Brasil 2025: Desafios e Caminhos para o Movimento Socioambiental

BRASIL 2025: DESAFIOS E CAMINHOS PARA O MOVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Brasil 2025: Desafios e Caminhos para o Movimento Socioambiental

Os desafios enfrentados pelo movimento socioambiental brasileiro em 2025 são profundos e urgentes, refletindo as tensões entre os imperativos do capital e a defesa da vida em suas múltiplas formas

Por Adilson Vieira e Pedro Ivo Batista

Em meio a crises ambientais cada vez mais severas, o Brasil encontra-se no centro das contradições globais, onde a luta pela preservação da natureza e pela justiça social se entrelaçam de maneira indissociável. Este momento histórico exige do movimento socioambiental não apenas resistência, mas uma visão transformadora que possa apontar para um novo horizonte civilizatório.

O desmatamento da Amazônia continua a ser um dos problemas mais alarmantes, mas agora seu impacto revela novas facetas. O avanço da destruição florestal contribuiu para um fenômeno que há poucos anos seria considerado impensável: a seca na maior floresta tropical do mundo.

A diminuição do ciclo hidrológico, resultado do desmatamento e das mudanças climáticas, ameaça não apenas os ecossistemas locais, mas também as populações indígenas, ribeirinhas e urbanas que dependem da floresta para sua sobrevivência. A Amazônia, transformada em um território de saque, revela a falência de um modelo de desenvolvimento baseado na extração e na mercantilização da natureza.

Para o movimento socioambiental, a defesa da floresta implica não apenas lutar contra o desmatamento, mas propor alternativas radicais que rompam com a lógica capitalista e fortaleçam os modos de vida sustentáveis já praticados pelos povos da floresta.

A crise hídrica, entretanto, não se limita à Amazônia. No semiárido nordestino, a escassez de água se agrava em função da intensificação dos períodos de seca, enquanto as populações locais enfrentam a negligência do poder público e os interesses predatórios de grandes corporações que disputam os recursos hídricos.

A luta pela água, seja na Amazônia ou no semiárido, é uma luta pela democratização do acesso a um bem comum essencial, profundamente vinculado à justiça social e à soberania dos povos. O movimento socioambiental encontra aqui um desafio central: construir uma aliança entre diferentes territórios e comunidades que sofrem, de maneira diversa, os impactos da crise ambiental, articulando suas reivindicações em torno de uma visão de mundo que privilegie a vida e a solidariedade.

A devastação ambiental e as mudanças climáticas agravam também os conflitos urbanos, onde a desigualdade social é amplificada pelos desastres provocados por enchentes, deslizamentos de terra e ondas de calor que afetam principalmente as populações mais pobres.

A periferia das grandes cidades brasileiras é um espaço de resistência e criação, mas também um território onde os efeitos da degradação ambiental se manifestam de forma mais brutal. O movimento socioambiental brasileiro, nesse contexto, é chamado a dialogar com as pautas urbanas, articulando demandas por transporte público de qualidade, saneamento básico e habitação digna com uma crítica estrutural ao modelo de urbanização predatório que expulsa os mais pobres para áreas de risco.

Um desafio ainda mais profundo está na relação entre o movimento socioambiental e a questão da desigualdade. Não há como enfrentar a crise ambiental sem enfrentar as estruturas de opressão que perpetuam a exploração dos trabalhadores e a exclusão das comunidades indígenas, quilombolas e tradicionais.

A luta socioambiental, portanto, não pode se limitar à preservação dos recursos naturais. Ela precisa ser uma luta pela transformação radical das relações sociais, pela construção de um modelo que supere as desigualdades e que reconheça os direitos dos povos à autodeterminação. É aqui que a perspectiva ecosocialista ganha força, apontando para a necessidade de romper com a lógica produtivista e de criar uma economia que se baseie na cooperação e na sustentabilidade.

O movimento socioambiental brasileiro em 2025 enfrenta também o desafio da participação política. Em um cenário de crescente concentração de poder nas mãos de poucos, a resistência exige a construção de formas de organização democrática que articulem comunidades locais, movimentos populares e intelectuais críticos. É preciso criar espaços de debate e ação onde as vozes marginalizadas sejam ouvidas e respeitadas, e onde se possa imaginar coletivamente as alternativas ao sistema vigente. A luta pela soberania popular, pela democratização do acesso à terra e pela proteção dos bens comuns precisa estar no centro de qualquer projeto que se proponha a enfrentar a crise ambiental de maneira efetiva.

Os desafios que se colocam para o movimento socioambiental brasileiro em 2025 são, em última instância, desafios civilizatórios. A crise ambiental brasileira é um reflexo das contradições de um sistema global que explora a natureza e as pessoas de maneira insustentável.

O que está em jogo é a possibilidade de reverter essa lógica destrutiva e construir um futuro em que as relações entre humanidade e natureza sejam de respeito e reciprocidade. O caminho para isso passa pela ação coletiva, pela solidariedade internacionalista e pela imaginação de um mundo que ainda não existe, mas que precisa ser urgentemente criado.

Adilson Vieira – Sociólogo, Membro do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Amazônico e Membro da coordenação colegiada da Associação Alternativa Terrazul. É membro da Coordenação Nacional do FBOMS.

Pedro Ivo Batista – Membro da Coordenação colegiada do FBOMS e Presidente da Associação Alternativa Terrazul e Conselheiro do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA.

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

REVISTA