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“Flamengo até morrer”: Que esta parte do hino não seja o destino de futuros craques em nenhum outro Ninho do Urubu

Flamengo até morrer

Por: NÊGGO TOM/ 247 

Cantor e compositor. É pobre, detesta doença e mais ainda camarão

O Flamengo é o responsável pelas dos seis meninos e dos quatro funcionários? A meu ver, sim. Assim como a Vale e o governo são responsáveis pelas mortes em Mariana e Brumadinho. O maior clube do Brasil, que atravessa no atual momento a melhor fase financeira de sua , não pode abrigar em suas dependências, crianças e adolescentes, a maioria delas vindas de outros estados, e não oferecer a elas uma boa estrutura de acomodação e total segurança em suas instalações.

Esse garotos tinham um grande futuro pela frente, por isso foram selecionados e tirados de suas casas e de suas famílias, e trazidos para o Rio de Janeiro. Esses, e milhares de outros jovens que têm o sonho de ser jogador de futebol, carregam consigo uma , que não é apenas deles, mas, de toda a família. A de mudar de vida. Se a oportunidade é boa para eles, para o clube, que pode faturar milhões com a venda de um jogador de futebol ainda jovem, também é muito boa. Vinícius Júnior, uma das principais revelações da base rubro-negra nos últimos anos, é um exemplo disso.

Infelizmente, temos a mania de remediar, ao invés de prevenir. Tenho certeza de que após esse trágico acontecimento, todos os clubes do Brasil estarão revendo as condições de suas instalações. Por que não fazer isso antes? Por que esses garotos não poderiam estar instalados em melhores condições? Para que ter um centro de treinamentos que hoje é uma referência, e está entre os melhores da América do Sul, e alojar os garotos da base num “puxadinho” que estava prestes a ser desativado?

Estou vendo muita gente da imprensa, dizendo que não é hora de buscar culpados por essa tragédia no CT do Flamengo. A questão não é buscar culpados. A obrigação é punir responsáveis. E eles existem. Não tentem passar pano, só porque é o Flamengo. Meu clube de coração, por sinal. Em pouco , ninguém estará falando mais disso, o estádio estará cheio, a torcida festejando mais uma vitória e o clube continuará faturando milhões na venda de outros garotos, como estes que morreram hoje. Já a dor dor desses pais, será eterna.

Erguer bandeira a meio mastro, decretar luto oficial, fazer um minuto de silêncio e outros rapapés, que não passam de meras formalidades, não ameniza a dor dessas famílias e nem diminui a indignação de quem tem empatia pela dor outro. Tem que punir o clube, por não oferecer uma melhor estrutura para crianças e adolescentes, que deixaram suas famílias e confiaram na segurança que o clube ofereceria a eles. As barragens que romperam em Mariana e Brumadinho, foi por negligência, imprudência, descaso, falta de manutenção adequada, falta de fiscalização. E esse incêndio, também foi motivado por algum desses mesmos motivos. Ou por todos eles.

O clube dará toda a assistência necessária, às famílias das vítimas. Que tipo de assistência será capaz de devolver a vida desses meninos? Vidas não tem preço. Essas famílias nunca mais serão as mesmas. Esses pais nunca mais terão a mesma alegria. Chega algumas informações, dando conta de que não havia laudo para liberação do local onde os garotos estavam alojados. Isto, não podemos afirmar, porque ainda não houve perícia técnica. Mas, caso se confirme essa informação, tem que punir o clube para que isso não se repita com outros garotos no futuro.

Uma vez Flamengo, sempre Flamengo. E assim sempre há de ser. Pelo menos, para a maior torcida do Brasil. Mas, o desgosto é tão profundo, que dá até vontade de contrariar o hino, e dizer que seria melhor se faltasse o Flamengo no mundo nesse momento. Assim, esses garotos poderiam estar vivos. Que Deus conforte o coração dos pais e de todos os familiares das vítimas. Que as autoridades tomem as devidas providências, e passe a fiscalizar com rigor as condições as quais outros jovens estão expostos em outros clubes. E que o Clube de Regatas do Flamengo aprenda com esse episódio e não obrigue mais os seus futuros craques, a levarem a ferro e a parte do hino que diz: “Flamengo até morrer”.

Meus sentimentos!

Meninos Flamengo El Pa%C3%ADs

 

ANOTE:

NÊGGO TOM Cantor e compositor. É pobre, detesta doença e mais ainda camarão.

Fonte https://www.brasil247.com/pt/colunistas/neggotom/383315/Flamengo-at%C3%A9-morrer.htm

Fotos: Metrópoles (capa), El País (interna).

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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