Encantou-se Dona Dijé, mulher negra, quebradeira de coco

Encantou-se Dona Dijé, mulher negra, quebradeira de coco

“Eu sou mulher, mulher negra, quebradeira de coco. Eu sou várias!”

Na madrugada de hoje, faleceu um símbolo para a luta das negras e dos povos e comunidades tradicionais. Maria de Bringelo, Dona Dijé, se despediu de toda gente que acompanhou seu percurso pelas diversas liberdades.

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No entanto, Dijé lutou tanto em vida e fez por tantas vidas que não se vai por completo. De olhar firme, fala suave e mãos com histórias, ela estará sempre presente nos modos de vida das quebradeiras, na e na sabedoria das mulheres que darão continuidade à narrativa que ela ajudou a escrever pela defesa de direitos e dos territórios tradicionais. Seu protagonismo político e social fica entre nós, germinando em cada nova guerreira que ouse lutar para ser várias.
Um homenagem do ISPN a Dona Dijé e às várias mulheres nela representadas.
Dona Dijé, presente!

O primeiro impacto foi o da descrença. Depois veio a não aceitação. Agora e para sempre o sentimento é de Gratidão. Gratidão pela oportunidade de convivência nos últimos 13 anos. Gratidão por ter me ensinado tanto, compartilhado e partilhado, me corrigido, me acolhido, me transformado tanto. Gratidão pela sua existência, minha Mestra Dona Dijé. Minha querida e amada.

Sempre achei que Dona Dijé era uma alma velha e encantada. Agora encantou de vez. Continue nos emanando e que seus encantos nos iluminem na nossa caminhada.
Seguiremos buscando honrar seus passos.
Dona Dijé presente sempre!
Katia Favilla, da Rede Cerrado
 
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Morre Dona Dijé, liderança histórica das comunidades tradicionais do Brasil

Quilombola e quebradeira de coco babaçu teve um infarto fulminante três dias após tomar posse como conselheira nacional em Brasília

Fonte: oglobo

Morreu na madrugada desta sexta-feira, aos 70 anos, Maria de Jesus Ferreira Bringelo, a Dona Dijé, liderança histórica da luta dos negros, mulheres e no . Ela morreu no mesmo rincão do Maranhão onde nasceu, vitimada por um infarto, apenas três dias depois de ter sua luta reconhecida oficialmente ao ser empossada como conselheira dos povos e comunidades tradicionais em Brasília. A morte de Dona Dijé ocorreu no dia que marca os seis meses da execução, ainda sem resposta, de outra liderança no campo dos direitos humanos, a vereadora carioca Marielle Franco.

Fundadora do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu — grupo formado por mulheres extrativistas do Maranhão, Tocantins, Pará e Piauí — , Dijé lutava, ao lado de outras lideranças, pela regulamentação do Conselho Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais, que representa mais de cinco milhões de brasileiros, entre indígenas, quilombolas, ciganos, seringueiros, extrativistas e outras dezenas de grupos.

Instituído por decreto em maio de 2016, o órgão só foi empossado pelo governo federal, sob a batuta do Ministério dos Direitos Humanos, na última terça-feira, dia 11 de setembro, após grande mobilização dos segmentos rurais. A ferramenta tem a função de implementar a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades Tradicionais, criada em 2007 e considerada fundamental para o combate à violência e à violação de direitos das comunidades tradicionais do país.

— A gente sonhou tanto tempo com este momento e hoje agradeço por estar acordada vivendo este grande dia — disse Dona Dijé, emocionada, na ocasião da posse. Ela começou a passar mal ainda em Brasília e pediu para voltar para casa, no Quilombo de Monte Alegre, município de São , interior do Maranhão — espaço de moradia e luta de quilombolas e quebradoras de coco desde o século XIX.

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Dona Dijé, de manto verde, no dia que foi empossada conselheira nacional, em Brasília – Divulgação

No início do mês de julho, Dona Dijé foi anfitriã, em seu território, de um encontro de líderes de povos e comunidades de todo o Brasil. O GLOBO acompanhou, por quatro dias, a partilha de dores e lutas que se deu por meio de cantos, danças e depoimentos emocionados. A líder maranhense recebia com um sorriso e abraço cada um dos convidados — que ficaram abrigados em um barracão, construído em poucos dias pela comunidade.

Entre outras mulheres de fibra na linha de frente dos enfrentamentos rurais, Dijé era modelo para todas. Com discurso suave e firme, permeado pelas experiências duras que viveu desde a , ela construiu uma liderança acolhedora e feminista. Com 6 anos, foi morar “na casa de brancos” para poder ir à escola e, por lá, trabalhar nas tarefas domésticas. Aos 15, voltou para a comunidade dos pais, onde começou a quebrar coco, casou e descasou mais de uma vez, e cuidou de cinco filhos com o na roça.

Na década de 70, Dona Dijé iniciou a luta também pela sobrevivência de sua comunidade. Em 1979, nove dias depois de ter um filho, sua casa foi queimada pela polícia, a mando da e de fazendeiros, e eles tiveram que ir morar no meio da . “Não foi apenas a opressão, foi a humilhação. Nós até ouvimos um fazendeiro dizer que cem pessoas negras (não) valem uma única vaca. Nós estávamos lá resistindo porque a pior coisa que nos aconteceria seria sermos enviados para as margens da cidade. Nós não estaríamos em lugar algum. Então enfrentamos muita opressão, enfrentamos muita humilhação, mas ficamos lá porque sabíamos que, se não, seria ainda pior. E ouvir o fazendeiro dizer isso significa para nós que o negócio da pecuária é muito mais valorizado que a vida humana”, relatou, em entrevista ao “Huffington Post”, em 2016.

À época, além da lida pra alimentar os filhos, decidiu tomar a dianteira do movimento quilombola. Daí em diante, sua vida foi de luta e militância pelo direito ao acesso livre à terra. Em 1990, fundou com outras mulheres o movimento de quebradeiras de coco. Em seguida, aliou-se a outros grupos de povos e comunidades tradicionais que lutam pelo direito ao território e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa e econômica.

— Queremos nosso território livre para nascer, viver, germinar, parir e morrer —, disse ela, em julho, com os pés descalços sobre o chão do seu quilombo.

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Foto: O  Globo
 
Nós, da Revista Xapuri  nos somamos ao ISPN, à Rede Cerrado, às quebradeiras de coco e suas comunidades, à família, amizades, companheiros e companheiras de vida e de luta de dona Maria de Jesus Bringelo, a dona Dijé, que parte dos espaços físicos deste nosso mundo para virar semente de esperança nos jardins do céu. Paz e Bem!

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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