Encantou-se Dona Izabel Cristina

Encantou-se Dona Izabel Cristina, Mestra da Gentileza

Encantou-se Dona Izabel Cristina, Mestra da Gentileza

Formosa, essa nossa terra do bem-querer, acordou hoje sem a sua grande mestra da gentileza. Izabel Cristina de Souza Ortiz, Dona Izabel, Dona Bela, Dona Belinha,  a amiga-companheira-profe-mãe-vó ternura de várias gerações de formosenses, embarcou nas asas da quimera, rumo dos jardins dos céus.

Por Zezé Weiss

Sobre a partida de nossa Flor, fala por muitos e muitas de nós o poeta Antonio Victor:

“Minha velha Formosa hoje amanheceu menor. Mais pobre. Menos guerreira e menos combativa. Perdemos Izabel Cristina, a verdadeira operária da cultura formosense, a que nunca olhou para o tamanho dos seus braços antes de abraçar as mais sofridas causas da sua comunidade, do seu imenso povo, do seu corrido tempo.

A irmã do maravilhoso poeta José Décio Filho, a irmã do indefectível bispo dom Tomás Balduíno teve luz própria e construiu sua vida no campo da batalha justa com muito caráter, muita integridade, muita transparência, muita ousadia e muita solidez.

Encantou-se Dona Izabel Cristina

Dona Izabel católica, dona Izabel crente na vida, dona Izabel filósofa e professora. Dona Izabel do Estadual, professora de Português e Literatura nos tempos áureos do Colégio Estadual Hugo Lobo de Formosa.

Foi ela, naquela casa de ensino, que me pegou pedra bruta e tentou burilar-me com o cinzel do seu conhecimento, da sua experiência, da sua lucidez e da sua generosidade.

Se mais não fui, não foi por culpa dela, mas tentei seguir-lhe os passos e, até onde pude ir, fui na certeza de estar com um anjo guardião munido de muita sabedoria.

Izabel deixa escola, Izabel deixa exemplo, Izabel deixa saudade. Izabel é dessas meninas que a gente imagina ‘chegando no céu’ e recebendo abraço de autoridades celestiais. Corre, São Pedro, vai depressa avisar a Jesus que Belinha chegou.

Izabel Cristina de Souza Ortiz. A grande mulher que deixa suas pegadas na calçada do saber, a grande guerreira que venceu dragões invisíveis, a alma iluminada que reluziu entre nós.

Toma o seu troféu, Belinha. Você é vencedora e combateu o bom combate. Vai me fazer muita falta aquela a quem, amorosamente, eu beijava as mãos e, cheio de gratidão e respeito, chamava carinhosamente de minha princesa Isabel!”

Dona Bela e Dona Sinhá by Lenita Lobo

É isso. Assim era a nossa Bela, a militante da casa branca de janelas azuis e jardins sempre floridos do Setor Ferroviário. A companheira do muito ouvir, do muito  ponderar, do muito aconselhar, mas também do muito mover, do muito agir, do muito atuar … e, ao final das infindáveis prosas,  da mesa posta com seus  deliciosamente indescritíveis pães-de-queijo.

Beijo saudoso procê, Bela flor de nossas vidas.  Boa viagem, Companheira.

Paz e Bem!

https://xapuri.info/umbanda-e-candomble-conhecer-e-o-caminho-para-o-fim-do-preconceito/

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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