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Salles abre ‘guerra’ contra meio ambiente

Com Salles no ministério, Bolsonaro abre ‘guerra’ contra meio ambiente

Redação Capital

No último final de semana, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, concluiu a montagem do primeiro escalão de seu governo. Foi Ricardo Salles, ex-secretário do de São Paulo durante a gestão Geraldo Alckmin, o último nome a ser apresentado, para a pasta correspondente na administração federal.

No ministério do ex-capitão, há membros do alto oficialato das Forças Armadas, há uma equipe econômica, há o ministro e há ministros que são identificados mais essencialmente com o discurso e a figura de Jair Bolsonaro. Ricardo Salles faz parte do último grupo.

Assim, a pasta e a questão ambiental no país estarão a partir de agora sob esta esfera. A do discurso e da figura de Jair Bolsonaro.

Os especialistas estão preocupados.

O ministro indicado, Ricardo Salles, de 43 anos, foi secretário estadual (Meio Ambiente) de São Paulo em 2016 e 2017. Sua saída do cargo se deu pelo desgaste gerado por sucessivos enfrentamentos com líderes ambientalistas e por investigações do Ministério Público por questões diversas, mas sempre ligadas à pasta que dirigia, como suspeita de facilitações fraudulentas a empresas mineradoras e falseamento de documentações e licenças ambientais.

Tudo isso sob a livre cobertura da imprensa, ainda disponível na internet. Também se registrou, na época, que Salles estava deixando o cargo por desejo de seu próprio partido, então o PP, componente da base de sustenção de Alckmin. Sua lista de filiação até a presente data: PFL, PP, DEM e NOVO, este último sua atual legenda.

Antes da experiência na área ambiental, Salles, que é advogado por formação, em 2006, fundou e passou a presidir o movimento “Endireita Brasil”, da sociedade civil, por valores conservadores e pelo fim da bandalheira.

Entre os feitos da entidade, está a instituição do autoproclamado Dia da de Impostos, todo 25 de maio, desde 2007, em que, por meio de parcerias, postos oferecem gasolina com o desconto de todos os impostos, para mostrar o tamanho da carga tributária nos combustíveis. O grupo também já se dedicou a campanhas na internet contra políticos, chegando a oferecer 1.000 reais para que alguém hostilizasse Ciro Gomes em um restaurante. É fato, ao alcance de um clique. E há muito mais.


Senso comum x Planejamento técnico

 

A bióloga Sueli Kakinami é consultora ambiental. Atua no setor privado, em uma empresa que oferece serviço de e planejamento para empreendedores que desejam ter seu pedido de licenciamento ambiental aprovado. Seu é técnico e não ideológico. Em entrevista à CartaCapital, ela disse: “Em muitas questões importantes, o futuro governo Bolsonaro parece se aproximar mais de opiniões do senso comum do que de um posicionamento e um planejamento técnicos”.

Em especial, ela se refere às regras para o licenciamento ambiental. Para executar uma obra no Brasil, é obrigatório por lei que se faça estudos dos impactos ambientais que a empreitada irá causar e que se proponha medidas mitigadoras dos danos calculados. Se o poder público entender que este planejamento atende à lei, então são emitidas as licenças ambientais, e a obra em questão pode ter início.

Segundo apontam os especialistas, é no afrouxamento dessas exigências legais – cujo desejo manifesto de Bolsonaro em fazê-lo é público e não é de hoje – que reside uma das maiores ameaças aos sistemas de proteção ambiental existentes no país.

Adriana Ramos, coordenadora do Programa de Políticas e Direitos do ISA (Instituto Socioambiental, instituição de referência na área), disse à CartaCapital:

O indicado para a pasta do Meio Ambiente não é um quadro técnico. Sua indicação, de viés ideológico, é coerente com a fragilização da gestão ambiental sinalizada pelas manifestações anteriores do presidente eleito

De resto, Jair Bolsonaro já manifestou o desejo e fez a promessa de juntar em uma só pasta os ministérios da e do Meio Ambiente. Não pegou bem nem com os ruralistas. Ele recuou. Mais de uma vez foi e recuou nessa questão.

Também já disse mais de uma vez que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) opera uma “indústria da multa”, que pune – por convicção ideológica e/ou interesses econômicos escusos – os produtores rurais brasileiros, não raro o fazendo em conluio com forças internacionalistas que podem chegar até a ameaçar a soberania territorial brasileira. Isso não é inventado. Ele diz essas coisas. Está registrado.

Assim resume Claudio Angelo, coordenador do Observatório do Clima, uma rede fundada pela Fundação Getúlio Vargas que reúne 37 entidades da sociedade civil brasileira com o objetivo de discutir as mudanças climáticas:

“É a primeira vez que teremos um ministro do Meio Ambiente que assumidamente se opõe à agenda ambiental, que questiona a veracidade do , que põe em dúvida todos os avanços conquistados pelo Brasil desde a ECO 1992. Toda a política ambiental brasileira, ancorada nos pressupostos e aferimentos científicos, é agora colocada sobre questionamento. É muito grave.”
 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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