Força Nacional é chamada para atuar em “guerra do dendê” no Pará
Conflitos territoriais entre indígenas, quilombolas e empresa produtora de óleo se agravaram nos últimos dias no nordeste do estado. Flávio Dino precisa autorizar envio de tropas.
O acirramento dos conflitos por terra no nordeste do Pará fizeram o Ministério Público Federal (MPF) solicitar ao Ministério da Justiça o envio de tropas da Força Nacional de Segurança para municípios do nordeste do estado, onde os casos recentes de ataques contra indígenas e quilombolas foram intensificados.
A recomendação do MPF foi feita nesta terça-feira (15) e o ministro Flávio Dino tem até 48 horas, a contar do recebimento do documento, para dar a resposta.
No dia 4 de agosto, o indígena Kauã Tembé foi alvejado por tiro no momento em que ele e a comunidade estavam na ocupação da Aldeia Bananal, zona rural do município de Tomé-Açu.
Poucos dias depois, em 7 de agosto, na mesma cidade, houve outro ataque contra a vida dos indígenas Felipe Tembé, Daiane Tembé e Eliane Tembé, também alvejados por tiro, durante os preparativos para o recebimento da visita do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH).
Em 14 de maio deste ano, o cacique da aldeia indígena Turé-Mariquita foi vítima de tentativa de homicídio no momento em que retornava para a aldeia.
Vídeo: Amazônia Real
Segundo o MPF, a intensificação dos conflitos territoriais são decorrentes do avanço da monocultura de cultivo do dendê no nordeste do Pará. “A insegurança na região teve início com a instalação e operação da empresa Biopalma, no ano de 2008, posteriormente sucedida pelo grupo BBF, maior produtor de óleo de palma da América Latina”, diz o Ministério Público, em nota.
Além da insegurança vivida pelos grupos indígenas, a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) apresentou denúncia ao MPF, em 16 de fevereiro de 2022, relatando a prática de ações de violação de direitos humanos contra famílias quilombolas do território do Alto Rio Acará.
Segundo o MPF, a atuação da BBF é cercada por “ilegalidades”, como a não exigência, pelo Estado do Pará, de estudo de impacto ambiental e de estudo de impacto aos indígenas.
Povos indígenas e quilombolas da região também apresentaram denúncia ao MPF relatando que o grupo BBF mantém fazendas de dendezais que estão em área de sobreposição às Terras Indígenas Turé-Mariquita.
Além disso, os denunciantes narram sucessivos episódios de uso ostensivo de força e ameaças com armas de fogo por funcionários responsáveis pelo exercício da segurança privada da empresa, bem como por agentes policiais de segurança pública na localidade.
Os conflitos entre povos tradicionais e empreendimentos nessa região do estado são conhecidos como a “guerra do dendê”.
Cristiane Prizibisczki – Jornalista. Fonte: O Eco. Foto: BBF.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!
Muito obrigada por nos ler, companheiro!
Parabéns pelo texto da bela retrospectiva da revista.
Exemplo inspirador dos passos para a realização de um sonho coletivo.
Abs