Economia de Francisco: pacto assinado pelo Papa e pelos jovens
Depois de anos de reflexão envolvendo jovens e economistas do mundo inteiro para refletirem sobre um tipo de economia que não mate vidas da natureza e vidas humanas, mas que coloque a VIDA em sua diversidade no centro, considerando especialmente os que menos vida têm, realizou-se em Assis em fins de setembro, o grande encontro com representantes vindos de todas as partes do mundo e com a presença do Papa Francisco. Ao final das trocas e discussões, formulou-se um pacto, “A Economia de Francisco” assinado pelo Pontífice e por uma representante de todos os presentes. Publicamos aqui o texto, inspirador, uma verdadeira alternativa ao sistema imperante perverso e ameaçador do futuro da vida no nosso planeta…
Por Leonardo Boff
“Nós, jovens economistas, empresários, transformadores, chamados aqui a Assis de todas as partes do mundo, conscientes da responsabilidade que pesa sobre nossa geração, nos comprometemos agora, individualmente e todos juntos, a engajar as nossas vidas para que a economia de hoje e de amanhã se torne uma Economia do Evangelho. Portanto:
- uma economia de paz e não de guerra,
- uma economia que se opõe à proliferação das armas, especialmente as mais destrutivas,
- uma economia que cuida da criação e não a depreda,
- uma economia a serviço da pessoa, da família e da vida, respeitando toda mulher, homem, criança, idoso e sobretudo os mais frágeis e vulneráveis,
- uma economia onde o cuidado substitui o descarte e a indiferença,
- uma economia que não deixa ninguém para trás, para construir uma sociedade em que as pedras descartadas pela mentalidade dominante se tornem pedras angulares,
- uma economia que reconheça e proteja o trabalho digno e seguro para todos, especialmente para as mulheres,
- uma economia onde a finança seja amiga e aliada da economia real e do trabalho e não contra eles,
- uma economia que saiba como valorizar e preservar as culturas e tradições dos povos, todas as espécies vivas e os recursos naturais da Terra,
- uma economia que combate a miséria em todas as suas formas, reduz as desigualdades e sabe dizer, junto com Jesus e Francisco, “bem-aventurados os pobres”,
- uma economia guiada pela ética da pessoa e aberta à transcendência,
- uma economia que cria riqueza para todos, que gera alegria e não apenas bem-estar, porque uma felicidade não compartilhada é muito pouco.
Nós acreditamos nesta economia. Não é uma utopia, porque já a estamos construindo. E alguns de nós, em manhãs particularmente luminosas, já vislumbramos o início da terra prometida.
Assis, 24 de setembro de 2022
http://xapuri.info/encontrado-fossil-dinossauro-penudo/
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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