Tiros, terror, massacre. Novamente capangas armados torturam, matam, degolam para desocupar áreas de grandes latifúndio

Chacina de Colniza: A quem importam os assassinatos no campo?

Chacina de Colniza: A quem importam os assassinatos no campo?

Tiros, terror, massacre. Novamente capangas armados torturam, matam, degolam para desocupar áreas de grandes latifúndios. E, mais uma vez, o Estado brasileiro, que deveria ser o guardião da cidadania, é omisso frente a um conflito que ceifa vidas em todo o Brasil.

A terra como centro do conflito. A vida que não vale mais nada. No fim da manhã do último dia 20 de abril, nove pessoas foram brutalmente assassinadas.

Conforme dados divulgados pela Comissão Pastoral da Terra em seu relatório anual, 61 pessoas foram assassinadas no ano passado, o maior número já registrado desde 2003, uma média de cinco assassinatos por mês.

Os perfis das vítimas são conhecidos: indígenas, , , jovens entre 15 e 29 anos, e adolescentes. Só em 2017, já foram registrados 20 assassinatos em conflitos no campo.

E a violência não se resume a assassinatos. Ela é precedida de ameaças verbais, agressões físicas, tortura psicológica, carros que passam vigiando as casas das pessoas, entre outras maldades.

Parece que o latifúndio resolveu ter o seu abril vermelho. Vermelho com o sangue dos que lutam pela terra. O método do amedrontamento voltou a funcionar. A Gleba onde ocorreu o massacre do dia 20 de abril sofre assassinatos e agressões há mais de 10 anos.

Há dois anos as investigações da Polícia Civil indicaram que os gerentes das fazendas na região formaram e comandam uma rede de capangas altamente armados, para aterrorizar as famílias com o objetivo de expulsá-las da área.

O golpe contra a presidenta Dilma e a elevação dos ruralistas ao poder é a sinalização de quem manda no campo hoje. Uma sinalização cujos resultados não se fizeram esperar. E quem se importa? Parece que a violência virou rotina. A mídia está em silêncio.

Mas eu me importo. Me importo não só como presidenta da Comissão de do Senado, mas como pessoa que veio do campo. Sei da importância de se ter um pedaço de terra para plantar e para colher.

A Comissão de Direitos Humanos do Senado certamente fará diligência ao local para cobrar das autoridades agilidade na punição dos mandantes e dos assassinos. Continuar com essa condescendência com a violência dos latifundiários só levará a mais números recordes de assassinatos, e isso não permitiremos!

Pergunto novamente: a quem importam mais nove mortes no campo? A quem importa um fato que de tanto se repetir já se tornou cotidiano? Eu me importo!

Vim do campo, fui trabalhadora rural. Tenho em mim as felicidades e as dores que vivi a cada dia de pela sobrevivência. Minha família trabalhou em terras que não lhe pertenciam, e o que nos restava era o mínimo para permanecermos vivos.

Eu sei, com a experiência da minha vida, a importância que tem para as pessoas do campo terem um lugar para plantar, colher e viver. Viver com dignidade depende disso. E o direito de lutar por isso é sagrado!

SOBRE A CHACINA DE COLNIZA

No dia 19 de abril, um grupo de homens encapuzados invadiram os barracos de uma comunidade rural em Taquaruçu do Norte, localizada a mais de 350 km da zona urbana de Colniza, município a 1.065 km de Cuiabá, onde moram cerca de cerca de 100 famílias. Durante o ataque, nove trabalhadores rurais foram brutal e violentamente assassinados. Embora se tenha de que três delegados e mais de 10 investigadores, além de peritos e policiais militares, atuam para identificar os autores do crime, nem os pistoleiros, nem mandantes do crime foram presos até o momento.

Regina Sousa blusa rosa

Regina Sousa é Senadora pelo PT do Piauí e presidenta da Comissão de Direitos Humanos do Senado da República. Este artigo foi publicado na revista  Xapuri, edição impressa, de maio de 2017. A foto desta matéria é apenas ilustrativa da vida do trabalhador rural e não está relacionada ao massacre de Colniza.

Atualização; Regina Sousa é hoje vice-govenadora do Piauí pelo .


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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