Há 30 anos de seu assassinato, Chico Mendes Vive Mais!

Chico Mendes Vive Mais!

Por: Tião Viana

Na verdade quando o Chico construída esse movimento, transformando a defesa dos povos da floresta em uma ação de defesa do , em um processo de desenvolvimento compatível com a dignidade humana, com o respeito a todos os seres que vivem em torno de nós, eu estava lá na foz do , em Belém, fazendo Medicina, militando no movimento estudantil, desde 1982, e já pensando como, na minha volta, fazer uma reforma sanitária aqui no meu estado [do Acre] . Eu acompanhava à distância esse conflito e essa agenda transformadora que o Acre vivia.

Do Pará, eu vivia aquele movimento que acontecia na minha como um movimento pelos em que o Dom Moacyr [Grecchi], que era uma espécie de pilar de sustentação dessa obra de uma geração inteira, colocava os fundamentos criando as Comunidades Eclesiais de Base, apoiando a criação dos Sindicatos dos Rurais e estabelecendo os fundamentos éticos para a nossa geração, que era vítima, ao mesmo tempo, do que remanescia dos ciclos da borracha e de um processo migratório trazido por uma expansão econômica muito forte, que se chocava com a nossa cultural.

Conheci o Chico Mendes em um dos muitos encontros sobre as eleições diretas; tive minhas primeiras conversas com ele no jornal Varadouro; e, juntos tivemos outros diálogos na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, onde também militava o Abrahim Farhat, o Lhé, no fortalecimento do Sindicalismo e de uma ação libertadora da Amazônia contra a opressão e a violência que estava instalada no campo. Outras vezes encontrei o Chico de forma rápida nas várias reuniões de militantes que à época aconteciam em Rio Branco.

A conversa mais demorada e profunda que tive com o Chico foi num voo de Rio Branco a Brasília uns dois meses antes dele morrer, onde pude ouvir mais sobre suas preocupações com o que estava acontecendo no Acre. Ele me falou da dificuldade porque passava a a atividade extrativista da borracha e da sua preocupação com a entrada da pecuária no nosso estado. Eu vivi aquele momento querendo aprender muito com o Chico, nesse diálogo forte que tivemos durante aquela viagem para Brasília.

Na nossa conversa havia por parte do Chico uma grande preocupação com a violência e com as ameaças que ele sofria naquele momento. Do meu lado, eu relatei pra ele a minha vontade de avançar mais na luta ideológica através do movimento estudantil. Expliquei sobre a minha vontade de finalizar o meu curso de Medicina para voltar ao Acre e fazer uma reforma sanitária no estado. Com aquele olhar diferente que o Chico passava, o tom da nossa conversa me marcou muito.

O diálogo com o Chico despertou muito a minha atenção porque o meu irmão Jorge Viana, que começou a militância dele no movimento estudantil em Brasília e já havia voltado para o Acre e se vinculado a esse processo de organização dos trabalhadores com uma visão de desenvolvimento diferente, com uma visão de que nenhum tipo de monopólio seria bom para o Acre, já era companheiro e já falava muito do Chico Mendes e das lutas dos em Xapuri.

O Chico apresentou a do simples, da humildade, a grandeza e a força dele estava exatamente na humildade, na simplicidade, mas com ideias capazes de chegar e tocar desde os mais simples os maiores dirigentes do país, porque ele mostrava uma ideia de felicidade pela atitude de organizar, de resistir, de defender e de acreditar na força e na grandeza humana. Então, no pós-Chico, tudo isso foi muito importante para a minha formação.

E ali já tinha um personagem fantástico que era o semeando a ideia da organização dos trabalhadores para um novo Brasil, um Brasil justo e verdadeiro em que a classe trabalhadora pudesse ter voz. Isso tudo contaminou a minha geração, que foi influenciada pela organização dos trabalhadores a partir do movimento intelectual que criou o PT, do movimento operário que criou o PT, do movimento das comunidades de base que criou o PT, e do movimento estudantil que eu ajudei a edificar na transição da ditadura para a redemocratização do Brasil.

Então eu sou personagem e aprendiz dessa história.  Esse foi o lado fantástico da minha , e esses fundamentos estão definitivamente incorporados aos meus valores humanos, aos meus valores éticos e ao meu sonho de viver com felicidade na Amazônia e no nosso Acre, onde eu sei que ainda vamos construir os melhores indicadores de vida do Brasil, porque para os problemas nós também temos ao alcance das mãos as lições aprendidas do Chico Mendes.

Hoje, como governador do Acre, ao registrar essa data marcante do assassinato do Chico, estou certo de que expresso a opinião do meu estado, que meu deu o privilégio de fortalecer a proposta para que o  nome do Chico Mendes [nos 25 anos] fosse inscrito no Panteão dos Heróis Brasileiros: Chico Mendes Vive Mais!

Chico Mendes Sindicato

ANOTE AÍ:

Tião Viana, o governador do estado do Acre, concedeu este depoimento jornalista Zezé Weiss, por ocasião dos 25 anos do assassinato de Chico Mendes. O depoimento foi incluído na 2a edição do livro Vozes da Floresta, publicado pelo Senado Federal no ano de 2015.

Ti%C3%A3o Viana uolFoto: UOL

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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