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Curiosos Remédios Populares do Nordeste

O folclorista pernambucano Mário Souto Maior faleceu em 2001. Nascido em 1920, chupou dedo, caçou passarinho com baladeira, furtou goiabas e cajus, brincou de Lampião, tomou leite ao pé da vaca e comeu muito nambu assado. Virou doutor estudando em Recife, cargos de pompa e elegância, mas foi quando descobriu o e reencontrou seus tempos de menino que encontrou seu lugar.  Foram então diversos livros sobre o tema que há alguns anos estão disponíveis gratuitamente na página www.soutomaior.eti.br. A seleção abaixo é parte de um capítulo do livro Folclore, etc. e tal, de 1995.

Remédios populares segundo Mário Souto Maior:

AMEBA   Tomar, durante 30 dias, em jejum, um copo de água fria com três gotas de creolina.

ASMA  1) Tomar chá feito com enxerto-de-passarinho. 2) Fumar um cigarro feito com folhas secas de zabumba. 3) Comer testículos de porco assados e servidos com sal. 4) Tomar fel de boi misturado com um pouco de cachaça. 5) Tomar chá feito com chocalho da cobra cascavel. 6) Tomar chá feito do olho que tem na pena do pavão.

AZIA –  Beber um copo d’água no qual foram colocadas três pitadas de cinza fria.

BICHO-DO-PÉ –  Depois de retirado o bicho-do-pé, com o auxílio de um alfinete, encher a cavidade com sarro de cachimbo.

CALO – Quando o sapato é novo, o calo é sempre uma certeza: 1) Colocar sobre o calo cera-de-ouvido. 2)Pingar no calo leite de avelós.

CATAPORA – Para a catapora acabar de sair ou sair ainda mais depressa, nada como tomar chá feito com o cabelo-de-milho sem açúcar.

CACHUMBA Aplica-se, no local, um emplastro feito com o lodo do pote de carregar água da cacimba.

CHULÉ – É bom lavar os pés com a urina de uma .

DEDO, PÉ ou BRAÇO DESMENTIDOS – Dar uma surra no lugar afetado com um saquinho de sal grosso.

DESMAIO –  1) Passar, dentro do começo do nariz da pessoa desmaiada, uma pena de galinha até a pessoa voltar a si. 2) Soprar nos ouvidos e bater na sola dos pés até a pessoa tornar, voltar a si.

DOENÇA-DOS-OLHOS – 1) Pingar, no olho doente, algumas gotas de leite materno. 2) Banhar os olhos com a água onde se pôs uma rosa branca.

DOR-DE-BARRIGA –  1) Tomar chá feito com a moela da galinha, crua. 2) Comer uma banana prata verdosa. 3) Comer um pedaço de macaxeira branca, crua.

DOR-DE-CABEÇA Colocar, sobre a testa, uma mistura feita com pó de café e manteiga.

DOR-DE-DENTE – 1) Introduzir na cárie, se couber, uma cabeça de fósforo. 2) Encher a cárie com o pó feito do chocalho da cobra cascavel. 3) Encher a cárie com sarro de cachimbo.

DOR-DE-GARGANTA – Comer tanajura torrada, se for de tanajura.

DOR-DE-OUVIDO – Botar, no ouvido que estiver doendo, três gotas de leite materno.

ENJOO-DE-GRAVIDEZ – Comer um pombo bem assado, sem sal.

ENJOO-DE-VIAGEM-DE-AUTOMÓVEL –  1) Colocar uma castanha de caju no bolso, se for homem, ou na bolsa, se for . 2) Mascar uma cabeça de fósforo.

ERISIPELA Amarrar, no tornozelo, uma fita vermelha.

FURÚNCULO – Para o furúnculo estourar, por si só, nada como colocar no olho da cabeça-de-prego, um emplastro feito com o couro do bacalhau, cru.

GALO-NA-CABEÇA – Quando se leva uma pancada na cabeça e aparece um galo nada como fazer, sobre ele, forte pressão com a folha de uma faca fria.

HEMORRAGIA – Colocar, no local da hemorragia externa, para parar o sangue, um chumaço de algodão embebido em verniz de carpinteiro.

HEMORRAGIA NASAL – Molhar a cabeça em água fria e ficar olhando para o céu durante cinco minutos.

HEMORROIDAS – 1) Sentar num pedaço de tronco de bananeira recém-cortado. 2) Colocar uma pele de fumo no anus. 3) Colocar compressas de querosene.

HIDROCELE ou ÁGUA-NAS-PARTES – Ferver a água necessária para quase encher uma bacia de tamanho médio em que se tenha colocado uma caixa de charutos vazia, para que o doente se acocore e possa tomar banho do vapor.

IMPINGEM – 1) É bom cobrir a impingem com tinta de escrever. 2) Esfregar a impingem com tinta de escrever. 3) Esfregar a impingem com pólvora de caçador.

IMPOTÊNCIA SEXUAL – 1)Tomar chá de catuaba. 2) Comer testículos de boi, assados. 3) Tomar sopa de mocotó-de-boi.

INDIGESTÃO – Chá feito com a pele que envolve a moela de uma galinha, crua.

JÁ-COMEÇA ou COCEIRA – Tomar banho com o cozimento de maxixes, sem comê-los.

LOMBRIGA – Comer coco seco raspado, em jejum até aborrecer.

MAL-DOS-SETE-COUROS – Passar, no local, sebo de carne-do-ceará, bem quente.

MIJAR-NA-CAMA – Nada com dar umas lapadas na criança com um muçum vivo.

MORDIDA-DE-COBRA – Tomar meia garrafa de querosene e comer um prato de farofa com bacalhau assado na brasa.

MULHER MANINHA – Para que a mulher venha a ter filhos: 1) Tomar água antes de ter relações sexuais. 2) Dar ao marido, todo dia, no almoço, carne de carneiro preto, com um copo de vinho.

PANOS BRANCOS – Lavar o rosto ou a parte afetada pelos panos brancos, com água de chuva caída na hora.

PRISÃO-DE-VENTRE –  Tomar chá de cupim.

QUEDA-DE-CABELO – Pentear os cabelos com um pente feito de chumbo.

SOLUÇO – Pregar um susto à pessoa que estiver com soluço.

TERÇOL – 1) Engolir nove caroços de limão durante três dias seguidos. 2) Esfregar, no chão, a semente de olho-de-boi e depois colocá-la sobre o olho onde está localizado o terçol.

TRIPA-DE-FORA – (Prolapso do reto). Sentar a pessoa acometida do mal em um pedaço de tronco de bananeira cortado na hora.

UMBIGO-CRESCIDO-DE-RECÉM-NASCIDO – Chá de cabelo-de-milho.

URINA PRESA – 1) Fazer um chá do talo do jerimum, seco e torrado. 2) Chá de alpiste.

VERRUGA – Colocar sobre a verruga um pouco de mênstruo.

ANOTE AÍ: 

Este texto sobre remédios populares foi originalmente publicado no blog Colecionador de Sacis que tem ótimas matérias sobre o . O blog tem o mesmo nome de um curta metragem, dirigido por Andriolli Costa, autor desta matéria, a quem agradecemos por nos permitir compartilhar aqui o seu .

Foto de remédios populares: Wikimedia Commons

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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