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Carnaval e Literatura

Carnaval e Literatura

Carnaval e Literatura. A diversidade brasileira na literatura carnavalesca: a ideia de Carnaval pode ser analisada sob o olhar de diversos autores que reforçam a nossa admiração por essa festividade. Músicas, poemas, contos e diversas outras produções podem servir de recomendação para quem deseja recordar das carnavalescas durante tempos de isolamento.

 
Por Arthur Wentz
 
A diversidade brasileira na literatura carnavalesca
 
O carnaval é uma das festas que representa muito sobre quem somos e o que produzimos. Essa festividade chegou ao em meados do século XVII. Existem, no entanto, diversas maneiras de entrar no ritmo e fazer a festa, seja pelos belíssimos carros alegóricos do sudeste, pelo trio elétrico que escancara a beleza nordestina ou pelos bloquinhos espalhados pelo brasil, do Oiapoque ao Chuí .
E nessa história, nossa tão amada literatura também ganha espaço, trazendo a festividade com um tom dramático, romântico, crítico e reflexivo .
A ideia de Carnaval pode ser analisada sob o olhar de diversos autores que reforçam a nossa admiração por essa festividade. Músicas, poemas, contos e diversas outras produções podem servir de recomendação para quem deseja recordar das memórias carnavalescas durante tempos de isolamento.
 
O AMOR E A SENSUALIDADE CARNAVALESCA SOB O CONTO DE CAIO FERNANDO DE ABREU
 
É através da escrita do grandioso, revolucionário e impressionante Caio Fernando de Abreu que o Carnaval se torna uma festa palco para um conto cheio de emoções, “Terça-Feira Gorda” traça de forma linear um amor ao “primeiro toque” e assim as diferentes formas de amar.
“De repente ele começou a sambar bonito e veio vindo para mim. Me olhava nos olhos quase sorrindo, uma ruga tensa entre as sobrancelhas, pedindo confirmação. Confirmei, quase sorrindo também, a boca gosmenta de tanta cerveja morna, vodca com coca-cola, uísque nacional, gostos que eu nem identificava mais, passando de mão em mão dentro dos copos de plástico.”
 
Através de uma narrativa muito bem construída o texto problematiza questões de extrema importância na atualidade, a homofobia estrutural, juntamente com seus preceitos da que motiva um dos piores medos, o medo de amar quem se ama.
 
“Veados, a gente ainda ouviu, recebendo na cara o vento frio do mar. A era só um tumtumtum de pés e tambores batendo. Eu olhei para cima e mostrei olha lá as Plêiades, só o que eu sabia ver, que nem raquete de tênis suspensa no céu. (…)”
 
Assim, o texto de Caio traz uma belíssima interpretação acerca da diversidade presente nos arredores do Brasil e do mundo, mostrando que é possível amar quem se ama e viver com direitos, sem medo de ser feliz.
 
CECÍLIA E A REFLEXÃO FILOSÓFICA EM  “DEPOIS DO CARNAVAL”
 
A saudosa Cecília, nos deu a honra de saborear uma crônica com a temática carnavalesca, sob uma ótica sentimental e cheia de traços filosóficos que dá gosto e prazer de ler. A autora também ressalta a importância do carnaval para o povo brasileiro que aparenta negar sua própria identidade.
 
“Somos um povo muito variado e mesmo contraditório: o que para alguns parecerá defeito é, para outros, encanto. Quem diria que tantas pessoas bem comportadas, e aparentemente elegantes e finas, alimentam, durante trezentos dias do ano, o modesto sonho de serem ursos, macacos, onças, gatos e outros bichos? Quem diria que há tantas vocações para índios e escravas gregas, neste país de letrados e de liberdade?”
 
Ao longo do enredo Cecília remonta a melancolia do pós carnaval, traçando sentimentos genuínos da interiorização da tristeza e o pensamento misantrópico.
 
“Mas, agora que o Carnaval passou, que vamos fazer de tantos quilos de miçangas, de tantos olhos faraônicos, de tantas coroas superpostas, de tantas plumas, leques, sombrinhas…?”
 
A crônica só ressalta o quanto o Carnaval é importante para o narrador, que,se declara como um eu-lírico preocupado com o seu próprio ser e promove uma reflexão extremamente importante – o que será de nós depois do carnaval?
 
LIMA BARRETO E A EXPRESSÃO DA NOSSA ALEGRIA
 
Se existe um escritor apaixonado pelo carnaval, certamente ele se chama Lima Barreto. O brasileiro dedicou-se a diversas crônicas e textos que traçam a importância da festa carnavalesca.
Com uma escrita cheia de detalhes, em “O Morcego” vem à tona detalhes minuciosos sobre o carnaval brasileiro, destacando como um evento interessante para a mistura do públicol, com a presença de “criadas, patroas, doutores, soldados (…)” (BARRETO. 1915)
 
“O carnaval é a expressão da nossa alegria. O ruído, o barulho, o tantã espancam a tristeza que há nas nossas almas, atordoam-nos e nos enchem de prazer.
Todos nós vivemos para o carnaval. Criadas, patroas, doutores, soldados, todos pensamos o ano inteiro na folia carnavalesca.”
 
As crônicas carnavalescas de Lima chamam atenção, porque ao invés de uma abordagem acerca do carnaval, trabalha com o efeito que esta festividade traz nas pessoas, traçando assim a crítica, a felicidade, o medo e demais sentimentos.
 
A MELANCÓLICA LEMBRANÇA DE CARNAVAL PARA CLARICE LISPECTOR
 
Com o conto “Restos de Carnaval”, Clarice dedica espaço para uma abordagem significativa de sua vivência quando mais jovem com o carnaval. Destaca um carnaval sob seus olhos ingênuos de uma infância vivida com a turbulenta e tensa movimentação da casa com a doença da mãe.
 
“Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça – eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável – e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.”
 
A história segue sob uma lembrança de felicidade da ingênua Clarice, quando a mãe de uma amiga lhe faz uma fantasia com as sobras de papel crepom utilizados na fantasia da filha, destaca o sentimento como maravilhoso.
“Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas – à idéia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morreríamos previamente de vergonha – mas ah! Deus nos ajudaria! Não choveria! Quanto ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.”
 
O desfecho da triste história se dá pela surpresa do leitor que se encanta com a doce ingenuidade da menina Clarice, que se diz feliz por estar como sempre quis e aponta alí um determinado ponto que durante a narrativa não fora exposto, a felicidade vem junto a um garoto que segundo descrito – uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz.
 
CARTOLA, PAI DO CARNAVAL DOS CONTRASTES
 
O mangueirense Cartola também é um importante protagonista do carnaval brasileiro, ele que desde os oito anos já participava de bloquinhos sempre deixou claro seu amor pelo carnaval e por sua saudosa escola, a Estação Primeira de Mangueira.
É evidente seu amor pelo carnaval em diversas músicas, mas em “Deixa Pra Lá” marcada pela bela interpretação de Leci Brandão, com seu sentimento de desapego e “Pudesse Meu Ideal” com a ideia de reencontrar o Brasil com suas cores e seus momentos de festividade é possível enxergar duas visões acerca do carnaval.
Reparamos uma ideia melancólica em “Deixa pra lá”, “Deixa, não perturbe a sua vida, carnaval já vem aí/vou brincar com o povo na avenida, descobrindo o que não vi/Se você tem idéia e não pode falar:/Deixa pra lá(…)” e a festividade em “Pudesse Meu ideal”, “Pudesse meu ideal/Que é o Carnaval/De encantos mil/Valorizar neste poema/Cor de anil/Verossímil/E levá-lo coroado/Pelas galas da História/Relembrando a /Do meu querido Brasil”.
Seria Cartola necessário para alegrar ou sentimentalizar de novo o povo brasileiro, trazendo a ele esperança para contrariar toda a ignorância que tem nos levado ao caos?
 
NA ATUALIDADE, A CANÇÃO “DÓI SEM TANTO” DE ANAVITÓRIA
 
boom do duo AnaVitória desencadeou na atualidade um novo estilo de produzir , e assim, música, descrito por muitos como pop rural e assim resgatando traços da MPB às paradas de sucesso brasileiro.
A canção “Dói Sem Tanto” explora o momento onde determinado relacionamento se torna uma prisão e não liberdade, trazendo assim os lados positivos de se estar junto, mas também o sentimento de ausência.
O Carnaval surge na letra como fonte de subjetividade e sentimento de alegria, dizendo que é importante o relacionamento, mas que ele deve ser símbolo de autonomia, liberdade, felicidade e principalmente respeito entre ambos.
 
“Abandonando todas as defesas/ Distribuindo minhas cartas em todas as mesas/ Fazendo carnaval em terça-feira”
 
Vivemos em um país onde a diversidade é algo recorrente e precisamos dessa para construir cada vez mais uma sociedade rodeada pelo respeito e fraternidade. O Carnaval é mais uma manifestação brasileiríssima que mostra o quanto nosso povo merece espaço e a nossa cultura respeito.
 
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Arthur Wentz e  é Estudante de Técnico em Biotecnologia e Coordenador do Grêmio Estudantil no IFG – Câmpus Formosa. Pesquisador do PIBIC-EM, pelo CNPq.
 
Arthur Wentz
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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