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Gaia: a Terra, superorganismo vivo

Gaia: a Terra, superorganismo vivo

Uma das constatações mais surpreendentes da nova cosmologia e do novo paradigma é o novo olhar sobre a Terra, tema recorrente em nossas reflexões…

Por Leonardo Boff

Superou-se a ideia pobre que se fazia dela como um composto de partes altas, continentes e terra firme e partes líquidas como rios, mares e oceanos. Nem se percebia que era habitada por seres vivos, gente, animais e plantas.

Mas, a partir dos anos 1970 do século passado, graças à austronáutica (a visão dos astronautas que de fora, da lua e de suas naves espaciais, viam a unidade entre a Terra e a humanidade) e às ciências da vida, os cientistas se deram conta de que a Terra é bem outra coisa.

Como diz belamente a Carta da Terra, “a Terra, nosso lar, é viva e com uma comunidade de vida única”. Essa ideia ganhou tanto consenso que entrou nos manuais de ecologia mais recentes.

Primeiramente, ela foi proposta pelo geoquímico russo W. Vernadsky por volta de 1920 e gozou de quase nenhum reconhecimento. Mais tarde foi retomada, nos anos 1970, com mais profundidade por J. Lovelock, médico e bioquímico que trabalhava nos projetos espaciais da NASA.

Foi ele quem cunhou o nome de Gaia, a deusa da mitologia grega que representava a Terra como geradora de todos os seres vivos. Entre nós, foi enriquecida por J. Lutzenberger, exímio ecólogo brasileiro que escreveu um apaixonado livro: “Gaia: o planeta vivo” (1990).

Comparando a Terra com dois planetas vizinhos, Marte e Vênus, ficou claro que a Terra comparece como um gigantesco superorganismo que se autorregula e que combina o físico, o químico e o ecológico de forma tão sutil e perfeita que sempre produz e reproduz vida, fazendo com que todos os seres se interconectem e cooperem entre si.

Na visão de Lovelock: “definimos a Terra como Gaia porque se apresenta como uma entidade complexa que abrange a biosfera, a atmosfera, os oceanos e o solo; na sua totalidade, esses elementos constituem um sistema de realimentação que procura um meio físico e químico ótimo para a vida no planeta” (Gaia, 1989).

Lovelock assinalou que a própria biosfera, essa fina camada como o fio de uma navalha que circunda a Terra, é uma criação da própria vida. Em diálogo com as energias do Universo, da Terra, e com as interações com os demais organismos vivos, os seres vivos criaram para si um habitat favorável para a manutenção das condições relativamente constantes de todos os elementos que propiciam a vida.

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

 
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