Fotos históricas do MST vetadas na mostra do MASP

Fotos históricas do MST vetadas na mostra do MASP ilustram financiado coletivamente

Publicação traz fotos e documentos históricos do MST e do Núcleo Retomadas que fizeram parte da exposição Histórias Brasileiras vetada pelo MASP…

Por Ninja Fotos

Faltando um dia para terminar a campanha de arrecadação para a publicação do livro “Retomadas: o ”, mais de 60% da meta foi alcançada. A publicação traz fotos e documentos históricos do Movimento dos Rurais Sem Terra (MST), de André Vilaron, do acervo João Zinclar e de Edgar Kanaykõ do Núcleo Retomadas, integrante da exposição Histórias Brasileiras.

A publicação pretende tornar visível toda a trajetória empenhada a partir do veto do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP). A exposição teve o veto anulado e ficou em cartaz até este último dia 30 de outubro. A realização é das curadoras do Núcleo, Sandra Benites e Clarissa Diniz.

A publicação, que será feita pela editora Expressão Popular, vinculada ao MST, se soma a uma série de iniciativas que dão amplitude aos ecos que não foram abafados pela institucionalidade, e acabaram aprofundando o debate da arte e sobre o engajamento que se traz com ela.

Para contribuir com a realização da publicação do livro, basta acessar o site do Catarse (https://bit.ly/3Ul5wNo) e escolher uma modalidade de contribuição, que inclui recompensas como obras de arte, artigos do MST, e inclusive o próprio livro após a edição finalizada, prevista para 2023.

Retomadas: o debate continua

Questionada sobre a relação entre os vetos e as reflexões sobre o trabalho da curadoria nas artes – em contraponto ao que se vislumbra enquanto um trabalho glamouroso na esfera artística – Clarissa afirmou que “a institucionalidade da arte é violenta”.

Diniz ainda afirma que diante das interdições impostas pelo MASP, “recuar era não perpetuar essa violência”; mencionando que o papel da curadoria é também “atribuição de sentido do que a arte pode fazer, arte como território, arte enquanto alianças de sentidos coletivos, sociais”.

Para a curadora Sandra Benites, o que esteve em jogo sobre o retrato das Histórias Brasileiras – tema central da exposição no Masp, sobre o marco dos 200 anos da Independência do – “não é só a do passado, mas do . A Juruá [branca], não indígena não entende isso, principalmente as instituições”.

Sobre a resistência aos vetos, Sandra menciona que foi preciso ter coragem. “A gente vem combatendo esse silenciamento, enquanto racializado, como , indígena. Me vi enquanto uma mulher silenciada e isso levou a gente a tomar coragem, não sabíamos que isso iria dar repercussão. Como eu já venho de , eu carrego esse corpo coletivo, e fui pela maioria, enquanto indígena”.

Com informações do MST

 

Foto capa: Foto de Andre Vilaron faz parte da exposição Retomadas do MST. Foto: Divulgação/Andre Vilaron

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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