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Cais do Valongo Patrimônio Histórico da Humanidade

O Cais do Valongo, no Rio, Brasil torna-se o 21º patrimônio histórico brasileiro reconhecido pela Unesco –

 Neste começo de julho de 2017, o Cais do Valongo, porto de chegada de quase um milhão de escravos africanos ao Rio de Janeiro, foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco, a agência cultural da ONU. Esse é o 21º patrimônio histórico reconhecido pela ONU no país, em uma lista que inclui centros históricos, parques nacionais e áreas preservadas em várias regiões.
O foi o principal destino de escravos africanos nas Américas, e o Cais do Valongo se tornou o maior porto de entrada deles no país até meados do século 19. Ele ficou por décadas aterrado e sua riqueza começou a ser redescoberta durante o de revitalização da zona portuária do Rio para as Olimpíadas de 2016.
Para a Unesco, o Cais do Valongo “é  o mais importante vestígio físico da chegada dos escravos africanos ao continente americano.” Para Katia Bogea, presidenta do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan),  “o Valongo merece estar junto de lugares como Hiroshima e Auschwitz para nos fazer lembrar das partes da história da humanidade que não podemos esquecer”.
Segundo o Iphan, o desembarque de escravos no Rio foi integralmente concentrado na região da Praia do Valongo a partir de 1774, e ali “se instalou o mercado de escravos que, além das casas de comércio, incluía um cemitério e um lazareto”.

O calçamento de pedra que constitui o Sítio Arqueológico do Cais do Valongo foi parte das obras de infraestrutura realizadas em 1811, “com o incremento do tráfico e o fluxo de outras mercadorias”.
Após a declaração da República no Brasil, em 1889, o cais do Valongo foi aterrado. Com as obras do Porto Maravilha, foram encontrados milhares de objetos pessoais na região, como partes de calçados, botões feitos com ossos, colares, amuletos, anéis e pulseiras em piaçava.

Sepultura coletiva

Após uma longa jornada pelo Atlântico, africanos esquálidos eram mantidos na região portuária em chamadas casas de engorda para se recuperarem. Depois, eram vendidos e levados a trabalhar em plantações de várias regiões, além de serem empregados em atividades domésticas e construções do Rio.
Muitos, no entanto, não sobreviviam. A poucos quarteirões do cais está um cemitério onde, entre 1770 e 1830, milhares de escravos foram enterrados. Restos desse local foram encontrados por acaso em 2011, quando um casal reformava sua casa na área e se deparou com ossos e crânios.
O tráfico de escravos estrangeiros foi banido em 1831, mas continuou ilegalmente até a escravidão ser abolida no país, em 1888.
Cerca de quatro milhões de escravos chegaram ao Brasil entre os séculos 17 ao 19, o que representa quase 40% dos escravos que desembarcaram nas Américas.
A partir de 2012, o Cais do Valongo passou a fazer parte de um circuito histórico de celebração da herança africana no Rio.
Esse não é o único patrimônio da Humanidade brasileiro a figurar na lista da Unesco. Também são Patrimônios Históricos Brasileiros reconhecidos pela UNESCO:

  1. Cidade de Ouro Preto (MG)
  2. Centro histórico de Olinda (PE)
  3. Ruínas de São Miguel das Missões (RS)
  4. Centro histórico de Salvador (BA)
  5. Santuário de Bom Jesus do Congonhas (MG)
  6. Parque Nacional do Iguaçu (PR)
  7. Brasília (DF)
  8. Parque Nacional da Serra da Capivara (PI)
  9. Centro histórico de São Luís (MA)
  10. Áreas protegidas de do Sudeste (PR e SP)
  11. Reservas de Mata Atlântica da Costa do Descobrimento (BA e ES)
  12. Centro histórico de Diamantina (MG)
  13. Complexo de Conservação da Amazônia Central (AM)
  14. Área de conservação do Pantanal (MT)
  15. Ilhas do Atlântico: Reservas de Fernando de Noronha (PE) e Atol das Rocas (RN)
  16. Áreas protegidas do : Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional das Emas (GO)
  17. Centro histórico da Cidade de (GO)
  18. Praça de São Francisco na cidade de São Cristóvão (SE)
  19. Cidade do Rio de Janeiro (RJ)
  20. Conjunto moderno da Pampulha (MG)

Cais do Valongo Bruno Bartholin P%C3%BAblica

A NOTA DA UNESCO

Cais do Valongo se torna 21º sítio brasileiro inscrito na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. A inscrição aconteceu hoje (09/07/2017), após votação do Comitê do Patrimônio Mundial.

Durante a sua 41ª Reunião, o Comitê do Patrimônio Mundial decidiu incluir, na Lista do Patrimônio Mundial, o Cais do Valongo por seu grande significado para gerações passadas, presentes e futuras no que se refere a história do tráfico atlântico e a escravização de africanos.Trata-se do segundo sítio da cidade do Rio de Janeiro a receber o reconhecimento internacional da UNESCO. Antes do Cais do Valongo, entrou para a Lista, em 2012, o Rio de Janeiro, Paisagens Cariocas entre a Montanha e o Mar.

Por sua magnitude, o Cais do Valongo pode ser considerado o lugar mais importante de da diáspora africana fora da África. Ele é o maior porto de entrada de negros escravizados na . As estimativas apontam que entre 500 mil e um milhão de negros chegaram ao continente desembarcando neste Cais. Desde sua construção, em 1811, ele sofreu sucessivas transformações até ser aterrado em 1911. O local foi revelado, em 2011, durante escavações das obras do Porto Maravilha, e se tornou o maior vestígio material das raízes africanas nas Américas. A cidade transformou o espaço em monumento preservado e aberto à visitação pública.

Para a Representante a.i. da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, “o Cais do Valongo tem valor histórico, arqueológico e cultural, traz de um período da história que não pode se repetir jamais e, por isso mesmo, precisa ser lembrado. O seu reconhecimento internacional ressalta uma época muito importante para a formação da cultura brasileira e das Américas”.

A coordenadora de Cultura a.i. da UNESCO no Brasil, Rebeca Otero, complementa dizendo que “é preciso conhecer nosso passado e o Cais do Valongo nos aproxima dele. O reconhecimento do sítio pela UNESCO é também um reforço a ações no campo da , assim como é a Lei 10.639/2003, que ajuda o povo brasileiro a conhecer sua própria história determinando a inclusão da temática História e Cultura Afro-Brasileira no  currículo oficial da Rede de Ensino”.

Durante a Reunião, a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, em sua declaração em comemoração ao título,  lembrou que o Cais do Valongo se torna, agora, mais um dos poucos sítios do Patrimônio Mundial a lembrar a história da escravidão.

“Esse Sítio Arqueológico é único pois representa os milhões de africanos que foram escravizados e que trabalharam para construir o Brasil como uma nação, gerando a maior população de negros fora da África no mundo. Estamos celebrando a Década Internacional de Afrodescendentes da ONU e a inscrição desse Sítio na Lista reafirma o papel do Brasil como um lugar de diversidade e não somente um local de memórias dolorosas”, disse a presidente.

dossiê de candidatura ao Patrimônio Mundial começou a ser preparado em 2014, coordenado pelo antropólogo Milton Guran e elaborado pelo Iphan, em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro.

Critério para o reconhecimento do Cais do Valongo

O valor excepcional universal do Cais do Valongo, reconhecido pela UNESCO, atende ao sexto critério dos 10 estabelecidos no Guia Operacional para a Implementação da Convenção do Patrimônio Mundial.

Estar diretamente ou materialmente associado a acontecimentos e tradições vivas, ideias ou crenças, obras artísticas e literárias de significação universal excepcional é o critério VI do Guia para a Implementação da Convenção do Patrimônio Mundial.  Conforme argumentos apresentados no dossiê de candidatura, o Cais do Valongo se encaixa neste critério, pois é um exemplo de sítio histórico sensível – que desperta a memória de eventos traumáticos e dolorosos e que lida com a história de violação de direitos humanos. Portanto, o Cais do Valongo materializa memórias que remetem a aspectos de dor e sobrevivência na história dos antepassados dos afrodescendentes, que hoje totalizam mais da metade da população brasileira e marcam as sociedades de outros países do continente americano.

Outras 33 candidaturas de diversos países também foram avaliadas durante a 41ª Reunião do Comitê do Patrimônio Mundial. Saiba quais foram elas. Conheça também os outros sítios brasileiros já inscritos na Lista.

Saiba mais sobre a candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio Mundial, no site do Iphan e veja material gráfico sobre o Cais do Valongo produzido para a distribuição durante a Reunião.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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