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Cerrado Indígena: uma dívida com a história e um buraco na consciência

Cerrado Indígena: uma dívida com a história e um buraco na consciência

O sol ainda tingia de dourado as folhas do buriti, quando pela primeira vez o indígena pisou nessa nossa terra Pindorama. Isso foi há muito tempo; de lá para cá, mais de 550 gerações se passaram. No início eram grupos nômades, caçadores e coletores. Muito tempo depois, eles se transformaram em agricultores e colonizaram os verdejantes vales desta terra. 

Por Altair Sales Barbosa

Aqui, implantaram suas grandes aldeias e seus roçados. E assim viviam, tranquilos, respeitando a riqueza do ambiente e as fronteiras que estabeleceram.

Depois que os troncos e as famílias linguísticas se formaram, Tupi foi para o norte, Guarani para o sul, Tupinambá para o litoral, e os guerreiros Jê povoaram o centro da América do Sul. 

Entretanto, como antropólogo e arqueólogo, sinto-me na obrigação de esmiuçar, com dados concretos, os passos dessa história, mesmo que de forma muito resumida.

OS POVOS DO CERRADO

A região do Cerrado é um ponto de encontro entre a Amazônia, o Nordeste e o Sul do país. O planalto é recortado pelos rios das três grandes bacias brasileiras (do Amazonas, do Paraná e do São Francisco), acompanhados de matas de galeria, ora mais ora menos largas. 

No encontro dos rios das três bacias formou-se uma extensão maior de floresta, conhecida como Mato Grosso de Goiás. As áreas de matas oferecem solos para cultivos, a serem instalados no começo das chuvas. Por outro lado, o Cerrado é muito rico em caça e em grandes variedades de frutos, que podem complementar a agricultura no começo das chuvas. Os rios proporcionam muito peixe no começo da estação seca.

Muito antes dos horticultores ceramistas, os caçadores e coletores pré-cerâmicos já se haviam esparramado pelo território cerratense, utilizando os recursos de acordo com suas necessidades e em conformidade com sua tecnologia. Não se tem ainda nenhuma ideia de quando e como se instalaram os cultivos.

Aparentemente, eles não surgiram nessa área, porque as diversas tradições tecnológicas até agora estudadas pertencem a horizontes mais amplos e as datas mais altas para horticultores já instalados se encontram fora da região. 

Faz exceção a Tradição Uru, até agora só conhecida no oeste de Goiás, mas que certamente ultrapassa os seus limites em direção ao estado de Mato Grosso, ainda não pesquisado. 

Os cultivos poderiam ter chegado através da migração de grupos horticultores ou pela aculturação dos caçadores e coletores anteriormente aí presentes, que os poderiam ter recebido de vizinhos. É possível que ambos os fenômenos tenham ocorrido. 

Certamente não se pode mais resumir todo o jogo do povoamento em deslocamentos de grupos já prontos, por que sobra a pergunta: onde se formaram? 

Como nas outras áreas do mundo, os sistemas agrícolas desenvolvidos por populações indígenas, como as de Goiás, são o resultado final de um longo processo de experimentação, de coleta, cultivo e domesticação, desenvolvimento e empréstimo de técnicas de um ajustamento da sociedade.

Talvez a transição do período úmido e quente do altitermal para um período mais seco e ameno, fato que ocorreu por volta de 6.000 anos antes do presente (A.P.), fosse a ocasião do aparecimento da agricultura na região. 

O fato é que no centro do Brasil ainda se desconhece por completo todo o processo, porque depois dos caçadores se encontram de repente, já formados, os horticultores ceramistas, num tempo em que o ambiente supostamente já era o atual. 

O mais antigo até agora detectado é denominado pela arqueologia como Fase Pindorama, supostamente horticultor, que já tem cerâmica ao menos desde 2.500 anos A.P. Toda essa denominação se refere à classificação usada pela arqueologia. Depois aparece a Tradição Aratu/Sapucaí, a Una, a Uru e a Tupiguarani.

As diferentes Tradições (cerâmicas) de horticultores exploram ambientes e cultivos diversos. A Tradição Una coloniza vales enfurnados, geralmente pouco férteis, com predominância de cerrados, usando como habitação os abrigos e as grutas naturais e como economia uma forte associação de cultivos, onde predomina o milho, com a caça e com a coleta. 

Imagina-se que a população se distribuía em pequenas sociedades, mais aptas para explorar os recursos diversificados que poderiam alcançar do seu ponto de instalação: o rio próximo, a pequena mata de galeria, o cerrado e muitas vezes o campo no alto do chapadão. Este ambiente não é disputado pelos grupos que constroem suas aldeias em áreas abertas.

A Tradição Una, com menos domínio sobre as áreas abertas, disputadas pelos aldeões da Tradição anterior, se comprime numa faixa entre estes e as populações coletoras e cultivadoras do planalto meridional, tradicionalmente conhecidas por suas aldeias de casas subterrâneas. 

Não obstante essa sua posição marginal, é nela, fora da Amazônia, que estão as datas mais antigas para a cerâmica; talvez seja ela uma forma de cultura anterior ao desenvolvimento dos aldeões e, quem sabe, a origem deles.

Os primeiros aldeões conhecidos são os da Tradição Aratu/Sapucaí. Seus domínios são os contrafortes baixos das serras do centro-sul e leste de Goiás, especialmente as áreas férteis e mais florestadas do Mato Grosso de Goiás, onde podem instalar uma economia mais fortemente dependente de cultivos, mas provavelmente sem dispensar a exploração dos frutos do Cerrado, a caça e a pesca. 

Sua população é numerosa e nenhum outro grupo conseguiu infiltrar-se no seu território que, por seus recursos, deveria ser muito ambicionado. Suas aldeias populosas poderiam permanecer longamente no mesmo lugar e quando era desejado poderiam se deslocar para um espaço próximo, porque o território era fértil e estava sob seu domínio. 

Também o sistema de cultivo, baseado em tubérculos e provavelmente no milho, pôde resistir aos avanços dos grupos mandioqueiros da Tradição Uru e Tupiguarani.

A Tradição Uru chega mais tarde e domina o centro-oeste do estado. Avançando ao longo dos rios, ocupa terrenos mais baixos, provavelmente de pouca utilidade para os aldeões que haviam se instalados antes, mas importante para eles, por causa da locomoção e principalmente da pesca. 

Dessa forma se criou entre os dois grupos uma fronteira bastante estável, mas talvez não sempre pacífica, onde aparentemente a Tradição Aratu é mais receptiva, aceitando elementos tecnológicos selecionados, entre os quais não está a mandioca e seu processo de transformação, aceito apenas em locais restritos.

A Tradição Tupiguarani parece ser a mais recente das populações aldeãs do Cerrado. Teve um certo domínio sobre o vale do Paranaíba; a partir dele acompanha os afluentes, indo acampar nos abrigos anteriormente habitados pela Tradição Una. 

Também tem aldeias dispersas na bacia do Alto Araguaia, mas aparentemente sem muita autonomia, convivendo às vezes na mesma aldeia com grupos horticultores de outras Tradições. O Tupiguarani da bacia do Tocantins tem as aldeias ainda mais dispersas e, recentemente, como se realmente fosse, tal qual se imagina, populações vindas já no período colonial, esse fato contribuiu para que enfrentassem não só os demais índios aldeões já instalados, mas também os colonizadores brancos que os teriam trazido.

Se a Tradição Uru e a Tradição Tupiguarani, mandioqueiros, parecem mais próximos às culturas amazônicas, embora talvez não tenham procedência imediata de lá, a Tradição Aratu/Sapucaí faz parte de uma Tradição mais de Centro-Nordeste. 

Talvez com exceção do Tupiguarani, os representantes das outras Tradições de grupos horticultores viveram no território durante séculos sem muita movimentação, como numa terra que era deles; entre 70 e 100 gerações de horticultores sem maiores mudanças, a não ser as normais adaptações de fronteiras, onde populações mais antigas aceitavam novas tecnologias recém-vindas.

E assim viviam, até o dia em que irromperam na área homens diferentes, em grandes destacamentos armados, não interessados em plantar, colher e caçar, nem em construir aldeias entre o Cerrado e a mata, ou à beira da lagoa ou do rio. Tudo o que queriam era levar, para muito longe, gente, pedras brilhantes e ouro. 

A CHEGADA DOS CARAÍBAS E O TRUQUE DO FOGO

Os primeiros colonizadores de origem europeia que chegaram ao Cerrado eram representados pelos agrupamentos de bandeirantes.

Foi o caos. As roças foram pilhadas, as aldeias foram demolidas, as mulheres violentadas, as terras de cultivo invadidas, as pessoas morrendo de doenças desconhecidas. A guerra foi a solução ditada pelo desespero. A derrota, o aldeamento, a desmoralização, a extinção ou a fuga foram as consequências.

Esse é o tipo de relações sociais que herdamos e que molda nossa sociedade atual. Espero que esse exemplo nos faça refletir e nos impulsione para a busca de um novo alvorecer, que faça brotar em nossos corações um raminho de coragem.

A primeira bandeira sem dúvida foi comandada por Bartolomeu Bueno da Silva, o pai, no final do século XVII, e se fixou em terras que hoje compreendem o noroeste e o centro de Minas Gerais, entre os rios Paracatu e Cariranha, já no limite da Bahia, conforme os relatos de Paulo Bertran. 

Entretanto, quando Bartolomeu Bueno da Silva Junior, o Anhanguera, chega até os sopés da Serra Dourada no rio Vermelho, onde fundou o povoado de Vila Boa, e encontra o que sobrou dos Goyá, eles mostraram a ele os vestígios do acampamento onde seu pai tinha estado, há cinquenta anos. Ou seja, o massacre dos índios Goyá começou com Bartolomeu Bueno pai, que era bugreiro, caçador de índios para escravizá-los e também grande matador de indígenas.  

A ele se atribui, segundo Bertram erroneamente, a história de enganar os índios com ateando fogo em álcool e cachaça. Convém salientar que essa tática era comum entre os portugueses. Há relatos de que outros bandeirantes a usaram.  E mesmo que esses meios não tenham sido usados por Bartolomeu Bueno pai para enganar os índios Goyá, certamente era do cabedal de táticas enganosas conhecidas por Bartolomeu Bueno Junior. 

Conta o padre Silva e Souza, em O descobrimento da Capitania de Goyaz (1967) conta que o nome da Serra do Ramalho é porque é porque João Ramalho esteve por aqui, entre 1510 e 1512, aquele mesmo português foragido que se casou com filha de Tibiriçá, a índia Bartira. 

Depois que ameaçou secar as águas dos índios, botando fogo no álcool, os indígenas ficaram amigos dele e o ajudaram a fazer muitas viagens de descoberta, inclusive a que fez na Serra da Cariranha, para procurar ouro.

“GUERRA SUJA”

Desde o período colonial, a questão indígena vem sendo tratada de maneira apenas a camuflar um problema crucial: a relação de forças entre índios e brancos que sempre pendeu para o lado do homem branco. 

Essa correlação de forças se apresentava como algo inevitável e o que mais se lamenta em todo o tempo é a forma como ela se deu: o aniquilamento físico sistemático do indivíduo indígena por meio de todo tipo de “guerra suja”, comandada por capitães-do-mato, eufemisticamente chamados de bandeirantes ou sertanistas. 

Do lado do indígena, as ações mais comuns eram as razzias, que não passavam de ataques pontuais a pequenos arraiais e povoados ou a fazendas, principalmente por parte dos índios Canoeiro e Xavante. 

Outros, como os Kayapó, que habitavam os sertões à entrada da Capitania, com a chegada dos brancos simplesmente desapareceram porque foram sistematicamente massacrados no início ou porque refluíram para regiões mais distantes do eixo de mineração como única alternativa para não desaparecer como grupos humanos. 

Os Karajá, como que hipnotizados por um destino trágico que lhes parecia inevitável, renderam-se às armadilhas do homem branco – catequese, aldeamentos – e praticamente se desmantelaram como forma de organização social. Hoje são um pequeno agrupamento que vive às portas da cidade de Aruanã, em terras constantemente invadidas por proprietários de mansões de luxo ou por fazendeiros poderosos. 

Os Javaé se refugiaram na Ilha do Bananal. Como eles, outros povos reunidos em grupos e nações menores – Xambioá, Akroá, Tapuia, Canoeiro – perderam a autoconsciência que tinham enquanto povo indígena e cedo desapareceram do mundo, como os Goyá, ou se renderam ao poder do Estado ou da Igreja e lentamente se aculturaram, não mais opondo resistência ao que seria um desígnio dos deuses: a ocupação e o povoamento irresistíveis de seus territórios por forças incontroláveis. 

Os Tapuia, que surgiram da miscigenação dos índios Karajá, Xavante e Kayapó, confinados no antigo aldeamento Carretão de Pedro II com negros quilombolas, encontram-se hoje situados entre os municípios de Rubiataba e Nova América, em Goiás, e, como os Karajá, possuem uma população bem pequena.

Os Canoeiro se desenraizaram da terra em que viviam – no vale do rio Maranhão-Tocantins – e ainda continuam procurando um território para abrigar meia dúzia de remanescentes dos grandes guerreiros que foram no passado.

No Tocantins, uns poucos Xambioá ainda persistem em volta da cidade do mesmo nome. Os Apinagé e os Xerente preservaram uma parte do seu antigo território e vivem em suas reservas às portas das cidades de Tocantinópolis e Tocantínea, respectivamente. Os Krahô têm o seu território situado entre os municípios de Goiatins e Itacajá.

Os avanços de uns (os brancos) ou os recuos de outros (os indígenas) se constituíram, então, na dinâmica que caracterizou a formação territorial, o povoamento e a urbanização de Goiás e Tocantins.

POVOS INDÍGENAS DO CERRADO QUE TEIMAM EM RESISTIR NO INÍCIO DO SÉCULO XXI

O espaço contínuo do Sistema Biológico do Cerrado apresenta uma população indígena atual que se situa entre 100 e 110 mil habitantes, distribuídos principalmente em terras do Maranhão, de Tocantins, Goiás, do leste do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. 

Essa população sobrevivente engloba povos de características culturais diferenciadas, cuja situação atual e fragmentação demográfica não reflete a importância que esse espaço geográfico teve na sua fixação durante longos períodos, nem a sua verdadeira história.

Os atuais indígenas brasileiros são classificados pela utilização de padrões linguísticos. Assim, a maior categoria desse sistema classificatório é o Tronco, que por sua vez se subdivide em Família. Um Tronco Linguístico engloba várias Famílias. Uma Família pode englobar uma ou mais línguas. A Língua é a menor unidade classificatória. Uma língua pode ser falada por um ou mais povos.

Isso significa uma ancestralidade recente convergente, mas não significa necessariamente que um povo falante de uma mesma língua compartilhe os mesmos ideais ou conjuntos de ideologias, que variam desde o imaginário até os ritos do cotidiano.

Para o Brasil Central, até o momento, existem definidos três Troncos Linguísticos: Macro-Jê, Tupi e Aruak. Algumas Famílias linguísticas, tal como algumas línguas, não possuem estudos classificatórios claros. Às vezes falta um conhecimento quase que total sobre esse assunto.

GRUPOS QUE FALAM LÍNGUAS DO TRONCO MACRO-JÊ

Os povos indígenas do Cerrado que falam línguas do Tronco Macro-Jê estão concentrados nos estados de Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Tocantins.  

 

GRUPOS QUE FALAM LÍNGUAS DO TRONCO MACRO-JÊ

Grupo

Município

Estado

Língua Timbira – Família Macro-Jê

Gavião Pukobié

Amarante

Maranhão

Krikati

Montes Altos

Maranhão

Krikati/Gavião

Barra do Corda

Maranhão

Timbira/Pukobié

Grajaú

Maranhão

Canela Apaniekra

Barra do Corda

Maranhão

Canela Ramkokamekra

Barra do Corda

Maranhão

Krahô

Goiatins/Itacajá

Tocantins

Apinayé 

Tocantinópolis 

Tocantins

Gavião/Parkategê

Mãe Maria

Pará

Língua Borôro – Família Borôro

Borôro 

Rondonópolis/General Carneiro/Poxoréu

Santo Antonio do Leverger

Barão de Melgaço 

Mato Grosso

Língua Akuen – Família Jê

Xavante

Barra do Garças/

Chapada dos Guimarães/

General Carneiro/Poxoréu

Mato Grosso

Xerente

Tocantínia 

Tocantins

Língua Ofayé – Família Ofayé

Ofayé 

 

Mato Grosso do Sul 

Língua Karajá – Família não classificada 

Javaé/Karajá 

Formoso do Araguaia/ Cristalândia

(Ilha do Bananal) 

Tocantins

Karajá 

Aruanã 

Goiás 

Karajá do Norte/

Xambioá 

Araguaína 

Tocantins

 

 

GRUPOS QUE FALAM LÍNGUAS DO TRONCO TUPI

Os povos indígenas do Cerrado que falam línguas do Tronco Tupi são encontrados nos estados de Goiás, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Sul do Pará. 

 

GRUPOS QUE FALAM LÍNGUAS DO TRONCO TUPI 

Grupo

Município

Estado

Língua Tenetehara – Família Tupi-Guarani

Guajajara

Bom Jardim/Grajaú/Barra do Corda

Maranhão 

Tembé

Reserva Indígena de Turiaçu 

Maranhão

Língua Urubu – Família Tupi-Guarani

Urubu-Kaapor 

Carutapera/Candido Mendes/

Turiaçu/Monção

Maranhão

Língua Tapirapé – Família Tupi-Guarani

Tapirapé

São Félix

Santa Terezinha 

Mato Grosso

Tocantins 

Língua não definida – Família Tupi-Guarani

Avá Canoeiro 

Formoso do Araguaia/Cristalândia 

Minaçu/Cavalcante

Tocantins

Goiás

Língua Guarani – Família Tupi-Guarani

Guarani

Amambai/Sete Quedas/Eldorado

Douradinha/Dourados/Caarapó

Bela Vista/Antonio João/Ponta Porã

Takuru/Aral Moreira/Novo Mundo 

Araguatins (20 pessoas) 

Mato Grosso do Sul 

Tocantins

Língua Aikewara – Família Tupi-Guarani

Suruí do Tocantins 

 

Sul do Pará

 

GRUPOS QUE FALAM LÍNGUAS DO TRONCO ARUAK

Os povos indígenas do Cerrado que falam línguas do Tronco Aruak encontram-se concentrados basicamente no estado do Mato Grosso do Sul.

 

GRUPOS QUE FALAM LÍNGUAS DO TRONCO ARUAK  

Grupo

Município

Estado

Língua Terena – Família Aruak 

Terena

Miranda/Aquidauana

Anastácio/Dourados

Sidrolândia/Nioaque

Mato Grosso do Sul 

Língua Kinikawa – Família Aruak

Kinikawa 

 

Mato Grosso do Sul

 

Existem, ainda, no Mato Grosso do Sul, grupos indígenas do Cerrado que falam línguas cujas famílias não foram localizadas em Tronco. Outros grupos, sobretudo no Maranhão, em Mato Grosso do Sul e no Tocantins, falam línguas sobre as quais não se tem informações. E em Goiás e Mato Grosso há grupos que, infelizmente, deixaram de falar suas línguas originais. 

 

GRUPOS QUE FALAM LÍNGUAS 

CUJAS FAMÍLIAS NÃO FORAM LOCALIZADAS EM TRONCO

Grupo

Município

Estado

Língua Kadiwéu – Família Guaicuru

Kadiwéu 

Porto Murtinho 

Mato Grosso do Sul

Língua Bakairi – Família Karib 

Bakairi

Chapada dos Guimarães/Nobres 

Mato Grosso

Língua Chamacoco – Família Samuko 

Chamacoco 

 

Mato Grosso do Sul

GRUPOS DE CUJAS LÍNGUAS NÃO SE TEM INFORMAÇÕES

Camba

Corumbá

Mato Grosso do Sul

Guajá 

Bom Jardim/Santa Luzia/Imperatriz

Goiatins

Maranhão

Tocantins

GRUPOS QUE DEIXARAM DE FALAR A LÍNGUA ORIGINAL  

Tapuia 

Nova América/Rubiataba

Goiás

Umutina 

 

Mato Grosso

 

Faço esse relato no mês de abril, mês em que se comemora, no dia 19, o Dia do Índio ou Dia dos Povos Indígenas. 

Junto com as muitas fotos e alguns artigos que nesta data recheiam as páginas dos jornais e revistas e ilustram imagens na televisão, optei por aproveitar a oportunidade pra colocar esses pontos, que talvez possam esclarecer um pouco da real história e situação indígena na região do Cerrado. A compreensão dessa realidade é de fundamental importância, para que inspire em mulheres e homens das gerações presentes e futuras, a busca da construção de uma sociedade justa.

Embora marginalizada desde o início pela colonização portuguesa, a cultura indígena era tão forte, que contribuiu de forma decisiva para a formação da identidade do povo brasileiro. 

E, se penetrarmos nosso olhar apenas um pouco além das aparências, veremos que nós brasileiros e brasileiras carregamos a cada momento do nosso cotidiano vários elementos indígenas: nos gens, na alimentação, nas músicas, nos inúmeros medicamentos, nos mitos etc. 

O nosso lado de predarmos a natureza certamente não herdamos da nossa ancestralidade indígena. 

Altair Sales Barbosa – Sócio Emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. Pesquisador do CNPq. Pesquisador Convidado da UniEVANGÉLICA de Goiás. Primeiro Conselheiro da Revista Xapuri

 

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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