Extração ilegal de madeira cresce em áreas ainda não destinadas do Pará
Exploração madeireira ilegal representou 46% do total registrado em solo paraense como um todo. Números são do Simex e foram divulgados nesta sexta-feira (27).
Por Cristiane Prizibisczki/O Eco
Entre agosto de 2021 e julho de 2022, cerca de 38 mil hectares de florestas no Pará sofreram extração de madeira, sendo que 46% desse total – 17,8 mil hectares – aconteceu de forma ilegal. Muito desta exploração está localizada em áreas ainda não destinadas no estado, mostra um estudo lançado nesta sexta-feira (27) pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Nesses territórios ainda sem destino foram mapeados 1.711 hectares com a atividade ilegal, um aumento de 86% em relação ao período anterior – agosto de 2020 a julho de 2021 –, quando foram identificados 919 hectares de exploração não autorizada.
“Isso nos mostra a urgência da destinação das terras públicas para a conservação, como prioriza a lei”, diz Dalton Cardoso, pesquisador do Imazon.
Os números são do Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), realizado por quatro instituições de pesquisa ambiental: Imazon, Idesam, Imaflora e ICV.
Exploração ilegal com CPF
O Simex identificou que, do total explorado ilegalmente, 74,6% (13,3 mil hectares) ocorreu dentro de imóveis cadastrados. Isto é, em áreas onde os responsáveis podem ser facilmente identificados e punidos pelo dano ambiental.
Em relação ao total, a exploração ilegal em áreas não destinadas, citadas acima, representou 9,5%. As áreas protegidas concentraram 5,8% – sendo 5,3% nas terras indígenas e 0,5% nas unidades de conservação. Os vazios cartográficos registraram 5,4% do total e os assentamentos, 4,5%.
Em relação aos municípios, os três que tiveram as maiores áreas com a atividade não autorizada foram: Paragominas, com 4.167 hectares (23%); Dom Eliseu, com 2.741 hectares (15%); e Goianésia do Pará, com 1.696. (9%).
“A extração de madeira sem as boas práticas de manejo causa graves danos ambientais, ameaça a vida dos povos e comunidades tradicionais que têm suas terras invadidas e prejudica a economia do estado, pois não gera empregos e impostos”, explica o pesquisador do Imazon.
Áreas protegidas
O sistema de monitoramento do Imazon mostrou que houve redução da exploração em áreas protegidas no período analisado. Nas terras indígenas, a extração madeireira passou de 1.720 hectares entre 2020/2021 para 951 hectares entre 2021/2022, uma queda de 45%.
Já nas unidades de conservação, a área explorada sem autorização passou de 126 hectares no período anterior para 96 hectares no calendário seguinte, 24% a menos.
Os territórios protegidos mais atingidos no último monitoramento foram a terra indígena Amanayé, no município de Goianésia do Pará, com 933 hectares; o Parque Nacional do Jamanxim, em Itaituba e em Trairão, com 96 hectares; e a terra indígena Sarauá, em Ipixuna do Pará, com 23 hectares.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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