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Elizabeth Teixeira, 98, Heroína da Luta Camponesa no Brasil

Elizabeth Teixeira, 98, Heroína da Luta Camponesa no Brasil
 
A paraibana Elizabeth Teixeira, uma das mulheres mais importantes na história da luta camponesa do Brasil, completou 98 anos em 13 de fevereiro de 2023. Viva Elizabeth Teixeira!
 
Líder camponesa que, após o assassinato do seu companheiro João Pedro Teixeira, recusou o convite de Fidel Castro para viver em Cuba com seus filhos para dar continuidade à luta  pela Reforma Agrária.  Foi presa por várias vezes e, numa delas, retorna à casa para se deparar com a tragédia do suicídio da filha mais velha, que não suportou conviver com a possibilidade de a mãe ter o mesmo destino do pai.
 
Em 1964, com a instalação do regime Militar, Elizabeth é presa pelo Exército e passa oito meses na cadeia. Na volta, precisa fugir para não ser morta. Muda  de cidade e nome, com apenas um dos 11 filhos – Carlos, que é rejeitado pelo avô por se parecer muito com o pai. Passa 17 anos afastada da família, vivendo com a identidade de Marta Maria da Costa.
 
Permaneceu clandestina até 1981, quando foi encontrada pelo cineasta Eduardo Coutinho, que retomara as filmagens de seu documentário Cabra Marcado para Morrer. Foi morar em João Pessoa, numa casa que ganhou de Coutinho.
 
Nas suas palavras: “Enquanto houver a fome e a miséria atingindo a classe trabalhadora, tem que haver luta dos camponeses, dos operários, das mulheres, dos estudantes e de todos aqueles que são oprimidos e explorados. Não pode parar.”
 
Parabéns Elizabeth, que sua história seja sempre lembrada como símbolo vivo de resistência e luta do povo camponês.
 
 
Elizabeth Teixeira: Mulher marcada para viver

Elizabeth Teixeira nasceu em Sapé/PB, em 13 de fevereiro de 1925. Seu pai era fazendeiro, proprietário e comerciante na região. Frequentou escola mas não terminou o primário. Aprendeu bem a ler, escrever e dominar as quatro operações de matemáticas. Não continuou os estudos porque o pai a proibiu, dizendo que já sabia o suficiente. Saiu da escola para trabalhar na mercearia do pai. Como era muito boa em matemática, o pai lhe confiou a função de fazer as contas das mercadorias vendidas. Foi neste estabelecimento comercial que ela conheceu João Pedro Teixeira. Em entrevista à CPT Nordeste, Elizabeth contou que o pai era exigente, mas viviam bem até o momento em que João Pedro a pediu em casamento. “Meu pai não aceitou porque João Pedro era negro e operário pobre”, relembra.

Nesta época, João Pedro trabalhava em uma pedreira, perto da fazenda do pai de Elizabeth. “Tive que fugir e casar com 16 anos”, conta. O pai insistiu por diversas vezes para que se separasse de João Pedro, mas Elizabeth nunca aceitou as propostas e ofertas da família. Teve 11 filhos e um convívio feliz com João Pedro.

Quando estava grávida de seu segundo filho, Abrahão Teixeira, Elizabeth foi morar em Recife/PE. Na ocasião, João Pedro participava da luta da classe trabalhadora e ajudou na fundação do Sindicato dos Trabalhadores na Construção em Recife. Por conta da luta, os empresários não davam emprego a João Pedro. Com a família passando fome, tiveram que voltar para a Paraíba. Já no estado onde nasceu Elizabeth, a situação era a mesma: fome e miséria. João Pedro começava a questionar aquela situação e a entrar na luta dos camponeses. Foi de Engenho em Engenho para saber como faziam para sobreviver as famílias camponesas diante de tanta miséria e concentração de renda e terra. A partir daí, começa à luta das Ligas Camponesas.

João Pedro: odiado, perseguido, ameaçado e preso várias vezes por ordem dos latifundiários. Chegou a fugir várias vezes para Recife e até para o Rio de Janeiro, onde ficou escondido durante oito meses. Vivendo sozinha neste período, Elizabeth Teixeira conta que recebeu solidariedade dos companheiros da luta, que a ajudavam, não deixando faltar nada à família durante a ausência de João Pedro. Com o crescimento das Ligas, aumentaram as ameaças contra o líder camponês, que em 1962 foi brutalmente assassinado em uma emboscada preparada por pistoleiros. Foram três tiros, pelas costas.

 Elizabeth declarou, em entrevista à CPT, que em vida, João Pedro sempre falava para ela dar continuidade a luta pela Reforma Agrária. Depois da morte do marido, Elizabeth reuniu os militantes da Liga em uma grande Assembleia, com mais de dois mil camponeses e camponesas. Elizabeth relembra que na ocasião todas as mulheres dos companheiros das Ligas compareceram à Assembleia e falaram em uma só voz: “Elizabeth, estamos com você no seguimento à luta de João Pedro!”. Ela assumiu, então, a liderança das Ligas e a partir daí sofreu diversos atentados de morte. Havia até quem lhe oferecesse dinheiro para abandonar a luta, mas ela continuou firme, junto às famílias camponesas na luta pela Reforma Agrária.

 “Um dia após o golpe tentaram incendiar minha casa, mas não me encontraram, porque estava em Galiléia, cidade de Vitória, a 58 km de Recife. Quando soube do fato, fugi para dentro das matas e no dia seguinte, conseguimos chegar até Recife. Depois, cheguei a João Pessoa, procurei notícias dos meus filhos e acabei sendo presa. Passei três meses e 24 dias na prisão, no Agrupamento de Engenharia”, relembra. Quando foi solta, fugiu com o filho mais novo, Carlos, para a cidade de São Rafael, interior do Rio Grande do Norte, onde viveu por 16 anos com o nome de Marta Maria da Costa. Os outros filhos ficaram espalhados.

 Na vida clandestina, lavou roupa de ganho, ficou doente por conta da água poluída do rio, passou fome. Sem poder trabalhar lavando roupa, vivia de pequenas ajudas, comida doada pelos pobres do local. Um dia percebeu que as crianças da cidade de São Rafael viviam pelas ruas, sem escola, sem ensino nenhum, e aí falou com as mães que podia ensinar as crianças em troca de comida para ela e o filho Carlos.

 As mães aceitaram, uma cedeu uma cadeira, outra emprestou a sala da sua casa, que logo se transformou em sala de aula. Assim, Elizabeth começou a ensinar às crianças a ler, escrever e contar. Na temporada que passou em São Rafael, a líder camponesa sempre falava com as pessoas sobre a situação de pobreza e a falta da Reforma Agrária.

Chegava até a conversar com o Presidente do Sindicato Rural de São Rafael sobre a situação do povo do campo, mas ninguém sabia que ela era a viúva de João Pedro. Foi no ano de 1981 que aconteceu o encontro entre ela e o cineasta Eduardo Coutinho, que a encontrou com a ajuda de seu filho, Abrahão (que na ocasião já trabalhava como jornalista em Patos/PB), após uma longa peregrinação. Ela abandonou a vida clandestina, assumiu seu verdadeiro nome e voltou para João Pessoa onde vive até os dias atuais.

 Retornar à João Pessoa após a clandestinidade lhe dava uma primeira tarefa: reencontrar seus outros filhos que estavam espalhados entre Paraíba, Recife, Rio de Janeiro e Cuba. Uma de suas filhas suicidou-se, na ocasião de sua prisão, outros dois filhos foram assassinados. Na cena final do filme sobre a vida de João Pedro, “Cabra marcado para morrer”, de Eduardo Coutinho, Elizabeth dizia: “(…) a luta não para. Enquanto houver a fome e a miséria atingindo a classe trabalhadora, tem que haver luta dos camponeses, dos operários, das mulheres, dos estudantes e de todos aqueles que são oprimidos e explorados.”

Em Sapé, cidade natal de Elizabeth, o povo do campo costuma dizer que ela é a Mulher marcada pra viver. Em novembro de 2011, quando conversou com a CPT, Elizabeth declarou: “Tanto sofrimento, tantas desgraças na minha família… e o sonho de João Pedro? A Reforma Agrária ainda não implantada em nosso País?

Eu prometi para João Pedro: marcharei em tua luta. Em 02 de abril serão os 50 anos do assassinato de João Pedro. Tem vezes que fico meditando: meu Deus, o que fiz de errado? Cadê a Reforma Agrária? Não vou ver o sonho da terra partilhada? A luta não pode parar enquanto a Reforma Agrária não for implantada. Esta missão fica para os jovens, outras gerações que terão de lutar pela Reforma Agrária”.

 
 
Texto-resumo de autoria desconhecida, enviado por Marconi Burum.
Texto “Mulher marcada para viver” da CPT Nordeste II: https://www.cptne2.org.br/index.php/mulheres-camponesas/3256-elizabeth-teixeira-mulher-marcada-para-viver
Foto interna: Brasil de Fato. Foto de Capa: MST. 
 
 
 
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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!


 

 

 
 
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