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Coronavírus: O SUS tem como prevenir?

Coronavírus: O SUS tem como prevenir?

O Sistema de Saúde brasileiro está em condições de prevenir uma epidemia como o Coronavírus?

O Brasil e o mundo estão atentos a um novo tipo de vírus que está atingindo os humanos pela primeira vez. A transmissão entre pessoas está rápida, a OMS já decretou de emergência mundial, e a China tomou medidas extremas como isolar a província de Wuhan, onde o vírus foi inicialmente identificado, proibir o funcionamento de todos os cinemas, cassinos e ambientes fechados do país.

A Hyundai acaba de fechar as fábricas de carros na Coréia do Sul. Sem as partes fabricadas na China, não é possível montar carros. Nas duas últimas décadas, três novos coronavírus apareceram: o SARS, em 2002; o MERS em 2012; e, agora, o que está sendo chamado especificamente de nCoV. Antes do SARS, os coronavírus eram mais conhecidos por provocarem gripes comuns, afetando grupos mais vulneráveis, mas sem consequências sérias.

Os coronavírus são todos vírus zoonóticos, ou seja, foram transmitidos aos seres humanos por animais. As informações preliminares indicam que pode ter vindo de . Atualmente, cerca de três  em cada quatro novas são zoonóticas.

Há uma fragilidade na maior interação dos humanos com os animais, decorrentes de concentração maior de pessoas em grandes centros urbanos, degradação ambiental, assim como globalização acentuada e mudanças climáticas. Estão sendo alterados os habitats naturais dos animais, seus estilos de , especialmente como se alimentam. Nos grandes centros urbanos, os animais se alimentam essencialmente de restos de alimentos. Em alguns casos, os humanos se retroalimentam de animais caçados.

Quanto mais alteramos o ambiente natural, maior a probabilidade de mudanças nos ecossistemas que facilitam a emergência de novas doenças. No caso do Brasil, a pouca resposta às na , a diminuição significativa do orçamento para fiscalização ambiental  e outras  medidas socioambientais recentes contribuem para o quadro, que também é exacerbado pela mudança dos hábitos alimentares.

Nossa demanda por carne está aumentando a nível mundial, e a produção animal está se expandindo à medida que diferentes partes do mundo enriquecem e desenvolvem o gosto por uma dieta rica em carne.

“Esta tendência provoca uma contínua ruptura do metabolismo social e do metabolismo existente na

relação entre o mundo social e o natural. (…) Os limites

naturais estão sendo superados dramaticamente, colocando em risco tanto a vida humana como qualquer forma de vida na Terra. Registramos um acelerado crescimento das migrações forçadas, provocadas pela combinação entre , crise econômica e conflitos políticos. (…) O elemento fundamental para alcançar este objetivo é uma autêntica democratização do poder. Isso exige participação e controle social a partir das bases sociais no campo e na cidade, nos bairros e nas comunidades.” Alberto Acosta, O Bem Viver.

Essas pandemias têm consequências econômicas e para a saúde mundial importantes. As empresas farmacêuticas inicialmente têm pouco incentivo para investir em medicamentos  e vacinas,  pois  o retorno econômico tende a ser menor do que o investimento. No entanto, considerando o conjunto de coronavírus e a probabilidade de que uma nova variação atinja os humanos, há um incentivo para os governos intervirem.

A China, desde o surgimento do nCov, tem investido em obras de básico, e a velocidade da construção é surpreendente. Em oito dias, foi construído um novo hospital específico para os pacientes infectados em Wuhan. O Vietnã também está construindo hospitais emergencialmente. No Brasil, temos as PECs 187 e 188 que propõem o fim da vinculação de recursos financeiros para a saúde e a , propostas de desvalorização do serviço público com o fim da estabilidade, por exemplo.

Só quem pode responder à possível chegada do coronavírus no Brasil é o SUS. Temos a vantagem da centralidade e capilaridade do SUS para lidar com emergências médicas: 46 hospitais do país já estão preparados para lidar com a possível chegada do coronavírus; houve o estabelecimento de medidas de contenção para casos confirmados; o Ministério da Saúde já fez um comunicado para a rede de saúde com a padronização para a identificação de casos suspeitos; estabeleceu-se um centro de operações de emergência, monitorando a situação na China e acompanhando os casos suspeitos no Brasil. O Centro analisa os dados da OMS, China e demais países.

No entanto, as mudanças do financiamento do SUS desde o último ano afetam diretamente a capacidade de resposta, uma vez que a emergência se instale. Há menos receitas e mais podendo pagar por um plano de saúde.

Um gargalo conhecido do SUS hoje é a quantidade de leitos na UTI, o que também afeta a capacidade de resposta. No Distrito Federal, o Governo já autorizou os enfermeiros a prescreverem receitas, o que é um desrespeito aos direitos estabelecidos.

Vale ressaltar a importância das áreas de vigilância sanitária e controle epidemiológico – a prevenção ainda é o melhor tratamento, e muito mais eficaz e barato do que somente pensar no atendimento, que é o único que os planos de saúde são capazes de fazer. A resposta do Brasil ao vírus da ZIKA e sua relação com as crianças micro encefálicas foi extremamente eficaz e trouxe respostas para todos os países do mundo. Admirável. Temos hoje uma estrutura de vigilância estruturada, eficiente e respeitada.

Quanto a brasileiros/as na China, inicialmente o Governo Federal disse que não faria esforços para retirar essas pessoas da região isolada de Wuhan. Entretanto, após manifestação de quarenta brasileiros, foi enviada uma Medida Provisória para o Congresso Nacional estabelecendo a situação de emergência sanitária, o que facilitaria a retirada de brasileiros/as da China, pois criaria  a situação de quarentena.

Ademais, o Governo Federal também reconheceu o caso de emergência pública para a doença, o nível 2, o que também facilita a  retirada  dos  brasileiros  e  brasileiras.  É a primeira vez que tal nível é estabelecido sem nenhum caso confirmado da doença.

Novas tecnologias têm sido usadas para a iminência da nova epidemia. A análise de mídias sociais pode ajudar a identificar como os vírus se espalharam inicialmente. Outro benefício foi o uso das plataformas para os trocarem informações e coordenarem esforços. Eles estão usando o Twitter para chuva de ideias e para apoiarem uns aos outros com informações necessárias.

Os dados até o fechamento deste artigo eram de 20,4 mil casos do novo vírus, que tinha acarretado 426 mortes. O Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) é a referência em nível nacional para o diagnóstico de vírus respiratórios e está diretamente envolvido na resposta brasileira. Mais uma organização pública que também está ameaçada pelas mudanças propostas na legislação para a resposta pública à saúde e à educação.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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