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Racismo e Preconceito: Crônica de um passeio pelo século XVII

A fim de textão? Aqui vai a crônica de um passeio pelo século XVII

Esperando um amiga na hidroginástica, por acaso fiquei passeando pelo Facebook e acabei lendo esse comentário: melhor votar nesse cidadão X “ético e honesto” que num presidiário …

Na hora me veio a analogia que passo a compartilhar.

Essa gente que hoje nos causa espanto por votar nessa criatura assustadora é a mesminha do Brasil colonial que adorava ter escravo, serviçal, ser banhado e carregado por outros, mimados por seres que eles firmemente acreditavam ser de segunda linha, de segunda categoria, que não tinham raízes, não sentiam dor, que podiam ser chicoteados até morrer. Que por tudo e por nada mereciam ser presos no tronco. Uma gente que não precisava ser batizada porque não tinha alma e nem parte com Deus. Gente desavantajada de nascença, que havia nascido mesmo para naturalmente servir aos brancos, conforme suas tranquilas consciências os faziam crer.

Branco que, paradoxalmente, era gente sujeita de todos os direitos e regalias.

O tronco para essa gente era o lugar da escória, da punição. Lugar que determina quem manda e lugar do desprovido de prestígio.

Todo mundo sabe que nunca foi comum em terras tupiniquins ver um senhor da corte preso…. afinal eles eram finos, estudados e ricos. Talvez isso explique a blindagem de alguns hoje.

Sabe, acredito que, no fundo, essa gente até hoje curta raiva profunda pelos abolicionistas ( e quilombolas) que meteram o bedelho onde não deviam e os condenaram a ter que pagar por serviços…

Malditos abolicionistas!
Não fora eles, estariam todos aí nos engenhos urbanos fazendo de tudo e de graça, botando tudo na mão dessa gente “de bem”, “de família”, rica, branca e de origem europeia.

Porque pensam assim aceitam fácil que juízes tenham auxílios para tudo, que filhos de militares tenham pensões altas, que a elite tenha acesso às melhores escolas, que políticos de renome roubem, trafiquem, estuprem, matem, ameacem de matar… tudo o que quiserem fazer, afinal esse grupo faz parte dos que eles sempre consideram seres de primeira linha. VIP. Gente que tem nome, raiz e quase sempre usa terno e perfume caro. Gente avantajada pela vida. Seguramente as igrejas os chamam de “gente próspera”.

Por todo esse apreço à riqueza e à “boa índole” eles fazem reverência aos atuais senhores de escravos, agora travestidos de banqueiros, de ruralistas, industriais, proprietários de grandes comércios, outros endinheirados…aquele tipo que vende a alma e a mãe em nome do lucro, mas que cheira bem, anda de carrão e tem discurso de moralista e de bom moço.

É lamentável, mas essa gente que usa a palavra presidiário para denegrir alguém jamais entenderá que dentro das terríveis celas brasileiras – muito piores que os troncos em céu aberto – há gente injustiçada, há inocentes à espera de julgamento, há muita gente de bem, inclusive gente de melhor caráter que muitos engravatados que arrotam poder e santidade.

Mirando desde ângulo ficou mais fácil entender o ódio que nutrem pelos “comunistas” de hoje. Na verdade, eles os consideram resquício dos abolicionistas, os fedelhos atuais que querem que o povo de segunda linha ande de avião, viaje, tenha emprego, férias, casa, renda e dignidade, que se sinta gente, que viva sua vida como quiser, casado com quem quiser, de igual pra igual com os senhorezinhos.

Até consigo ler nos olhos deles:

Malditos comunistas. Aí de novo vêm vocês para mexer no que estava quieto, nesse senhorio tão cômodo, tão confortável e tão seletivo para essa parcela meritoriamente avantajada da sociedade.

Tudo seria tão mais fácil se vocês não existissem… tão mais ordenado se não ficassem falando nesse tal de direitos humanos, trabalhistas…

Mas amigos, depois dessa viagem toda, ri sozinha, curti um prazer danado de imaginar que se eu tivesse nascido no século XVI ou XVII, bem provavelmente teria sido uma baixinha abolicionista e rebelde.
Seguramente me divertiria muito em desnudar a hipocrisia daquelas famílias tão “ricas em moral e bons costumes” e tão podres na vida privada.
As mesmas de hoje.

Foto: Arquivo Nacional

ANOTE AÍ:

Texto publicado por Najla em sua página no Facebook:

Najla Educadora
Racismo e Preconceito é uma adição da Xapuri ao excelente título e textos de Najla.
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