Zequinha do Pinduca, o emboscador de tropeiros
Antes da construção de Brasília, final da década de 50 e início dos anos 60, os meios de transportes rodoviários e ferroviários praticamente não existiam no centro-oeste brasileiro.
Por Altair Sales Barbosa
O pouco de malha rodoviária ligava apenas alguns pontos considerados politicamente importantes, e a rede ferroviária menos ainda, qual cascavel solitária, serpenteava de um ponto a outro, alimentando entre os dois, pequenos povoados ou simplesmente estações.
Porém isso ocorria nos centros mais desenvolvidos. Nos chamados sertões de dentro a comunicação era extremamente precária, mas nem por isso deixava de existir. Contribuía para esta situação a inexistência de infraestrutura viária, incluindo a inexistência de pontes, onde a fartura de água nos rios era um obstáculo.
Apesar de tudo, a comunicação e o comércio existiam entre os povoados, vilas e pequenas cidades, que se constituíam em polos com várias denominações locais.
A trilha, para quem vinha da Bahia em direção a Formosa, em Goiás, e vice-versa, conduzia obrigatoriamente em direção a um sinistro e temido local denominado Serra do Pinduca. Este nome se originou porque no local existia um próspero, valente e temido proprietário conhecido pelo nome Zequinha do Pinduca.
Sua propriedade era local obrigatório de parada e pouso dos tropeiros. Não tinha outra opção, mesmo que se estudassem outras possibilidades de trajeto, era como se fosse um funil em direção a Formosa.
Contam os antigos que Zequinha de Pinduca tinha a fama de acolher bem os tropeiros, oferecia a estes pouso gratuito, alguma comida e redes para dormirem. Porém, durante a noite, quando os tropeiros descansavam e estavam desprevenidos, seus capangas os atacavam, matavam todos e juntavam o gado com o gado de Zequinha.
Dessa forma, Zequinha do Pinduca foi construindo sua pequena fortuna. Dizem que várias caravanas de tropeiros foram desmanteladas da mesma forma.
Como a comunicação era difícil, a notícia não se espalhava rapidamente, por isso a situação se repetia. Mesmo os tropeiros avisados eram presas de emboscadas dos capangas de Zequinha do Pinduca. Alguns conseguiram sobreviver para contar a história, outros não tiveram a mesma sorte.
Contam que, em certa ocasião, um vaqueiro oriundo do povoado do Mocambo, situado na Bahia, sobrevivente de uma das emboscadas, organizou uma caravana de tropeiros em direção a Formosa, cidade de intenso comércio, conhecida à época como Formosa dos Couros, em função do comércio deste produto.
Só que os tropeiros que integravam tal caravana, na sua maioria, eram jagunços treinados, dos coronéis do Vale do São Francisco. E assim, o vaqueiro do Mocambo organizou a caravana. Ao chegar à Serra do Pinduca, os tropeiros da dita caravana foram logo bem acolhidos pelo pessoal do Sr. Zequinha.
Organizaram o acampamento no local previamente cedido, armaram as redes, jantaram e se portavam como se nada acontecesse. Mais tarde, após alguma rodada de prosa fingiram que iriam dormir.
Esperaram pacientemente os jagunços de Zequinha do Pinduca, fingirem que também iriam para seus locais dormir. Aproveitaram a distração destes e numa manobra rápida, saíram das redes e colocaram nestas toras de madeira e ficaram na espreita.
Algum tempo depois, chegam sorrateiramente os jagunços de Zequinha, todos empunhando afiados facões. Simultaneamente desferem golpes mortais sobre as redes. Neste momento, os disfarçados tropeiros aparecem armados de cravinote e chumbeira e desferem tiros certeiros nos jagunços de Zequinha da Pinduca.
Zequinha conseguiu fugir, nunca mais foi visto.
Após o acontecimento a trilha para Formosa ficou livre. Entretanto, pouco tempo depois, já começou o movimento para a construção de Brasília e a função de tropeiro foi paulatinamente desaparecendo na região.
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p style=”text-align: justify;”>Contam que Zequinha do Pinduca veio a falecer na década de 1970 no município de Formosa e que morreu como um desconhecido. No seu velório compareceram apenas duas pessoas.