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“Correios!” Onde é que foi parar o meu presente?

“Correios!” Onde é que foi parar o meu presente?
Por: Padre Joacir S. D´Abadia –
De baixo da minha cama não tinha nada. Não encontrei os trilhos e nem mesmo os rastros de animais próximos à minha casa. Imagina só! Eu esperava apenas um presente.  Surpreende-me  descobrir que meu presente foi entregue a outra pessoa. Seria possível esta desventura? Uma decepção se instaurou em minha vida.
Nem mesmo o bom velhinho foi capaz de fazer seu dever de casa completo. Será que foi apenas troca de endereço ou foi corrompido no caminho para presentear outra pessoa? Como nestes dias não se pode confiar em muita gente, eu não tive pra fazer muita coisa sem a minha lembrança.
Fui buscar justificativas para não ter recebido a tão aguardada visita do bom velhinho com um maravilhoso presente. Não demorei para chegar nas primeiras pistas. Deveras essas me dar respostas convincentes.
Tudo iniciou quando eu era ainda um moleque e andava contando os meus sonhos aos amigos que ia fazendo pela caminhada da minha vida. A um eu dizia: “quero ser grande”.  Não tinha certeza de que para crescer se precisava alimentar bem, fazer exercícios e ter vida saudável;  sorrir sempre, se alegrar com os desencantos. Gostar de fazer tudo que se precisava no dia a dia era simples, bastava, no entanto, de mim mesmo. Assim fui tentando crescer.
A outro eu ensinava: “pra ser grande amanhã, hoje se necessita ser pequeno”. As pessoas olhavam para mim e dizia que eu já era pequeno. Contavam histórias que me deixava ainda menor.  Todos tinham uma falácia contundente: “você vai crescer no momento oportuno”. Estas palavras eram como se me dissesse: “deixe de buscar o ‘grande'”. Eu não desistia de ouvir estas pessoas que traziam dentro de si as pequenas realizações.
A um outro, por fim, eu, sem rodeios lhe falei com tanta propriedade, com a  certeza de ser eu mesmo quem estava destilando aquelas solitárias palavras, as quais tinham um significado especial, eram ditadas a partir de um coração sedento, o qual não teve vexame em promunciar: “quero ser eu mesmo”.  Logo um ranzinza tomou a iniciativa de me persuadir a respeito dos seus ditos “valores familiares”; eram, contudo, lindos para a ao passo que não vi nenhum brilhantismo.
Foi só uma questão que tempo para eu esquecer o que se pronunciara. Tanto que nem mesmo rancoroso fiquei. Não valeria a pena guardar comigo maus tratos de pessoas indecisas na vida. Ou melhor, eu estava sendo eu mesmo!
Então agora eu pude aprender uma lição de vida, e, se quiserem pode tomar como exemplo para você também. Aprendi que não se pode contar os nossos sonhos para ninguém. Nós nunca seremos capazes de mostrar às pessoas que os sonhos mudam? Eu queria apenas ser grande, ensinar a grandeza de um pequeno homem e ser eu mesmo. Faço votos de que aquele que tenha ficado com meus presentes façam bom uso deles pois a mim está muito caro esta troca de endereço: estou sem minha grandeza, não tenho como ser mestre e, pela infelicidade de um endereço trocado, não estou podendo ser eu mesmo.
Para minha , enquanto eu pensava e já me contentava sem nenhum presente, eu escutei uma voz que não parecia ser chamamento, tampouco um ensinamento, era, todavia, um grito afirmativo: “Correios!”. Era meu presente, por fim. Na carta que não tinha nem data e nem a assinatura do remetente estava escrito:
“Uma sangrenta razão para ser falso tudo que se intenta positivar é permitir que a verdade seja tudo e, tão somente, o que é: aquilo que é e que de outro modo não seria. Uma ação inverídica não se suplanta de veracidade quando se lha diz ser verdade.  O dito, cujo intento seja a falsificação dos fatos, não se sustenta sorrateiramente em suas arguições de palavras, antes o produto é muito menos da fala do que foi dito. É sangrento o dito falso. Porque se diz violentando, primeirante a consciência de quem está dizendo e, em seguida, viola a verdade.  Um sangue capaz de criar rios de discórdias que vão para um mar de incertezas. Contudo, a linha reta entre a verdade e o seu contrário é mais curta que as curvas propostas pela falsidade ideológica do que se diz ser verossímil”.
ANOTE AÍ:
Joacir %C3%B3culos
Padre Joacir d’Abadia, Pároco de Alto Paraíso-GO
_________________________________________
Filósofo, Escritor, articulista, Especialista em Docência do Ensino Superior.
Autor do mais recente livro: “A Incógnita de Cully Woskhin” (Palavra e Prece, 2018)
WhatsApp: 015 61 9 9931-5433
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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