Maior problema ambiental brasileiro é a concentração de terras, diz ecologista
Um artigo publicado pela revista Nature Climate Changing, escrito por dez pesquisadores brasileiros, publicado no início do mês, aponta que o desmatamento no Brasil pode chegar a ter um impacto de R$ 2 trilhões para a economia.
A razão apontada pelos pesquisadores é de que o governo Michel Temer tem cedido demais às barganhas feitas por grupos ligados ao agronegócio no Congresso Nacional e as concessões feitas a esse segmento têm gerado retrocessos na legislação ambiental.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Mário Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, é duro ao criticar os privilégios que a chamada bancada ruralista consegue ter com o presidente Michel Temer.
“Nós estamos falando de 200 milhões de hectares no Brasil para a pecuária com apenas um boi para cada hectare, ou seja, tem mais espaço um boi hoje do que um cidadão do ‘Minha Casa, Minha vida’. A gente está vivendo hoje um processo muito ruim, de ocupação errada, que já comprometeu demais esse bioma da Amazônia e isso se agrava com o governo cedendo à chantagem desses grupos que estão ocupando essas terras para fins de especulação”, afirmou
A região da Mata Atlântica já foi reduzida a 8% da sua vegetação original, o Cerrado a 50%, a Amazônia está vivendo um processo semelhante e já perdeu 20% da sua área. Segundo Mário Mantovani, o chamado crédito agrícola, um fundo público criado para garantir a produtividade do agronegócio, está sendo usado para a especulação de terras na Amazônia e compra de agrotóxicos.
“O dinheiro ofertado para os pequenos proprietários não chega a R$ 10 bilhões. Menos do que é ofertado aos grandes proprietários para comprarem veneno. E esses pequenos proprietários, que tem menos de 20% da terra, que produzem toda a nossa alimentação. Essa pressão que vem sido feita por essa bancada irrigada com o nosso dinheiro porque o crédito agrícola é um dinheiro de toda a população brasileira e que deixa de ir pra saúde, habitação, transporte e segurança”, comentou.
Fonte: Sputnik Brasil
Foto de Capa: BBC.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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