A economia verde não equaciona duas grandes questões e nos coloca diante de um altíssimo risco. Ela não resolve a questão da desigualdade. A igualdade não é compatível com a manutenção do nível de consumo dos mais ricos. Um americano consome em média seis vezes mais que um indiano. A igualdade exige a imposição de limites, negados pelo atual sistema, que busca a acumulação e consumo ilimitados.
A pegada ecológica da Terra não aguenta mais. Se quiséssemos universalizar o nível de consumo dos países ricos, precisaríamos de três Terras iguais a esta. Encostamos já nos limites da Terra. Forçá-los faz com que ela reaja sob a forma de tufões, secas, enchentes, tsunamis e eventos extremos. Impõe-se uma redução do consumo e caminhar para uma sociedade condividida.
A “economia verde” pode representar também a perversa voracidade humana, especialmente das grandes corporações, de fazer negócios com o que há de mais sagrado na natureza, que são os bens comuns da Terra e da humanidade, cuja propriedade deve ser coletiva.
Entre eles se contam: a água, os aquíferos, os rios e os oceanos, a atmosfera, as sementes, os solos, as terras comunais, os parques naturais, as paisagens, as línguas, a ciência, a informação genética, os meios de comunicação, a internet, a saúde e a educação, entre outros. Como estão intimamente ligados à vida, não podem ser transformados em mercadoria pura e simples, e entrarem no circuito de compra e venda. A vida é sagrada e intocável.
Pôr preço nos bens e serviços que a natureza nos dá gratuitamente, privatizando-os com intenção de lucro, é a suprema insensatez de uma sociedade de mercado. Ela já havia operado a perversidade de passar de uma economia de mercado para uma sociedade de mercado.
Assim, por exemplo, procura-se ganhar não somente com a madeira da Amazônia, mas também vendendo sua capacidade de criar biodiversidade e umidade. Não se quer ganhar negociando apenas o mel da abelha, mas se quer lucrar com sua capacidade de polinização. Como tudo é feito “commodities” para o mercado, assim também os bens e serviços naturais são transformados em commodities. Esse tipo de economia verde é inaceitável.
Se essa tendência da “economia verde” triunfar, significará o último grande assalto dos humanos vorazes e biocidas sobre a natureza e a Terra. O caminho ao abismo seria irreversível. Então nem teremos filhos e netos para chorar o nosso trágico destino, porque eles também não existirão.