetado pelo bicho-mineiro do cafeeiro.

Mas, além das boas práticas, a proteção dos insetos precisa de políticas públicas. O Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil, produzido pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (PBBES) em 2019, apontou a necessidade de uma política nacional de polinizadores ancorada na conservação da biodiversidade. No entanto, na contramão da preservação, o governo brasileiro já liberou 411 pesticidas apenas em 2021.

Biodiversidade de insetos no Brasil

Além dos milhões de insetos já catalogados, cientistas estimam que entre 3 e 5 milhões de espécies, sendo 1,5 milhão apenas de besouros, ainda aguardam descoberta em todo o mundo. O Brasil abriga aproximadamente 90 mil espécies catalogadas, quase 9% do total, possuindo a maior do planeta. No entanto, estimativas de um número real de insetos indicam que a fauna brasileira pode conter entre 500 mil e um milhão de espécies.

O país sofre com níveis alarmantes de causadas por mosquitos, como a Dengue, a Zika e a Chikungunya. Entretanto, culpar apenas o Aedes aegypti é uma análise simplista, já que pesquisas indicam as mudanças climáticas, o desmatamento e a urbanização desordenada como fatores de risco para a proliferação de algumas espécies. O aumento da temperatura também pode desencadear surtos de gafanhotos, por afetar o desenvolvimento, comportamento e reprodução destes insetos. Desde o século XVII, há registros de ataques de gafanhotos no Brasil e a última grande ameaça aconteceu em agosto de 2020, quando nuvens de gafanhotos se deslocaram por Argentina e Paraguai, ameaçando entrar no país.

Apesar disso, engana-se quem pensa que insetos são apenas fontes de crise. A dinâmica de colaboração com algumas espécies têm importância econômica e social. Como exemplo, as abelhas têm papel significativo em regiões de baixa renda brasileiras, já que grande parte dos apicultores são agricultores familiares. Outro destaque entre os insetos colaboradores são as joaninhas, conhecidas pela roupagem vermelha de bolinhas pretas, mas com relevância além da estética: atuam no controle biológico de espécies indesejáveis.

Entre os colaboradores menos conhecidos, mas não menos importantes, temos os besouros chamados de “rola-bostas”. Eles atuam na dispersão de sementes e eliminam a presença de moscas nos pastos ao enterrar as fezes do gado. Cada cabeça de gado produz em média 50kg de fezes por dia. Se não fosse por este besouro, 4 bilhões de toneladas de fezes produzidas pelo rebanho brasileiro por ano ficariam acumuladas nos pastos.

Sobre o Atlas dos Insetos

Confira evento online de lançamento do Atlas dos Insetos. Participaram a a doutora em biologia populacional pela Universidade de Amsterdam, pesquisadora da EPAMIG e membro do conselho editorial do Atlas, Madelaine Vezon; o doutor em engenharia de produção pela UFSC e membro da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, Leonardo Melgarejo; e o Coordenador de Programas e Projetos da Fundação Heinrich Böll na área de Socioambiental, Marcelo Montenegro. A jornalista, mestre em comunicação e editora do Jornal da USP, Luiza Caires, foi a mediadora.

A publicação contou com um conselho editorial formado por acadêmicos e pesquisadores de diversas regiões do Brasil. Participaram: Carlos Eduardo Oliveira de Souza Leite, agrônomo pela UFRRJ e coordenador-geral do SASOP; Dany Silvio Souza Leite Amaral, doutor em entomologia pela UFV e engenheiro da Prefeitura Municipal de BH; Madelaine Venzon, doutora em biologia populacional pela Universidade de Amsterdam e pesquisadora da EPAMIG; Maíra Queiroz Rezende, doutora em entomologia pela UFV e professora do IFNMG; Michela Costa Batista, doutora em entomologia pela UFV e orientadora no Programa de Pós-Graduação em Agricultura e Ambiente da UEMA; Pedro Henrique Brum Togni, doutor em entomologia pela UFV e professor adjunto da Universidade de Brasília; Ricardo Costa Rodrigues de Camargo, doutor em zootecnia pela UNESP e pesquisador da Embrapa; Tarita Cira Deboni, doutora em agronomia pela UPF e professora de agronomia na UFFS.

O     material    está    disponível    para    download    no    site    da    Fundação    Heinrich    Boll: https://br.boell.org/pt-br/atlas-dos-insetos A versão impressa também pode ser solicitada gratuitamente.

Além do Atlas dos Insetos, a Fundação também lançou o Atlas do Plástico e o Atlas do Agronegócio. Confira todos os dossiês no link: https://br.boell.org/pt-br/nossos-dossies

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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