“Forte gosto foi o de ontem à noite que nós tivemos” – Carta do Imperador Pedro I à amante Domitila de Castro Canto e Melo em 1826, ano em que Domitila ganhou do Imperador o título de Marquesa de Santos. Os dois tiveram um romance polêmico e conturbado, que começou quando se conheceram em 1822, pouco antes da Independência, sendo ela casada e tendo ela 24 anos de idade. Entre altos e baixos, o romance durou até o segundo casamento do Imperador, com Amélia de Leuchtenberg, em 1829. O Imperador assinava suas cartas para Domitila como “Fogo Foguinho”.
Meu bem
Forte gosto foi o de ontem à noite que nós tivemos. Ainda me parece que estou na obra. Que prazer!! Que consolação!!! Que alegria foi a nossa!!!! Vim conversando com a propritetária quando de lá saí e ela me disse que mecê me disse que tinha a moléstia de Lázaro. Eu lhe disse que tinha muita pena, ela me disse que mecê lhe tinha dito e que ela também tinha pena, mas que muita gente tinha a tal moléstia. Eu respondi: “ou tenha ou não, cá pra mim […] não me importa, porque não tenho tratos com ela.” Eu assento que isso foi para ver o que lhe correspondia, e nunca me apanha nem há de apanhar descalço. O melhor é que eu, quando sair de dia, nunca lhe vá falar para que ela não desconie do nosso “santo amor”, e mesmo quando for para essa banda ir pelo outro caminho, e em casa nunca lhe falar em mecê, e sim em outra qualquer madama, para que ela desconfie de outra e nós vivamos tranquilos, à sombra do nosso saboroso amor. Tenho o prazer de lhe ofertar essas rosas e essas duas trocazes, que comeremos à noite. Aceite os mais puros e sinceros votos de amor do C.
Deste seu
amante constante
e verdadeiro e que se
derrete de gosto quando… com mecê,
O Fogo Foguinho
P.S.
Esta letra
parece estar
boa, mas mecê dirá à noite
Fotos: Acervo Histórico Museu Nacional, disponíveis na Internet.