CNA planeja usar reconhecimento facial para rastrear gado no país
Fazendas piloto devem receber o sistema ainda este ano, diz Confederação da Agricultura e Pecuária. Reconhecimento facial é similar à biometria facial de humanos.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vai testar, ainda em 2023, o uso da biometria facial de bovinos como ferramenta de rastreabilidade individual do gado no país. A tecnologia é similar à identificação facial de humanos hoje usada em aeroportos e sistemas de segurança.
A ideia da CNA é que o reconhecimento facial possa substituir as marcações a fogo e brincos de rastreamento hoje utilizados para segurança sanitária animal e na emissão de Guias de Trânsito, exigidas para exportação da carne bovina e principal ferramenta usada para identificar se a carne produzida não está atrelada ao desmatamento ilegal.
Segundo João Paulo Franco da Silveira, coordenador de produção animal da CNA, a expectativa da entidade é que até o final do ano o sistema já esteja implementado em fazendas piloto espalhadas pelo país.
“Nós já conversamos com seis empresas que têm a tecnologia e a gente vai levar um projeto piloto para campo. Nossa ideia é distribuir isso no Brasil inteiro, em propriedades grandes, médias e pequenas. Se o objetivo é rastrear 100 % do rebanho, eu tenho que entender se o seu Zé lá do norte de Minas vai conseguir identificar a vaca dele ou o bezerro de leite dele, assim como um grande produtor no Mato Grosso faz”, disse Silveira, em entrevista a ((o))eco nesta terça-feira (20).
A tecnologia de identificação facial de bovinos é nova no país e atualmente trabalha com simulação de crescimento, já que a foto tirada na ponta da cadeia – a do bezerro, na fazenda de cria – será bem diferente da imagem feita antes do abate, com o gado já adulto, no final do ciclo.
De acordo com Silveira, o nível de acerto do sistema de simulação é de 90%, mas a CNA vai verificar, nas fazendas piloto, se a imagem simulada pelo sistema computacional realmente corresponde à fisionomia do animal crescido.
Para isso, a entidade vai acompanhar o crescimento do gado, tirando fotos dos bezerros selecionados para controle aos três, seis e doze meses. As fotos serão confrontadas com os resultados gerados na biometria, para verificação de sua acuidade.
“Nós não temos ainda, de fato, essa avaliação real ao longo do tempo, sem ser a simulação. O que queremos fazer é avaliar e ver se a ferramenta é realmente capaz de identificar esse animal ao longo da vida dele”, explicou.
Após validação, o sistema ainda deve passar por homologação no Ministério da Agricultura e Anvisa.
“Já estamos articulando um grupo de trabalho. Essa conversa com as empresas [que detêm a tecnologia de identificação animal] já aconteceu, as empresas já estão selecionadas e agora estamos buscando as federações, para que as federações indiquem quais vão ser as propriedades que a gente vai trabalhar, para que possamos levar o sistema, implementá-lo e avaliá-lo ao longo do tempo. A nossa ideia é que até o final deste ano isso já esteja rodando no campo”, disse.
Cristiane Prizibisczki – Jornalista. Fonte: O Eco. Foto: Márcio Isensee e Sá. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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