Daniela Mercury

Daniela Mercury: “Qualquer maneira de amar vale a pena”

Desde Brasília, o jornalista Rodrigo Couto viajou à Bahia para entrevistar a cantora Daniela Mercury, estrela engajada do mundo das artes brasileiro. Veja a entrevista:

RC – Mesmo já sendo uma artista conhecida e respeitada, você floresceu em 1992, durante o impeachment do presidente Collor. Coincidentemente, no ano passado, a gente teve o impeachment da presidenta Dilma, e você também está aí com novos trabalhos, novas propostas. Você sente que tá florescendo de novo? O está descobrindo a Daniela Mercury de novo?

Na , eu sempre tive esse discurso mais politizado, mais profundo. Se você vir todas as minhas entrevistas, eu desde menina escolhi uma … por isso que eu digo que o meu axé é muito MPB, eu quando cantava em barzinhos, eu já cantava um repertório político.

RC – De onde nasceu esse engajamento?

Eu fui educada pelo pensamento dos artistas, pelo pensamento livre contra a censura. Fui educada por Chico Buarque, por Caetano Veloso, por Gilberto Gil, pelos tropicalistas todos, pelos mineiros – “Qualquer maneira de amar vale a pena, qualquer maneira de vale amar” –, foi essa turma que fez a minha cabeça desde menina, eu sou artista desde muito pequena.

RC – Então é dessa “educação” que vem a sua militância?

É esse discurso que eu trago de lá pra cá que, talvez, num determinado momento, na época do impeachment, ficasse mais desejado pelo público, a alegria, a afirmação de Brasil. Não se entendia muito o que era o meu discurso de empoderamento negro, mas tava todo mundo precisando da brasilidade do de volta, e é por isso que eu digo que o axé devolveu o samba aos pés do Brasil, especificamente o sucesso do “Canto da Cidade”.

RC – E agora, Daniela?

Agora, depois de 30 anos de , a gente volta a ter um momento político difícil, um contexto econômico de recessão, e aí as pessoas param de novo pra pensar sobre o que é que tá bom neste país, o que não está. E aí o meu discurso, que sempre foi esse, volta a ser importante. Discurso de afirmação feminina, nordestina, negra e, depois que me casei com Malu, ainda incorporei esta luta contra a homofobia, que é natural porque é de todos nós, todas as lutas são nossas, já eram minhas antes – sou embaixadora do UNICEF há mais de 20 anos e agora embaixadora da igualdade pela ONU também na luta contra a homofobia.

Rodrigo Couto – Jornalista. Âncora do Programa 100 Roteiro


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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