27/07/2017- Paraty- Mesa Zé Kleber - Aldeia - Álvaro Tukano Álvaro Tukano Ivanildes Kerexu Pereira Laura Maria dos Santos A convivência e a fruição do território que vêm de sabedorias ancestrais são os principais temas deste diálogo entre três pensadores líderes de suas comunidades – dois indígenas e uma quilombola – que têm cada vez mais ressonância em todo o país. Mediação: Claudia Antunes Foto: Iberê Perissé/Flip
27/07/2017- Paraty- Mesa Zé Kleber - Aldeia - Álvaro Tukano Álvaro Tukano Ivanildes Kerexu Pereira Laura Maria dos Santos A convivência e a fruição do território que vêm de sabedorias ancestrais são os principais temas deste diálogo entre três pensadores líderes de suas comunidades – dois indígenas e uma quilombola – que têm cada vez mais ressonância em todo o país. Mediação: Claudia Antunes Foto: Iberê Perissé/Flip

Como o povo YE´PA MASA ganhou por apelido a palavra “tukano”

Como o povo YE´PA MASA ganhou por apelido a palavra “tukano”

A palavra tukano não tem nada a ver com a nossa verdadeira história do povo YE´PA MASA. A palavra tukano é apelido. Vou explicar. 

Por Álvaro Tukano 

No dia 22 de abril de 1500 os portugueses denominaram os nativos do Brasil de índios. Esse nome foi interpretado de maneira errada, pois eles pensavam estar na Índia. O apelido genérico “índio” não dá mais para apagar da página da história da colonização do Brasil.

Igualmente o nome tukano foi registrado pelos estudiosos e missionários que estiveram em nosso meio. Como os nossos antepassados não sabiam falar a língua portuguesa, não explicaram aos estudiosos sobre as coisas do passado. A palavra tukano não tem nada a ver com a nossa verdadeira história do povo YE´PA MASA. A palavra tukano é apelido. Vou explicar.

Dizem os velhos que, certo dia, um grupo de pessoas de nossos antepassados foi fazer visita a uma comunidade, provavelmente de outra tribo. Geralmente o nosso povo adora conversar e vive sempre feliz; aprende muitos ensinamentos ouvindo as histórias dos velhos e, depois, repassam-nas para outros parentes mais próximos. Os homens gostavam de falar muito e isso sempre chamavam a atenção de outros mais calados e desconfiados.

Enfim, os nossos antepassados chegaram à comunidade e foram bem recebidos pelos chefes e pelo povo em geral. Assim que terminaram os cumprimentos de boas vindas, mantendo o costume dos nossos povos, uma bela moça daquela tribo ofereceu-lhes a panela de pimenta, beiju e mingau.

Naquele momento, todos se serviram da pimenta e pararam de falar. Então, a moça ficou observando em silêncio e disse: “Ah, quando não comiam a pimenta vocês falavam e riam demais. Agora, todo mundo está quieto e não fala mais nada! Então, vocês são como os tucanos (pássaros) que quando comem as frutas ficam quietos…” Ao ouvir essa observação da moça todos riram.

Foi assim que nasceu o apelido tukano (ou DASE, que significa “tucano” em nossa própria língua) que ficou gravado na mente deles para sempre.

E, de fato, foi uma bela observação da moça. A “rádio cipó” funcionou muito bem e outros devem ter repetido esse apelido que nunca mais foi esquecido por tantas pessoas. E quem não conhece bem a  nossa história acha que somos descendentes do pássaro tucano. Isso não é verdade.

Foto: autoria não identificada

Álvaro Tukano – Introdução do livro “O Mundo Tukano antes dos Brancos”, Edição Ayõ – Instituto de Ciências e Saberes para o Etnodesenvolvimento – Brasília – 2017.  O livro encontra-se à venda no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, por R$ 50 Reais.

Foto: Blog do Netuno

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