Carta para Weintraub: “quando tiver uma oportunidade de ficar calado

Por Felipe Rosa

Caro ministro,

Em entrevista recente ao jornal de São Paulo o senhor afirmou, entre outras coisas, que as universidades brasileiras têm “muito desperdício” relacionado a “politicagem, ideologização e balbúrdia”, que algumas “têm Cracolândia”, que no “todo quer uma bolsinha” e, finalmente, que seu filho estudaria em Portugal, ou no Chile, ou “fora do Brasil”, mas “na federal de Minas é que não vai”.

Ao ouvir acusações e críticas tão sérias quanto essas, poderia-se imaginar que o senhor teria diversos exemplos de malversação de bolsas e pedras de crack pra mostrar, mas qual não é a nossa surpresa ao descobrir que o número de vezes que o senhor visitou alguma pública enquanto ministro é… zero! Nenhuma vez! Donde apenas resta concluir que o senhor – o ministro da educação mais ignorante em universidades da do Brasil – só as conhece pelos escritos do “guru” Olavo de Carvalho, que visita as universidades brasileiras na mesma frequência que o senhor

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Ao dizer que todos queremos “uma bolsinha”, não pense que não percebemos sua intenção de passar à população a imagem de que somos uns “encostados” em busca da proverbial “boquinha”. O Brasil hoje é o 14º maior produtor de conhecimento do mundo, com cerca de 80 mil artigos publicados apenas no ano passado e mais de 10 milhões de citações a nós desde 1996. A maioria esmagadora de todo esse só foi possível graças às agências de fomento, entre elas o CNPq e a CAPES. Nos diga uma coisa, ministro: de onde você acha que veio a viabilidade do pré-sal? Nosso programa de vacinas? A conexão entre o vírus da zika e a microcefalia? O senhor acha que essas coisas “caíram do céu”? Pois nós estamos aqui pra te dizer que, em vez de praticar “doutrinação comunista” (ou qualquer bobagem que o valha), estamos trabalhando para que mais desses avanços se materializem e beneficiem a população brasileira.

Finalmente, com relação a estudar ou não na Universidade Federal de Minas Gerais, essa é uma decisão que cabe apenas ao senhor e seu filho. Por outro lado, o senhor deveria saber que, de acordo com o ranking do Times Higher Education, enquanto o Chile tem 8 universidades entre as 1000 melhores do mundo e Portugal tem 13, o Brasil tem 15 (e, entre elas, a UFMG). Assim sendo, desdenhar da universidade pública brasileira tem pouco a ver com números e muito a ver com uma severa síndrome de vira-lata que infelizmente aflige membros importantes do governo Bolsonaro.
Ou seja, ministro: quando tiver uma oportunidade de ficar calado, aproveite-a. E trabalhe.

Atenciosamente,
Felipe , diretor da AdUFRJ
e vice-presidente eleito

Fonte: Adufrj


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Leia a – Edição Nº 81


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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