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Do medo e da coragem, um conto para o Dia do Soldado

Do medo e da coragem, um conto para o Dia do Soldado

Excerto do diário do general Carlos Minímov, admirador do marechal Mikhail Kutuzov, e especialista nas velhas táticas do recuo dialético ofensivo (*).
Por Antônio Carlos Queiroz (ACQ) 
O medo é natural, instintivo, inevitável, sendo o irmão siamês da esperança. Eu sinto medo, às vezes até pânico, e quanto maior é o meu temor mais admiro a coragem e a disposição dos lutadores para o sacrifício.
Sei por minha longa experiência na caserna que os homens intrépidos, vocacionados ao martírio, se estrepam em proporção muito mais alta do que os tímidos e acanhados. Coisa de dez por um. Por isso faço o que posso, e mesmo o que não posso, para animar, incentivar, estimular ao máximo os sacrifícios… nas fileiras do inimigo. Quanto mais entusiasmo e fanatismo entre eles, mais baixas do lado de lá.
Doravante, cada homem além das nossas trincheiras, que vier a se exceder na bravura, fará jus a um presente nosso, confeccionado na marmoraria que a minha divisão acaba de instalar com parte do ralo orçamento que nos coube: uma lápide ou urna cinerária, ou pelo menos uma coroa de flores de plástico com a inscrição em letras douradas: “Aqui jaz um homem de bem, patriota indômito. Saudades.”
O Alto Comando aprovou a minha proposta com o voto de Minerva do comandante.
Estou muito orgulhoso de meus soldados. Eles me admiram como herói. Pelos meus cálculos, venceremos a guerra a tempo de passar o Natal em casa.
Infelizmente, não temos recursos para cunhar medalhas para a tropa. Para compensar, vamos distribuir fitinhas de São Jorge Guerreiro e sortear na noite do bingo 100 vales-peru, 100 vales-cidra, 200 cachecóis e 200 Pikachus de pelúcia entre a rapaziada.
Eu acabo de receber um zap da minha mãe com as bênçãos e os parabéns por nossa tremenda vitória na Batalha do Sovaco da Cobra.
Ela achou sensacional a ideia do tenente Yuri Trêtov de espalhar miguelitos e bolinhas de gude na estrada antes da chegada da cavalaria do general Bassuel Bragóvno.
Sentiu não estar aqui conosco para as comemorações com pratos da cozinha francesa. Eu lhe contei que estava delicioso o steak tartare, feito com as sobras da carnificina. Ela entendeu que o melhor tempero foi mesmo a nossa “fome cavalar”. Às vezes eu me preocupo com o humor da minha mãe!
No fim da mensagem ela me pediu para ler o versículo 34 de Mateus 6. Eu li: “Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o amanhã cuidará de si mesmo. A cada dia basta o seu próprio mal“.
Mães!
—————-
* O recuo dialético ofensivo, conforme ficou registrado no Corta Essa, a coluna de assuntos militares e similares (de _smile_) do antigo jornal Movimento, consiste na seguinte armadilha: você recua as suas tropas de maneira franca e decidida, em desabalada carreira, para que o inimigo pense tratar-se de uma fuga. O adversário avança então os seus pelotões, descartando as manobras que havia planejado cuidadosamente. Decide com temeridade aproveitar o que supõe ser uma oportunidade. Quanto mais você recua, em velocidade de dar inveja aos fãs do Lewis Hamilton, mais o inimigo avança sobre o seu território. Quando percebe, é tarde demais: as forças dele estarão irremediavelmente cercadas num _cul-de-sac_ napoleônico, enredadas pelo malicioso movimento em pinça do nosso exército!
Antônio Carlos Queiroz – Jornalista. Capa: Diário do Rio.


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