Bisnau: Um mundo de mistérios entre cachoeiras e sítio arqueológico
Para quem segue pela BR-020, rumo Bahia, pouco depois do povoado do Bezerra, ainda no município de Formosa, Goiás, passando por várias pamonharias, conhecidas como “pamonharias do Bisnau”, logo um mata-burro tosco aparece, abrindo a picada para as cachoeiras e para o Sítio Arqueológico do Bisnau.
Por Eduardo Pereira
Passado o mata-burro, placas indicam o caminho, entrecortado por antigos pés de manga. Para a cachoeira, deve-se seguir à direita; e, para o Sítio Arqueológico, marcado por um “matagal” de tinguizeiros, árvore típica do Cerrado, o rumo é à esquerda. A distância entre os dois atrativos é pequena e é possível visitar tanto a cachoeira quanto o Sítio Arqueológico em um mesmo dia.
São cerca de 120 km para se chegar ao Bisnau, a partir de Brasília. Basta seguir pela BR-020 – em estrada duplicada por 80 km até Formosa – e continuar na BR-020 até passar pelo povoado Bezerra. Daí, é só seguir uns dez quilômetros adiante e, ao chegar às pamonharias, observar as placas. Não tem erro!
CACHOEIRA DO BISNAU – 100 metros de queda
Também conhecida como a Cachoeira da Capetinga, por estar localizada na Fazenda Capetinga, a Cachoeira do Bisnau tem cerca de 100 metros de altura e é, na verdade, formada por seis pequenas cachoeiras, ou quedas d´água, que vão se juntando até formar os dois poços próprios para banho que precedem a grande cachoeira.
Embora não exista nenhuma infraestrutura turística no local, o proprietário permite visitas, banhos, caminhada nas trilhas e até mesmo a prática de rapel no paredão de 130 metros formado pelo desnível da cachoeira, mediante o pagamento adiantado de uma taxa de 15 reais.
Segundo o senhor Alberto, a família está preparando um grande complexo turístico para o local, que inclui trilhas ecológicas nas áreas de mata nativa que se estendem por toda a região.
SÍTIO ARQUEOLÓGICO DO BISNAU
Localizado na Fazenda Taquari, um pouco depois da bifurcação que leva à Cachoeira do Bisnau, o Sítio Arqueológico do Bisnau é formado por um espaço natural de cerca de 2.600 m2 com petroglifos de datação estimada entre 4,5 e 11 mil anos.
O Bisnau, como é conhecido na região, causa fascínio entre estudantes, cientistas e pessoas curiosas sobre o significado das inscrições, cujas interpretações variam desde orientações astronômicas até sinais de possíveis contatos com extraterrestres.
Do ponto de vista geológico, o Sítio Arqueológico do Bisnau são várias figuras em baixo-relevo concentradas em uma única grande pedra. Infelizmente, as figuras estão completamente expostas à intempérie e já foram “maculadas” por pessoas, havendo marcas de giz ou pedras coloridas nas reentrâncias.
Não há nenhum tipo de vigilância no local. A preservação fica a cargo da consciência de cada visitante.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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