Contexto atual do setor elétrico coloca em risco planos de descarbonização do Brasil
Uso de termoelétricas aumentou 200% nos últimos 20 anos, mostra estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente divulgado nesta quinta-feira (18).
Por Cristiane Prizibisczki/ O Eco
A geração de energia termelétrica no Brasil sofreu uma queda expressiva no último ano, com consequente redução de gases de efeito estufa lançados na atmosfera. Tal redução, no entanto, foi pontual. Nos últimos vinte anos, o uso desta fonte poluidora aumentou 200%, mostra o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), no “3º Inventário de emissões atmosféricas em usinas termelétricas”, divulgado nesta quinta-feira (18).
No ano passado, as 72 termelétricas fósseis – gás natural, carvão mineral, óleo combustível e óleo diesel – conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) geraram 31,1 TWh, contra 95,7 TWh em 2021, o que representou uma queda de 67%.
Segundo o IEMA, essa redução é reflexo de um período de condições climáticas favoráveis à geração hidrelétrica, além do crescimento de outras fontes renováveis, como eólica e solar.
Ao olhar a tendência das últimas décadas, no entanto, nota-se um aumento consistente no uso de termoeletricidade fóssil. Em 2000, essa categoria gerou 30,6 TWh de energia, passando para 91,8 TWh em 2020. A elevação no uso também gerou aumento de 113% nas emissões de gases de efeito estufa do setor elétrico.
De acordo com o estudo, é preciso ainda olhar para o futuro a médio e longo prazo, pois leis federais já aprovadas têm o potencial de aumentar ainda mais a participação de fontes poluidoras no sistema elétrico.
Entre essas normas, estão a Lei Federal nº 14.182/2021, que prevê a instalação de 8.000 MW em termelétricas a gás nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil entre 2026 e 2030, e a Lei Federal 14.299/2022, que postergou os subsídios e a vida útil de usinas a carvão mineral até 2040.
Além disso, 2022 foi o ano em que as usinas a combustíveis fósseis vencedoras do Procedimento Simplificado de Contratação, leilão criado em caráter de emergência como tentativa de resposta à crise hídrica de 2021, entraram em operação, mesmo com cenário favorável à geração hidrelétrica.
“O contexto atual do setor elétrico apresenta riscos para seus planos de descarbonização rumo a uma matriz 100% renovável, bem como para a melhoria da qualidade do ar no país”, diz o estudo.
Cristiane Prizibisczki – Jornalista. Fonte: O Eco. Foto: PAC/Flickr.